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Posto de combustíveis fechado no centro de Londres.| Foto: Facundo Arrizabalaga/EFE/EPA

Nos EUA, a gigante do varejo Walmart fretou um navio de carga de grãos para transportar brinquedos e bens de consumo. No Reino Unido, abalado pela falta de combustíveis, a Glasgow Distillery Co. teve de adiar o lançamento de seu uísque escocês nos EUA por falta de suprimentos. A Volkswagen, a Ford e a Opel anunciaram novos fechamentos temporários na Alemanha. Na Suécia, a Volvo teve que parar a produção de automóveis devido à escassez de semicondutores. Esses são apenas alguns dos problemas de abastecimento que um número crescente de países vem enfrentando, o que tem provocado alta descontrolada dos preços de praticamente todos os produtos e serviços.

Até pouco tempo atrás, com o avanço do controle da pandemia, a expectativa era de que o mundo entraria em um período de felicidade. Com o fim das restrições, a economia em crescimento, o desemprego em baixa e o consequente aumento de renda, as coisas caminhariam sem grandes solavancos. Mas os gargalos da cadeia de fornecimento global, aliados à escassez de componentes e preços crescentes de matérias-primas, mudaram rapidamente o curso da economia. Hoje, se desenha para o resto do ano uma situação bem diversa daquela que se vislumbrava com a possibilidade de debelar o vírus.

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Congestionamento de navios porta-contêineres em Long Beach, na Califórnia. paralisa as atividades portuárias.| Etienne Laurent/EFE/EPA

Para muitos economistas, o que está ocorrendo é uma tempestade perfeita. Dos EUA à Ásia, passando pela Europa, a escassez de energia, a insuficiência produtiva e problemas de transporte derrubam todas as projeções. De acordo com o Banco Central Europeu, as exportações teriam sido 7% maiores em todo o mundo nos primeiros seis meses do ano se não fossem os gargalos de abastecimento.

O fator ‘escassez de energia’ tem sido um canal de alimentação da nova crise, assentada sobre o tripé oferta/transporte/trabalho. O aumento da demanda por gás natural e petróleo – que se aproxima dos US$ 80 o barril, o maior preço em três anos – eleva os custos das cadeias de produção e de transporte, desencadeando uma onda contínua de alta generalizada de preços e serviços.

O cenário que se desenha agora leva ao risco da chamada “estagflação”, o que poderia desembocar em grave crise social, especialmente nos países em desenvolvimento – muitos desses com a economia já abalada e alto desemprego.

O exemplo mais lembrado de estagflação ocorreu na década de 1970. Na época houve uma combinação de superaquecimento das economias dos países desenvolvidos, por um lado, e redução da oferta de produtos em decorrência de da explosão dos preços do petróleo e perdas de safras agrícolas, por outro. A partir de 1973, o desemprego e a alta de preços formaram uma mistura perversa. A elevação dos juros para conter a inflação levou as empresas a demitir funcionários para reduzir custos, alimentando o ciclo.

O Fundo Monetário Internacional (FMI), muitas vezes é criticado por alguns erros em projeções para a economia. Agora é torcer para que o FMI esteja certo: o fundo diz que a inflação ao consumidor deve atingir o pico neste semestre e recuar para níveis pré-pandêmicos em meados de 2022. Mas para não ser criticado por erro novamente, o FMI admite que os picos de alta de preços causados ​​pela escassez podem ser mais persistentes e não terminar antes de meados de 2022. Um cenário perfeito de estagflação.

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