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A um se diz que nada entende de agricultura; a outro, se acusa de ser parceiro do MST. Estas duas assertivas estiveram presentes, ontem, nos discursos que os dois candidatos ao governo do estado, Osmar Dias e Beto Richa, dirigiram aos 500 produtores rurais reunidos em Curitiba sob o patrocínio da Federação da Agricultura do Paraná (Faep). De certa forma, ambos explicitaram o tom que dará rumo à campanha eleitoral deste ano.

Em horários diferentes (Beto, de manhã; Osmar, à tarde), os dois foram convidados a dizer o que pensam do futuro da agropecuária paranaense com base, principalmente, nas propostas que a própria Faep lhes apresentou. Dentre tais propostas, a criação de uma agência de desenvolvimento do agronegócio e de um instituto de defesa animal e vegetal. Até aí tudo bem: prudentemente, como convém a duas pessoas empenhadas em conquistar simpatias e votos, nem Osmar nem Beto ousaram discordar do acerto das ideias.

Vencida esta etapa das discussões em que os dois se mostraram rigorosamente empatados na disposição de agradar os agropecuaristas, ambos voltaram-se para os temas que mais os dividem e que são capazes, realmente, de fazer a diferença na hora do voto. Os candidatos reconhecem a força política do campo.

Por mais que sua população (e o eleitorado, obviamente) esteja preponderantemente concentrada nos centros urbanos, o Paraná é ainda um estado "essencialmente agrícola". A grande maioria dos municípios vive e sobrevive literalmente da economia rural. E não é uma manifestação de ufanismo paranista afirmar que o país depende economicamente em grande parte do desempenho da lavoura paranaense. Estão aí os saldos da balança comercial para provar, além da comida barata que chega à mesa dos brasileiros.

Logo, é melhor não desagradar o setor, dono de consideráveis 25% dos 7 milhões de eleitores paranaenses. Ao contrário, é preciso encarar com respeito as duas principais queixas que os agri­­­cultores despejam sobre os governantes passados, atuais e futuros. Uma delas diz respeito ao medo quanto à integridade de suas propriedades, ameaçada pela ação dos militantes do MST – autores de invasões e de violência no campo.

Outra, é a ausência de uma política agrícola que lhes garanta prosperidade e segurança econômica. Segundo os produtores rurais, a culpa pela instabilidade perma­­­nen­­­­te sob a qual vivem é dos governantes que não compreendem as peculiaridades do setor e que tomam decisões erradas nas horas erradas.

A preocupação, portanto, entre os influentes líderes rurais, é identificar entre Osmar Dias e Beto Richa aquele que melhor corresponda ao duplo desejo da agropecuária de produzir bem e lucrar o justo e de não correr o risco de ver, de uma hora para outra, suas terras tomadas por invasores. Saben­­­do disso, os dois candidatos tentaram colocar na testa do adversário os defeitos de que os produtores mais detestam.

Em clara indireta ao adversário apoiado pelo PT que, por sua vez, veste o boné do MST, Richa assegurou que "meu pa­­­lanque é para José Serra e para quem não gosta de invasão de terra, para quem não tem apoio do MST".

Osmar, obrigado a entrar na defensiva, responde que quem conhece sua história e sabe que também ele é proprietário rural, nunca seria a favor de quem desrespeita a propriedade rural, um direito constitucional que ele jurou defender. E parte para o ataque, lançando um dardo indireto em Beto Richa: "O Paraná precisa de um governador que entenda de agricultura", uma alusão às dificuldades que o tucano vem apresentando na discussão de temas técnicos e econômicos do meio rural. Beto reconhece a deficiência e promete cercar-se de bons assessores para cuidar da área.

Não se sabe o peso que tiveram estes argumentos na cabeça dos 500 líderes rurais que os ouviram da boca de Beto e Osmar. Mas prometem que vão pensar.

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