Para quem sabe ler, veja o que o Datafolha escreveu

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Se as eleições fossem hoje, o tucano Beto Richa ganharia o primeiro turno com 40% dos votos. O pedetista Osmar Dias, com 38%, disputaria com ele o segundo turno. Esse foi o resultado apresentado ontem pelo instituto Datafolha, em sua segunda consulta à opinião pública dos paranaenses sobre as eleições de 2010 no estado. Na verdade, uma situação de empate técnico.

A primeira sondagem do mesmo instituto foi feita em março. Na ocasião, Beto Richa ostentava 39 pontos, contra 31 de Osmar. Considerando que a margem de erro admitida pelo Datafolha é de quatro pontos porcentuais, significa que rigorosamente a candidatura do prefeito não saiu do lugar durante esses oito meses de campanha que, embora negada, foi ostensiva.

A curiosidade que emerge dos números é uma só: que fatores provocaram a estagnação de Richa? Sabidamente, ele viaja todas as semanas para o interior do estado, sempre acompanhado de grande séquito e promoção, contando com as facilidades de um jatinho que o partido lhe paga. Telemarketing é outro recurso usado com intensidade, sem esquecer o fato de que durante todo o período, por ser prefeito da capital, manteve-se em permanente exposição na mídia.

Então, voltemos à pergunta: por que parou? parou por quê? Esta pergunta ele próprio deve estar fazendo aos estrategistas de sua campanha. Em 2008, quando até às vésperas do pleito ainda contava com a assessoria política de Ezequias Moreira, aquele da "sogra fantasma" – Beto foi reeleito prefeito com exuberantes 77% dos votos, experimentando ascensão estratosférica durante o período – fenômeno que não está se reproduzindo agora.

De lá para cá, de fato, o prefeito experimentou fases de intenso desgaste, o que pode explicar a paralisação. Richa enfrentou a descoberta pela imprensa de que empreiteiros amigos estavam sendo favorecidos em licitações da prefeitura. Houve também o constrangedor episódio gravado de distribuição de dinheiro do caixa 2 para ex-candidatos a vereador do nanico PRTB. Os radares foram desligados pela Justiça, que constatou irregularidades na contratação da empresa prestadora do serviço. As trapalhadas da licitação do lixo foram outro grande foco de deterioração. E o fracasso da promessa de fazer o metrô para a Copa certamente também pesou.

Ainda assim, é Curitiba que alimenta o seu cabedal de preferências: 66% dos eleitores mantêm-se dispostos a votar nele, contra apenas 16% em favor de Osmar Dias. O senador apresentou crescimento nas demais cidades da região metropolitana desde março, mas é o interior do estado que lhe garantiu a pequena diferença de três pontos abaixo de Beto Richa.

Pesquisa pode levar Richa a repensar projeto

O senador Alvaro Dias, que pretende disputar com o prefeito o direito de candidatar-se pelo PSDB ao governo, perdeu substância. Por isso, se pesquisa de fato valer como critério de escolha do partido, a vaga, como demonstra o Datafolha, já pertence a Beto Richa – com a diferença de que Alvaro Dias, com seus 27% de votos, será levado a apoiar o irmão.

Se pesquisa não valer, a permanência de Beto como candidato pode ser repensada: em janeiro, o senador Sérgio Guerra, presidente nacional do PSDB, virá ao Paraná – um dos estados que o partido considera cruciais para o projeto nacional de eleger José Serra presidente. Mas não depende só disso: dependerá da própria vontade do prefeito de correr o risco de abandonar o cargo faltando quase três anos para o término do mandato. Se até março seu desempenho continuar apresentando a mesma estagnação de nove meses, não será impossível que desista de concorrer.

Mas daí a coisa toda muda – um tsunami varrerá o quadro posto até agora: sem Beto Richa no páreo, sobram Alvaro Dias pelo PSDB, e o irmão Osmar pelo PDT. Têm, contudo, o compromisso de não se confrontar diretamente. Mas se Osmar aceitar a aliança com o PT de Dilma Roussef, quem será o candidato do PSDB? Esta não seria a razão da pressa de Sérgio Guerra em vir ao Paraná? Osmar Dias ainda faz parte do projeto tucano?