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Ao longo da reunião da comissão executiva nacional do partido realizada ontem, e nos dias que a antecederam, o PT adotou o discurso de perseguido político. O presidente da legenda, Rui Falcão, afirmou que há uma ofensiva de ódio sendo deflagrada contra o PT e contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e conclamou a militância a reagir.

Ele disse também acreditar em uma campanha coordenada para fragilizar o partido. Nas palavras do dirigente petista, têm ocorrido vários eventos “coordenados por núcleos da Polícia Federal, do Poder Judiciário e do Ministério Público que se valem de momentos simbólicos para ofensivas que têm o pretexto de combate a corrupção, mas que tem outro alvo”.

Se há indícios contra Lula, ou qualquer membro da família do ex-presidente, eles devem ser alvo de investigação, sem favorecimentos ou privilégios. Da forma exata como está acontecendo.

As declarações de Falcão ocorrem num momento em que o filho caçula de Lula, Luís Cláudio Lula da Silva, é investigado por suposto envolvimento no esquema de pagamento de propina no Conselho de Administração de Recursos Fiscais (Carf), órgão ligado ao Ministério da Fazenda. Na segunda-feira, a Polícia Federal (PF) realizou busca e apreensão em empresas de Luís Cláudio Lula da Silva. Na terça-feira, após retornar da festa de 70 anos do pai, Luís Cláudio foi intimado pela PF para prestar depoimento.

Na mesma linha de Rui Falcão, Lula afirmou ontem que vai sobreviver à campanha de ódio e criminalização que supostamente seria movida contra ele e ironizou a operação da Polícia Federal que investiga seu filho caçula.

O discurso de vitimização pode soar bem aos ouvidos da militância fiel, que aplaudiu o ex-presidente e entoou o já manjado bordão “Lula, guerreiro, do povo brasileiro”. Mas é completamente descabido para qualquer cidadão com bom senso acreditar que Lula e seus familiares estariam sendo perseguidos.

Pelo contrário. O que está ocorrendo – e Lula não consegue (ou não quer) enxergar – é o amadurecimento das instituições de fiscalização, que se veem livres para atuar sem interferência do governo federal. Esse é talvez o aspecto mais elogiável do governo da presidente Dilma Rousseff e de seu ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Poucos são os estados brasileiros que agem com o mesmo desprendimento e não tentam controlar suas polícias civis ou, mesmo, órgãos do Ministério Público, dos tribunais de contas e do Judiciário.

Apesar dos inconvenientes que as investigações da Operação Lava Jato e da Zelotes estejam causando a membros de seu partido e, de certa forma, de seu governo, não se tem notícia de que a presidente tenha exercido pressões indevidas sobre a atuação de quaisquer órgãos fiscalizadores.

Esse reconhecimento é importante e jamais pode ser esquecido. É uma forma inclusive de trazer à consciência o quanto as instituições têm amadurecido mesmo em tempos de crise e de dar o devido crédito àqueles que têm agido com responsabilidade e com espírito republicano.

Lula e o presidente do PT se insurgem precisamente contra essa independência de investigação e julgamento conquistada pelas instituições. Talvez preferissem que o partido da presidente recebesse um tratamento especial pela PF, pelo Ministério Público Federal e pela Justiça, diferente ao conferido aos demais cidadãos.

Se há indícios contra Lula, ou qualquer membro da família do ex-presidente, eles devem ser alvo de investigação, sem favorecimentos ou privilégios. Da forma exata como está acontecendo.

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