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Uma pesquisa Ibope que circulou há oito dias sem que ninguém assumisse responsabilidade pelo seu patrocínio – afi­­nal, um trabalho desses custa muito caro e alguém teve de pagar por ele – foi muito utilizada pelos dois principais candidatos ao governo estadual. Osmar Dias (PDT) e Beto Richa (PSDB) viram os números que lhes favoreciam e trataram de espalhá-los. Felizmente, a coluna obteve com exclusividade uma cópia integral da sondagem, o que permite lançar so­­­bre ela um olhar descomprometido em relação aos interesses eleitorais e propagandísticos de cada um.

A pesquisa foi realizada no período de 10 a 14 deste mês com 1.204 entrevistados da capital e de cinco outras regiões do estado, ponderando o número de eleitores de cada uma delas. A margem de erro reconhecida pelo instituto é de 3 pontos porcentuais, para cima ou para baixo.

O resultado do cenário principal jé é conhecido por todos: Beto Richa aparece em primeiro lugar com 41% das citações; Osmar Dias, 38%; Orlando Pessuti, do PMDB, 5%; 15% votariam em branco/nulo ou não definiram ainda o candidato de sua preferência dentre os três citados.

Os estrategistas de campanhas e analistas em geral não se fiam, porém, em uma só pesquisa de um mesmo instituto e de um só período. As boas análises não prescindem da observação das tendências – isto é, da evolução dos índices ao longo de períodos de tempo maiores. Assim, o último Ibope ganha maior relevância técnica se comparado ao penúltimo (e até então único) levantamento que o mesmo instituto fez.

Isso aconteceu em junho passado. Nessa ocasião, o Ibope mostrou Beto Richa em primeiro com 41% e Osmar Dias em segundo com 40%. Orlando Pessuti, 7%.

Comparando-se os resultados das duas sondagens, eles querem dizer o quê? Querem dizer que há seis meses os dois candidatos mantêm-se no mesmo lugar. Indicam que se estabeleceu uma clara polarização entre os dois nomes e que a eleição, se fosse hoje, seria apertadíssima.

E indica também que, qualquer que fosse o vencedor do primeiro turno, o PMDB, o governador Roberto Requião e o candidato Orlando Pessuti estariam apeados do poder no Paraná e condenados apenas a cumprir o papel de fiel da balança na eleição de segundo turno.

Por fim, indicam que só fatos novos e relevantes serão capazes de alterar o panorama duante os próximos meses. Há datas fatais para delinear definitivamente o futuro. O dia 3 de abril por exemplo: nessa data Beto Richa terá de tomar a decisão mais importante de sua vida – abandonar a prefeitura três anos antes do término do seu mandato e, como candidato, correr o risco de não se eleger governador. Parado como está no patamar de 40% há tanto tempo, correrá esse risco?

Há também a prevalência cada vez evidente dos projetos nacionais em relação às eleições estaduais. De um lado, o PT de Lula estará cada vez mais vivamente empenhado em eleger Dilma Rousseff. E o PSDB a retomar o poder, elegendo José Serra. Em sã consciência, nem o PT nem o PSDB paranaenses ignoram essa realidade – afinal, o Paraná é o 5.º maior colégio eleitoral do país (7 milhões de votantes) e tanto Dilma quanto Serra sabem que o estado poderá ser a diferença entre a vi­­­tória e a derrota.

Em sendo assim, Osmar Dias assume papel estratégico para o interesse do PT. Fazê-lo parceiro do partido afigura-se até agora como a melhor opção para assegurar votos para Dilma Rousseff, tirando-os de José Serra na mesma proporção. Mas o contrário também é verdadeiro: o PSDB nacional pode entender que, se fizer a vontade de Beto Richa e lançá-lo como seu candidato, fatalmente jogará Osmar no colo do PT e, consequentemente, votos no colo da adversária Dilma. O que pode custar a derrota de Serra.

Essa situação não pode perdurar para além do fim de março, talvez já em fevereiro. Os dois lados têm pressa. Para o PSDB, principalmente, se entender que Beto Richa não é a me­­­lhor solução, precisa ter tempo para oferecer ao prefeito uma saída honrosa do processo eleitoral. Mesmo porque pode achar melhor manter a prefeitura de Curitiba em mãos tucanas a entregá-la para um vice do PSB, partido que provavelmente terá Ciro Gomes disputando a Presidência.

A pressa do PSDB provoca pressa também no PT, que não quer correr o risco de ver Osmar Dias – seu candidato in pectore – ser tragado pelas forças tucanas. Se conseguir evitar isso, ele passará a contar claramente com a máquina e o prestígio lu­­­­listas. O que tende a fazer gran­­­de diferença.

Depende, pois, de fatores como os descritos, o desempate entre Beto e Osmar – situação qe passaremos a conferir a partir de fevereiro, no máximo a partir do início de abril.

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