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Nos corredores

Quem não é visto...

Nas últimas quatro semanas, esta será a terceira em que o governador Orlando Pessuti (PMDB) passará por Brasília. Nas outras duas oportunidades, fez questão de se encontrar com o vice-presidente eleito e presidente do partido, Michel Temer. Tem reforçado a tese que corre em Brasília de que aqueles que não são vistos não são lembrados na formação do próximo governo.

Vaquinha

Na semana passada, Pessuti reuniu-se com representantes do Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal para conseguir patrocínio para cinco solenidades estaduais marcadas para dezembro, entre elas a reinauguração do Palácio Iguaçu. Segundo ele, o dinheiro saiu, mas não foi o suficiente para bancar os eventos. O governador agora vai tentar passar o chapéu entre a iniciativa privada.

Difícil parentesco

O provável anúncio de que Gilberto Carvalho assumirá a Secretaria-Geral da Presidência no governo Dilma diminui as chances de a ministra Márcia Lopes permanecer no Ministério do Desenvolvimento Social. A tendência é que londrinense seja convidada para permanecer no governo, mas não no mesmo cargo. Entre os cotados para a vaga está o senador Aloizio Mercadante (PT-SP).

Hailé Selassié governou a Etiópia por 44 anos. No livro O Imperador, o jornalista polonês Ryszard Kapuscinski narra os primeiros momentos após a queda do tirano, em 1974. A obra, que também serviu como uma crítica aos regimes comunistas do Leste Europeu, expôs as manias perversas desenvolvidas por quem fica tempo demais no poder.

Selassié tinha, por exemplo, uma pessoa que funcionava apenas como "relógio-cuco" do palácio. Outra era paga só para colocar almofadas nos seus pés quando ele se sentava no trono – baixinho, o "Rei dos Reis", como era conhecido, não podia ficar com as pernas soltas no ar. O texto de Kapuscinski choca pela naturalidade como o séquito imperial encarava essas tarefas.

O caso etíope é só um entre outros de centenas de nações comandadas por gente que só pensava em se perpetuar no poder. Na mesma época, o ditador Francisco Franco comandou a Espanha por 36 anos em uma longa jornada para o atraso. Os episódios servem de alerta para as democracias modernas, inclusive o Brasil.

É óbvio que Lula e Dilma Rousseff não têm vocação para Selassié. Mas é sempre bom fazer uma reflexão sobre a qualidade das propostas de continuidade – ou continuísmo – no poder. As escolhas feitas pela presidente eleita dão pistas de como ficarão as coisas a partir de 2011.

Na prática, Dilma tem seguido à risca o que prometeu durante a campanha, a sequência da política econômica e social de Lula. Ela mexe, mas não muda. Exemplo disso é que os três primeiros ministros anunciados já tinham destaque no atual governo.

A futura ministra do Planejamento, Miriam Belchior, era coordenadora do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Alexandre Tombini, escolhido para presidir o Banco Central, é diretor da instituição. E o ministro da Fazenda, Guido Mantega, seguirá como está.

Há também os anúncios que serão oficializados a partir de hoje. O ex-ministro da Fazenda, Antonio Palocci, assumirá a Casa Civil. E o atual chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho, vai para a Secretaria-Geral do Palá­­cio do Planalto.

Os cinco serão os ministros mais próximos da presidente. À primeira vista, a administração será como um terceiro mandato de Lula. Soa bem porque Dilma já está entrosada com a equipe e mal porque não oxigena as lideranças.

A própria performance de Lula ao longo dos dois mandatos comprova a tese. No primeiro, José Dirceu acumulou poder demais na Casa Civil, o que descambou para o mensalão. Quan­­do Dilma foi escalada para a pasta e passou a exercer uma coordenação mais técnica do que política, o governo deslanchou.

Tanto Lula quanto Dilma aprenderam muito com o episódio, que serviu como uma espécie de reinvenção do modo de gerir petista. Dilma venceu a eleição porque 57% dos brasileiros acreditam que agora o país está no rumo certo. No fundo, ela sabe que o próximo governo precisa ser de continuidade, mas não pode ficar estagnado.

O pior perigo, nesse caso, é a acomodação, acostumar-se ao conforto do poder, mesmo que sem um colocador oficial de almofadas. Falta muito para o Brasil progredir de verdade. E é só com criatividade que os ministros de sempre mostrarão que também sabem construir novos horizontes.

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