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Estudantes ligados à Cru Brasil colocam cartaz em campus da USP com convite para encontros com temática cristã abertos à comunidade universitária
Estudantes ligados à Cru Brasil colocam cartaz em campus da USP com convite para encontros com temática cristã abertos à comunidade universitária| Foto: Reprodução / Cru Brasil

A intolerância religiosa é um problema crônico presente em grande parte das universidades do Brasil, tanto públicas quanto privadas. Nesses locais, em que pautas chamadas "progressistas" são bastante estimuladas por professores e grupos estudantis, os cristãos costumam sofrer preconceitos diversos e, em alguns casos, bullying por conta de sua fé. A Gazeta do Povo entrevistou estudantes e líderes de movimentos cristãos que relataram que a intensa polarização política tem aumentado a oposição ao cristianismo nas universidades.

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Alguns movimentos ligados a igrejas cristãs buscam estar presentes nas instituições de ensino superior por meio da organização de grupos que se reúnem nos horários de intervalo, antes ou depois das aulas. Um deles é a Rede Universitária, que tem como objetivo unir diversos grupos cristãos que já existem dentro das faculdades. Segundo o líder da organização, Pedro Mantovan, a Rede Universitária está presente em 20 campi.

Ele relatou que é comum a ocorrência de diversos tipos de preconceito contra cristãos no ambiente universitário. “Alguns pensam que são todos de 'extrema-direita', fascistas, homofóbicos, machistas e por aí vai. Mas há um tempo o que estava em pauta era que éramos burros, iletrados, sem recursos, e que nossos pastores eram ladrões”.

Ele afirma que a polarização política entre direita e esquerda intensificou a ideia de que todos os cristãos têm um viés de direita. “Mas a verdade é que os cristãos são perseguidos desde sempre”, diz Mantovan.

Apesar de as universidades terem como pretensão ser um local plural para discussões e com abertura a diversos pensamentos, ideias com viés de esquerda prevalecem nas universidades e as outras formas de pensar acabam sendo rechaçadas. A reportagem entrevistou quatro estudantes – que não quiseram se identificar com receio de sofrerem perseguições nas instituições de ensino – que relataram os preconceitos sofridos.

Um aluno que cursa Educação Física em uma universidade pública contou que, no primeiro semestre do curso, ele e um colega iniciaram uma célula, pequeno grupo que se reúne para orar e fazer estudos bíblicos com os estudantes. Contudo, uma docente substituta começou a perseguir o grupo. “Essa mesma professora tentou fechar nossa célula. Foi até o diretor do curso e disse que nós não devíamos ficar depois da aula tocando violão. Por um mês conseguiram barrar a gente, mas falamos com o reitor e conseguimos voltar”.

O estudante conta que em uma das aulas a docente chegou a ameaçar reprovar ele e o colega por conta de suas manifestações de fé. “Ela colocava assuntos na sala para questionar e debater. Eu e meu colega sempre éramos contrários aos pensamentos dela. Mas quem era contra a opinião dela, ela descontava nota ou tentava prejudicar de alguma maneira”, relata.

Uma estudante de pós-graduação na área de Agronomia de uma universidade pública contou que uma colega de classe chegou a dizer, em sala de aula, que “todas as pessoas que defendem o sistema de família judaico-cristã têm que morrer”. A fala a levou a reclamar para a representante de turma que a declaração configurava discurso de ódio.

Porém, os demais alunos ficaram a favor da autora do discurso de ódio, e a estudante cristã alega ter sofrido ainda mais preconceito depois do episódio. “Ninguém me cumprimenta, nem fala comigo mais. Imagina se alguém falar que ‘todo mundo que é nordestino tem que morrer’? A pessoa seria presa, porque é um discurso de ódio. Mas quem fala que 'toda pessoa que defende o sistema de família judaico-cristã tem que morrer' é liberdade de expressão”, criticou a mestranda.

Na opinião de um aluno de uma universidade privada do curso de Jornalismo, ser cristão nesse ambiente se traduz em grandes chances de ser excluído socialmente. “Quadrado” e “crentezinho” são alguns dos comentários depreciativos que já ouviu. “Manter seus valores e princípios na universidade pode custar a sua inclusão naquele meio”, destacou.

Já outra estudante do curso de Psicologia em uma instituição privada relatou que, ao sair da sala de aula para participar do grupo organizado pelos alunos cristãos, uma colega disse que aquele núcleo estava sendo responsável por "abrir uma seita" na universidade. “Debochou do grupo e fez algumas ironias também”.

Há esforço de alguns setores para que evangélicos sejam vistos como "vilões da democracia", diz líder

Outro projeto que está presente nas universidades é a Cruzada Estudantil e Profissional para Cristo, a Cru, organização que tem 25 mil missionários e 200 mil voluntários, com atuação em 190 países. Atuando também no âmbito estudantil, a Cru está em 170 campi no Brasil.

Para Gilberlei Oliveira, um dos diretores nacionais da Cru Brasil, o preconceito contra cristãos sempre existiu nas instituições de ensino superior. Segundo ele, essa intolerância foi sendo agravada com o tempo e também devido a questões políticas. “Quando eu era universitário, no início dos anos 90, o preconceito era por outra razão. Não foram poucas as vezes que ouvi: ‘Nossa, você é tão inteligente. Nem parece evangélico!’ Tive alguns amigos que optavam por não revelar sua religião por receio de serem alvos de discriminação”, afirmou.

Recentemente, a Cru foi acusada por um militante da esquerda, em uma postagem nas redes sociais que alcançou 1,5 milhão de pessoas, de ser um "cavalo de troia da extrema-direita”. Oliveira nega a posição partidária que o militante atribuiu ao movimento cristão. “Somos uma instituição de natureza religiosa e apolítica”.

Oliveira revelou que, provavelmente, uma parcela considerável de estudantes universitários cristãos já sofreu algum tipo de bullying, intolerância religiosa ou preconceito por parte de professores ou colegas. “Observo com preocupação que há uma escalada da hostilidade contra os evangélicos atualmente”. E isso se dá, segundo ele, por conta do engajamento por parte de algumas igrejas com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e dos atos do dia 8 de janeiro.

“Artigos têm sido escritos, manchetes produzidas e notícias vêm sendo manipuladas para atribuir aos evangélicos a responsabilidade pelo que se chama de ‘atos golpistas, terroristas e antidemocráticos’”. Ele acredita que isso sustenta preconceitos e estereótipos e aumenta o risco de hostilidades. “Parece haver um esforço de determinados setores de nossa sociedade para transformar os evangélicos nos vilões da República e em uma ameaça à democracia”, criticou.

Para Mantovan, líder da Rede Universitária, esses preconceitos por conta da política se ampliaram. “A igreja ficou atrelada como apoiadora da direita devido às últimas eleições. Porém, isso não é totalmente verdade. Nós apoiamos as ideologias bíblicas cristãs, estejam elas na direita ou na esquerda. E nós não apoiamos as ideologias anti-bíblicas e anti-cristãs, estejam elas na direita ou na esquerda”, ressalta.

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