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Ganha um pirulito quem encontrar um setor do empresariado que não diga estar à beira do abismo. O jogo é assim: para conseguir mais, é preciso dizer que a vida anda difícil, que os lucros são escassos e que a legislação trabalhista tira o couro de qualquer um. Sem contar que os governos não entendem o drama de quem tenta dar empregos e fazer o país evoluir. Às vezes, o discurso é mais convincente. Noutras, menos.

As empresas de ônibus de Curitiba conseguiram evitar que a Justiça lhe tosasse parte do que recebem como tarifa técnica. A prefeitura queria cobrar impostos exclusivos e tirar da tarifa uma tal taxa de risco por operar com ônibus híbridos. Segundo a atual gestão, seria uma maneira de o cidadão continuar pagando a tarifa atual, de R$ 2,70 – mais um complemento a ser embutido no IPTU de todo mundo.

Nada feito. A juíza Fabiane Schapinsky decidiu que "ante a vasta previsão de ausência de lucro", seria temerário reduzir o que as empresas recebem. Não foi o único argumento que levou-a a negar a liminar para a prefeitura. Mas foi importante, principalmente, diz o despacho, "por desconhecimento das circunstâncias em que estão efetivamente operando" as empresas.

Primeiro ponto: as circunstâncias não precisam ficar desconhecidas, já que a Urbs precisa ter as informações. Segundo: alguma coisa vai mal quando, quatro anos depois de uma licitação de que as empresas escolheram participar, elas precisam chorar diariamente dizendo que não têm como pagar as contas. Ou se trata de simples chororô ou a licitação foi tremendamente malfeita. E nesse caso, a discussão não deveria se reduzir a um ou outro item. É preciso ver o que nos espera nos muitos anos que ainda restam do contrato.

Em 2010, quando se preparava a concorrência, vencida pelas mesmas empresas que sempre estiveram no comando das linhas, esta Gazeta publicava que o lucro ao longo dos 25 anos de contrato era estimado em até R$ 500 milhões. Ano passado, a CPI da Câmara Municipal fez uma quebra de sigilo para tentar ver os lucros reais das empresas. A "vasta previsão de ausência de lucro" se sustenta?

A atual gestão pegou o bonde andando sem passageiros suficientes – e com uma população rebelada por pagar alto demais por um serviço muitas vezes precário. Optou pelo caminho da "mudança segura", indo à Justiça contra itens pontuais. Terá de fazer mais. O próprio Gustavo Fruet sabe disso e disse mais de uma vez que o destino do ônibus, caso nada mude, é o colapso.

Será preciso pensar grande para sair do atual ciclo vicioso. De um lado, os passageiros abandonam o ônibus porque ele não funciona como deve e, ainda por cima, é caro. De outro, com mais gente trocando o ônibus pelo carro, sobra menos gente para dividir a conta do ônibus, e ele fica ainda mais caro. Colocar subsídio é uma saída apenas temporária. Os R$ 10 milhões por mês poderiam, sugere alguém, bancar mais creches, escolas e postos de saúde para que as pessoas pudessem ficar em seus bairros, sem ter de pegar o bendito ônibus.

A tarifa é mais cara porque a região metropolitana pesa na passagem. Mas por que tanta gente precisa vir a Curitiba? Em parte porque as cidades-dormitório à nossa volta não recebem investimentos. (Ah, com R$ 120 milhões ao ano, o que seria possível fazer?) Pensar em soluções pontuais ajuda no momento de desespero. Mas só discutindo essas grandes questões o ônibus volta a entrar na canaleta. Fruet sabe disso. Conseguirá agir para resolver o nó? Terá a disposição de enfrentar a grande batalha de seu mandato?

PS: Enquanto isso, a Urbs, para atrair mais passageiros, bem que podia fazer o básico. Colocar bancos nos pontos de espera, informar o horário do ônibus diretamente no ponto e fazer roçada nos lugares onde os passageiros passam o tempo esperando a condução seria um começo.

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