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O governador Beto Richa marcou para janeiro próximo o início da gestão para a qual foi eleito em 2010. Antevendo o perigo de não conseguir a reeleição em 2014, decidiu "virar a mesa" – não exatamente no sentido de preencher todo o vácuo de obras que deixou na primeira metade do mandato, mas sobretudo para armar-se de condições políticas para enfrentar adversários que, não faz muito tempo, não lhe fariam frente.

A reforma do secretariado, que será anunciada provavelmente nos primeiros dias do ano que vem, incluirá, por exemplo, o ingresso do deputado Ratinho Jr. na equipe de Richa. O lugar que lhe está reservado é a secretaria de Desenvolvimento Urbano (SEDU) – pasta que lhe dará o comando da Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba (Comec) e espaço bastante para fazer política com prefeitos do Paraná inteiro.

Seria uma preparação para que Ratinho Jr. seja o vice na chapa de reeleição de Beto Richa? Faz sentido.

Depois de ser vitimado pelo próprio feitiço ao tentar eleger Luciano Ducci à custa do alijamento de Gustavo Fruet do PSDB, Richa precisa preservar um bom naco do eleitorado da capital para diminuir o risco da derrota. Acertou no nome: Ratinho Jr., com os 400 mil votos que conquistou na disputa do segundo turno em outubro último, mostrou que é detentor de bom cacife eleitoral, extensivo aos municípios da região metropolitana, cujo eleitorado se assemelha àquele da periferia de Curitiba que lhe demonstrou tanta simpatia.

Em outra frente, Beto Richa faz o que pode para evitar que o senador Roberto Requião ganhe a eleição para o diretório estadual do PMDB. O prestígio que concede aos deputados da bancada estadual peemedebista – que vai bater chapa com Requião no próximo dia 15 – obedece à estratégia de evitar que o senador lhe tome de vez o controle dos 56 municípios do PMDB e se anime a entrar na disputa pelo governo estadual em 2014.

Nesse caso, Richa teria de enfrentar duas forças políticas expressivas no estado – a de Requião e a da senadora Gleisi Hoffmann, virtual candidata do PT, que, além do próprio prestígio, contará com o apoio da presidente Dilma Rousseff e do prefeito de Curitiba, Gustavo Fruet. Uma parada que se afigura, portanto, pra lá difícil.

Mas, ainda que consiga evitar a ressurreição de Requião como concorrente direto, Richa não tem como garantir que o PMDB caminhe unido com ele – apesar da boa vontade de alguns deputados. É que, nacionalmente, o partido deve manter fidelidade (e posições) ao projeto de reeleição de Dilma Rousseff – orientação que certamente se estenderá aos estados. "Ao buscar aliança com o PMDB, Richa está comprando terreno na lua", ironiza o ministro Paulo Bernardo, marido e principal coordenador político de Gleisi.

O governo que Richa pretende, enfim, iniciar prevê outras mudanças estratégicas. Uma delas é tirar da Casa Civil o papel burocrático que desempenha e dar-lhe status de coordenação política. Seu titular seria o deputado Cesar Silvestre, atual titular da SEDU, lugar que estaria reservado para Ratinho Jr. As atribuições burocráticas seriam deslocadas para uma ainda não criada secretaria do Governo, onde se abrigaria o atual chefe da Casa Civil, Luiz Eduardo Sebastiani.

Cogita-se também mudanças na Comunicação Social – área que costumeiramente recebe a culpa, em qualquer governo, quando tudo o mais não dá certo. O eventual novo titular da secretaria não teria melhor sorte se o governo não tiver obras para mostrar, ainda que permaneça grande o volume de recursos para propaganda.

A esperança está depositada no Proinfra – o programa de R$ 12,5 bilhões em investimentos que Richa jura que tirará do papel e que transformará em estradas, segurança, saúde, portos etc. Entretanto, ainda conseguiu provar que realmente disporá de recursos em tal escala nos próximos dois anos.

Por exemplo: embora tenha afirmado que terá à disposição R$ 2,5 bilhões emprestados de organismos nacionais e internacionais, não há registro de que seus pedidos já tenham cumprido a longa via-sacra de aprovações, que começa na Secretaria do Tesouro Nacional (STN) e se conclui no Senado, depois de passar pelo crivo dos ministérios da Fazenda e do Planejamento.

Donde se conclui que não só de Ratinho Jr. Richa precisará para melhorar sua sorte.

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