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Dinheiro

O outro lado da moeda

A moeda não é apenas um símbolo econômico; pode também contar parte da história que não foi registrada em nenhum livro

Estas moedas, conhecidas como didracmas de prata, foram cunhadas na Itália, em Neapolis, no ano 317 a.C. |
Estas moedas, conhecidas como didracmas de prata, foram cunhadas na Itália, em Neapolis, no ano 317 a.C. (Foto: )
Famoso tetradracma de prata de Atenas, feito na Grécia, entre 449 e 440 a.C. |

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Famoso tetradracma de prata de Atenas, feito na Grécia, entre 449 e 440 a.C.

Moeda romana do século 2º a.C., com uma mulher e um homem, supostamente um prisioneiro |

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Moeda romana do século 2º a.C., com uma mulher e um homem, supostamente um prisioneiro

Dois dracmas de prata confeccionados entre 530 e 500 a.C., na Itália, em Poseidonia |

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Dois dracmas de prata confeccionados entre 530 e 500 a.C., na Itália, em Poseidonia

Efígie do imperador brasileiro Dom Pedro II, circundada pela inscrição

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Efígie do imperador brasileiro Dom Pedro II, circundada pela inscrição

Talvez hoje ninguém tivesse conhecimento de que algum dia existiu um monarca chamado Diodoto, do trono selêucida, ou alguns imperadores dos reinos Elimais e Persis, no atual Ir㠖 se não fosse pelas moedas cunhadas naquela época e que sobreviveram até os nossos dias. Elas são a única prova documental de que eles existiram: estes reis emitiram moedas com legendas que permitiram aos pesquisadores, muitos anos depois, descobrir uma parte da História até então desconhecida.

Para entender quem foi Diodoto, é preciso voltar ao reino de Alexandre, o Grande. Ele conquistou a Bactria (no atual Afeganistão), que se tornou província do seu império e, depois, do império selêucida, fundado por Seleucos, um dos generais de Alexandre. Em meados do séc. 3º antes de Cristo, o "governador" da província, Diodoto, rebelou-se contra os selêucidas e declarou-se rei: ele e vários sucessores emitiram moedas até o século 1º antes de Cristo. "Elas são a única informação histórica que se tem de alguns desses reis. As moedas têm seu nome escrito em grego e foram encontradas na região", explica o professor de Economia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) Luiz Aranha Corrêa do Lago.

Nos reinos de Elimais e de Persis, localizados no Irã de hoje e que existiram nos dois primeiros séculos da era cristã, alguns monarcas, dependentes do império sassânida, também só chegaram a ser conhecidos graças às suas moedas. "Como elas são a única fonte histórica, a cronologia dos vários reinos é incerta", lembra o professor. Lago é curador da exposição Numismática, do Museu Histórico Nacional do Rio de Janeiro: lá estão expostas mais de 100 mil moedas, das quais pelo menos 2,6 mil se destacam pela importância histórica.

A praxe de estampar nas moedas o rosto do rei dava credibilidade ao dinheiro da época. Além de monarcas desconhecidos, as moedas também trazem figuras que foram consideradas grandes personalidades do mundo, como Cleópatra, Gêngis Khan, o rei Luís XIV da França, a rainha Vitória (do Reino Unido) e, no século 20, o primeiro-ministro britânico Winston Churchill. "Estas figuras são usadas para facilitar a identificação de quem tinha emitido a moeda. Normalmente aparecem rostos de reis e, do outro lado, armas heráldicas", diz Lago.

Na Antiguidade, quando foram emitidas as primeiras moedas do mundo, as figuras escolhidas para ilustrá-las normalmente retratavam as características do país. "No caso de Atenas, há uma coruja; a moeda de Corinto tem um pégaso (cavalo alado); em uma ilha chamada Egina, era a tartaruga. São símbolos que distinguiam os Estados menores e independentes. Era também uma forma de eles conseguirem autoafirmação pela própria moeda", explica Lago. O rosto de Atena, deusa da razão, está em uma das moedas da coleção grega e é uma prova de que muitos dos aspectos reproduzidos na cunhagem das moedas deste período também estão ligados à mitologia e aos deuses.

O controle das primeiras emissões de moeda no mundo era feito pelo governo imperial. Depois, na Idade Média, houve um período de grande dispersão da emissão da moeda porque os senhores feudais se deram o luxo de emiti-las sem respeitar as prerrogativas monárquicas, que eram fracas. "Na volta do absolutismo e na consolidação dos Estados nacionais, o poder de emissão voltou ao governo central. Isso ganha força a partir do século 15 e 16 e se mantém até hoje", explica Lago.

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