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O que mais é tido como conspiração, mas talvez não seja?
O que mais é tido como conspiração, mas talvez não seja?| Foto: Pixabay

É falso que Lulinha seja dono da Friboi. No entanto, procederia mal quem, lá por 2015, reduzisse a origem do boato à maldade dos antipetistas. Lulinha não era dono da Friboi. Em vez disso, era dono da Gamecorp, uma empresa fantasma que lavava dinheiro de uma campeã nacional que termina em Oi, mas não é Friboi. O dono da Friboi, a seu turno, tinha a chave do BNDES na mão. É como se o boato fosse uma fumaça difusa, indicando um incêndio que só investigadores dedicados puderam encontrar.

É ingenuidade esperar que a Verdade venha pronta e acabada numa corrente de WhatsApp. Mas é igualmente ingênuo pensar que as pessoas repitam insistentemente por todo o país uma fabricação aleatória destituída de qualquer verossimilhança. Até um boato fabricado por polícia secreta, como o do Protocolo dos Sábios do Sião, precisa de verossimilhança para se espalhar. Se a polícia do Czar tentasse pintar os judeus como paramilitares em vez de banqueiros, não colava. (Já escrevi aqui sobre a situação delicada dos judeus num mundo agrário).

Mas e os boatos que surgem naturalmente, sem planejamento – como parece ter sido o caso do Lulinha dono da Friboi? Aí é de se presumir que alguém do seu convívio tenha se deparado com algo muito suspeito e compartilhando suas falsas certezas com seu círculo de amigos, que acreditarão por considerá-lo uma fonte privilegiada com acesso a Lulinha. Como esses esquemas grandes são parcialmente testemunhados por um número significativo de pessoas Brasil afora, é natural que o zap-zap pegue fogo e interpretações pobres dos fatos se tornem verdade nas redes sociais. Assim nasce o Lulinha dono da Friboi.

Perdoem a longa introdução. É que, assistindo ao documentário Plandemic, me ocorreu que a paranoia dos norte-americanos com vacinas deve ser encarada como uma fumaça colossal vinda do Hemisfério Norte. Nosso Estado é remediado e desorganizado, não temos grandes corporações monopolistas globais, nossos políticos querem apenas meter a mão no nosso bolso. Já os EUA são um Estado riquíssimo e organizado, dotado de trilionários com dinheiro e poder suficientes para drenar os cofres públicos não por roubo puro e simples, mas criando demanda por produtos hospitalares.

O que é o documentário "Plandemic"

Digitando Plandemic em qualquer buscador e consultando a Wikipédia em qualquer língua, vemos tratar-se de vídeos conspiracionistas da internet. São dois: um de menos de meia hora, que consiste numa entrevista com a cientista Judy Mikovitz, e outro de mais de uma hora, com jeito de documentário. Ambos os vídeos são de 2020.

Judy Mikovitz tem uma biografia atribulada e teorias específicas sobre o tratamento da Covid cujo juízo está fora de minha alçada. Mas quero focar numa teoria dela sobre produção de ciência.

Nosso modelo estatal de fomento à pesquisa é inspirado nos EUA. Eles têm agências estatais que dão dinheiro a centros de pesquisa públicos ou privados. Segundo Judy Mikovitz, um sério conflito de interesse surgiu nos anos 1980, quando o Congresso permitiu que universidades e centros de pesquisa patenteassem suas descobertas feitas com dinheiro público. Assim, se uma doença nova aparece e uma fundação usa o dinheiro público para criar um remédio, esse remédio será patenteado e a fundação terá lucros ao vendê-lo para o Estado.

E mais: se houver um remédio velho e barato para essa nova doença, será do interesse da corporação burocrático-acadêmica tirá-lo do mercado. Como os burocratas da ciência controlam o CDC e as corporações podem comprar políticos, basta aprovar leis ou normas que tirem a licença médica de quem usa medicamentos baratos. (Observação minha: nós já estamos vendo isso acontecer, nos EUA, com algo bem mais sinistro, que é a “terapia de afirmação de gênero”. A jornalista Abigail Shrier apontou que, em alguns estados dos EUA, médicos e psicoterapeutas perdem a licença caso desafiem a convicção da criança que se declara transexual).

