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Campanha, campanha mesmo, ainda não começou. Antes era por causa da Copa, agora é por outras razões. Uma delas é o medo da vaia – síndrome que afeta a maioria dos candidatos, que já estão sentindo na carne que apupos malcriados não existem apenas para ofender Dilma Rousseff em suas aparições públicas. Estão sujeitos a eles quaisquer políticos que saiam por aí pedindo voto.

Segundo conta um experiente deputado estadual – que neste ano pleiteia eleger-se para um terceiro mandato –, o povo está mostrando claramente seu mau humor contra quem representa a tal classe política. Por isso, nem ele nem outros candidatos militantes da política tradicional se arriscam a comparecer a eventos que não tenham sido prévia e devidamente armados para recebê-los com civilidade.

Aos riscos fatais da vaia e dos xingamentos, somam-se agora outras dificuldades que, em eleições passadas, não eram tão fortes: os financiadores de campanha desapareceram (não querem ter suas imagens vinculadas à dos políticos), assim como estão sumindo também os tradicionais "cabos eleitorais" – prefeitos e vereadores que agora demonstram preferir ficar em seus cantos a também se expor ao mau humor popular.

Fotos distribuídas pelas assessorias de imprensa das principais campanhas para o governo do estado retratam bem o desânimo, tanto das plateias, invariavelmente rarefeitas, como dos candidatos, que já notaram que nem mesmo entre dos mais amestrados grupos conseguem arrancar manifestações visíveis de apoio. Daí as reuniões minúsculas, aqui e ali, em torno de mesas em salas fechadas.

A esperança (muito incerta) é que o cenário mude um pouco somente a partir do dia 19 de agosto, quando começam os programas do horário eleitoral gratuito na televisão.

Na avaliação dos observadores, a maior vaia o povo dará no dia da eleição: talvez seja batido, em 5 de outubro, um recorde de votos em branco, especialmente nas eleições proporcionais.

Histórias edificantes

Para que não digam que esta coluna não conta histórias edificantes a respeito da atuação de homens públicos, lá vão algumas. Dia desses, o personagem foi o ex-governador Hosken de Novaes, vice de Ney Braga que, em 1982, ao assumir o Palácio Iguaçu, despediu do seu gabinete o presidente do Tribunal de Justiça que lhe foi pedir verbas para comprar carros de luxo para os desembargadores. Hoje, as histórias envolvem pai e filho – ambos prefeitos de Curitiba.

O caso da ração para cachorros "flagelados"

Julho de 1983. Chuva intensa e prolongada pôs debaixo d’água inúmeras cidades do Paraná. Como sempre, União da Vitória e Rio Negro foram as mais castigadas. Curitiba também não escapou do dilúvio: o Rio Belém transbordou em vários pontos. O sofrimento maior foi na Vila das Torres – na época a maior favela da cidade. Centenas de famílias tiveram de sair de seus casebres para se abrigar em escolas e outros espaços.

O prefeito era Maurício Fruet, pai do atual, Gustavo. Todos os dias, enquanto durou a tragédia, ele ia ao local para acompanhar os serviços de socorro. E notou algo que nenhum dos assessores reparava: os cachorros, deixados para trás pelas famílias, ficavam onde podiam perto da área alagada como que fazendo a "guarda" do lugar à espera dos donos. Claro, passavam fome. Maurício não teve dúvidas: incluiu-os entre os "flagelados" e, por vários dias, tirou dinheiro do bolso para comprar ração para os cães.

O que fazer com ingressos da Copa? Devolve-se

Como frutos não costumam cair longe da árvore, o filho Gustavo age muitas vezes, anonimamente, com a mesma sensibilidade paterna. No início deste mês de julho, madrugadas geladas, saiu sozinho com o carro lotado de cobertores que comprou no dia anterior para entregá-los aos friorentos cobradores das estações-tubo. Alguns nem sequer reconheceram o senhor calvo que os cumprimentava e se despedia sem se apresentar como prefeito.

Outro episódio: mandou devolver à Fifa a batelada de convites que davam direito (a quem ele quisesse privilegiar) a assistir à final da Copa no Maracanã. Tirou do pacote apenas dois – um para ele, outro para o secretário especial da Copa. Poderia viajar às expensas da prefeitura – pois representaria oficialmente uma das cidades-sede da Copa –, mas preferiu pagar do bolso todas as despesas.

O conserto de um piano de uma escola municipal também correu por conta do salário do prefeito: seria injusto fazer os alunos esperarem pela burocrática autorização para reparar o instrumento. Em visita a outra escola, decidiu arcar com a compra de um televisor novo para substituir o velho.

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