
São Paulo - Desgastado pela crise no Senado, o senador José Sarney (PMDB-AP) teria dito ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que está disposto a deixar a presidência da Casa. "Não aguento mais. Vou negociar uma saída", disse Sarney ao presidente, segundo informações da revista Veja desta semana.
Segundo a revista, a declaração teria ocorrido na última segunda-feira, quando Lula ligou para Sarney para saber notícias sobre a saúde de Marly Sarney, que estava internada após uma cirurgia.
Oficialmente, no entanto, o senador afirma que irá enfrentar a crise e que tem condições para superá-la. De acordo com reportagem do jornal Folha de S.Paulo, Lula disse a petistas que Sarney está sofrendo muito e talvez seja a hora de o senador "se livrar desse sofrimento".
Nos bastidores, ganha força o nome do senador Francisco Dornelles (PP-RJ) para disputar a presidência do Senado com a saída definitiva de Sarney. Dornelles tem o apoio de líderes peemedebistas que sabem das dificuldades do partido para conseguir consenso dentro da bancada. Além disso, ele é considerado um parlamentar com trânsito dentro do PT e da própria oposição.
Governabilidade
Sem conseguir o apoio fechado do PT ao presidente do Senado, o governo quer agora que o partido se comprometa a não dar o tiro de misericórdia no aliado cambaleante. Ainda irritado com a nota na qual o líder do PT no Senado, Aloizio Mercadante (SP), pediu o afastamento de Sarney, o presidente Lula chamará o petista para uma conversa nesta semana.
Dos 12 senadores que compõem a bancada petista, oito defendem o afastamento do presidente do Senado. Lula avalia que o PT está sendo "ingênuo" ao cobrar a licença de Sarney, alvo de denúncias de nepotismo, desvio de recursos de uma fundação que leva seu sobrenome e uso de atos secretos para nomeação de amigos. No diagnóstico do Planalto, uma derrota de Sarney com o empurrão petista porá em risco a governabilidade. Pior: fará o senador guardar o ódio na geladeira para dar o troco na campanha de 2010.
Na prática, Lula está preocupado com os efeitos colaterais da guerra em plena CPI da Petrobras e de olho no casamento de papel passado com o PMDB, nas eleições de 2010. O PMDB é o partido com o qual o presidente sonha para vice na provável chapa ao Planalto liderada pela ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff.
Para Lula, ao fazer carga contra Sarney o PT joga água no moinho dos tucanos e atrapalha as alianças com o PMDB. "Eu não creio que o presidente Lula queira mudar nossa posição", disse o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), um dos que apoiaram a nota de Mercadante.