Patentes podem ser vendidas e compradas. Assim, o que começa como uma máfia de burocratas-acadêmicos logo ganha dimensões corporativas e multibilionárias. Aí entra Bill Gates. Outrora processado por infringir as leis antitruste, ele cria a Fundação Bill e Melinda Gates para atuar na área de vacinas por meio de uma floresta de ONGs. A Fundação não é sem fins lucrativos e Bill Gates sonha em vacinar toda a população global. O dinheiro para isso vem dos impostos recolhidos por governos do mundo inteiro, claro.

Mas Bill Gates é para a parte 2. Ainda na parte 1, apareceram médicos e profissionais de saúde dos EUA fazendo queixas bastante similares às dos brasileiros: o governo libera dinheiro para hospitais que declarem ter muitos casos de Covid, de modo que há uma tendência a inflacionar os casos. Também lá os médicos estavam usando hidroxicloroquina em estágios iniciais da doença, com resultados positivos. E também lá estão intubando gente que talvez não devesse ser intubada. No Brasil, a morte de intubados chega a 88%. Intubação não é coisa que qualquer médico saiba fazer, de modo que erro médico é uma consequência plausível para uma demanda súbita por intubações. Se alguém morre mal intubado com um diagnóstico de Covid, entra para as estatísticas e o hospital é recompensado financeiramente.

Depois, uma vez vacinado gato, cachorro, papagaio e periquito, basta alterar as maneiras de notificar e gerir a Covid para fazer crer que a vacina é eficaz.

Uma ex-fake news

O documentário ia mais longe e afirmava que o vírus foi criado em laboratório. Explicava o que Eli Vieira já trouxe para este jornal em mais de uma ocasião: que uma espécie de CNPq dos Estados Unidos financia pesquisas de “ganho de função” do coronavírus, que a coisa começou dentro dos EUA com um tal de Baric, que depois um Daszak migrou a pesquisa para Wuhan, e que os Estados Unidos têm leis para impedir isso, mas o Dr. Fauci deu uma canetada para liberar. O Dr. Fauci é um burocrata que manda nas agências de fomento e foi uma mistura de Mandetta com Atila na pandemia: aparecia muito para dar coletivas e fazia as previsões mais catastrofistas.

Como explicou Nicholas Wade (traduzido por Eli aqui), Daszak reuniu uma penca de cientistas para dizer que a origem laboratorial do coronavírus era teoria conspiratória. Com base nisso, o burocrata Fauci instrui as famigeradas agências de checagem e as redes sociais a censurarem a teoria.

Semana passada, a coisa se complicou porque os e-mails do Dr. Fauci foram abertos, e descobriu-se não só que ele admitia em privado a hipótese da origem laboratorial, como temia que ela vazasse. Ou seja: o documentário “conspiracionista” traz pelo menos uma ex-fake news.

Simulação de pandemia às vésperas da pandemia

Outra coisa que chamou atenção nos e-mails do Dr. Fauci é a frequência de contato com Bill Gates. No documentário, isso fica explicado: em novembro de 2019, quando não se falava nem em pneumonia de Wuhan, muito menos em pandemia, o alto empresariado global participou, junto dos CDCs dos Estados Unidos e da China, do Event 201, uma simulação de uma pandemia global por coronavírus. Eu sei: parece coisa de maluco com chapéu de alumínio e eu não acreditaria se me contassem. Mas a reunião está gravada no Youtube e qualquer um pode ver. (Tem uma versão curta aqui). As agências de checagem de fatos chamam a reunião de fake news porque se trata de “simulação”, mas ninguém nega que eles alegavam ser uma simulação.

Nessa pandemia, mortes se acumulariam, “fake news” se disseminariam e seria preciso empresários e governos terem uma concertação para controlar o fluxo de informação, restringir liberdades tradicionais e levar suprimentos médico-hospitalares bastantes para vacinar cada ser humano do planeta. Depois da pandemia, haveria o “novo normal”, com novas pandemias podendo surgir a qualquer instante. Ruim, né?

Bom, pelo menos a batata de Fauci já está assando e algumas fakenews vão deixando de ser fakenews. Poderia ser pior.

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