Detalhe de afresco de Giotto na Cappella degli Scrovegni, em Pádua, representando o beijo de Judas em Jesus.| Foto: Wikimedia Commons/Domínio público
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Muitos cristãos não estão cientes de como as crenças dos “cristãos progressistas” se infiltraram em vários segmentos da Igreja Cristã. Já tratei da compreensão que este movimento tem sobre a Sagrada Escritura e sobre o pecado e a salvação.

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Impressiona o fanatismo ideológico dos “cristãos progressistas”. Para estes, o livro sagrado poderia ser O Manifesto Comunista ou O Capital, mas O Capital no século 21 pode servir; desprezam o Antigo Testamento; acham que o ser humano surgiu bom e foi corrompido pela sociedade; o pecado seria toda suposta agressão contra as minorias e os pobres; a salvação seria por meio da crença cega na ideologia; Jesus Cristo seria um “profeta” do “outro mundo possível”; e esperam um milênio glorioso, desfrutado pelas minorias e pelos pobres – ao menos os que forem leais à Ideia. Parecem não ter Deus. Mas têm o Estado. Ou o Partido. As crenças deste movimento são uma mistura mal feita de gnosticismo, marcionismo e pelagianismo. Agora, abordarei a comprensão “progressista” da devoção e da missão.

A espiritualidade “progressista”

Os “cristãos progressistas” anseiam por um novo cristianismo, baseado na compreensão de que a fé também está em fluxo, em movimento, em “progresso”. Vivendo em um mundo de fé plural, há da parte destes um anseio por se ter um leque maior de espiritualidade, que una todas as tradições religiosas em uma forma essencial de Unidade. Por isso, vários dos “cristãos progressistas” são panenteístas, adeptos da ideia de que cada um de nós e, às vezes, até a criação seriam o “quarto membro da abençoada Trindade”, o que implica que a plenitude de Deus não está completa até que nos tornemos parte dela. Assim, já que “tudo é Deus e Deus está em tudo”, toda separação entre os seres humanos e a criação se torna pecaminosa. As conexões do fiel com os outros, com Deus e com toda a criação são essenciais à espiritualidade “progressista”.

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A espiritualidade “progressista” é fundamentada no misticismo, almejando a união direta com a divindade. Enfatiza a importância da busca de uma suposta tradição de sabedoria ancestral comunicada diretamente ao fiel e um modo de vida contemplativo, em diálogo com as tradições místicas orientais e até mesmo culturas indígenas. Abraçando o pluralismo e a diversidade, os “progressistas” afirmam que existem muitos caminhos para a devoção e, embora um caminho possa ser escolhido, isso não o torna superior aos demais pois, para eles, a fé é uma “jornada espiritual”. Assim, anseiam por um tipo de síntese religiosa. A partir disso, os “cristãos progressistas” serão críticos e rejeitarão os espaços cristãos tradicionais da espiritualidade, como as igrejas, os mosteiros e centros de retiro. Priorizarão ONGs, agências paraeclesiásticas e, sobretudo, as redes sociais como o lugar de encontro. Buscam se conectar em “igrejas” on-line e “cultos” on-line por meio do Twitter, Facebook, YouTube, blogs e outras mídias sociais. Eles se percebem como “espirituais, mas não religiosos”.

Para a espiritualidade dos “cristãos progressistas”, o único Salvador e Messias não é mais crido – de acordo com o ensino da Escritura Sagrada e o testemunho da tradição – como o filho de Davi perfeito e sem pecado, o eterno e unigênito Filho de Deus que morreu pelos pecados da humanidade. Na devoção “progressista”, Jesus é reduzido a ser um profeta socialista, um professor de sabedoria, um místico de ordem superior, um “palestino” de Nazaré, um camponês revolucionário, que abriria o caminho para o fiel “progressista” viver no mundo de “uma nova maneira”, abrindo mão do “materialismo” e do “consumismo”, reconstruindo a humanidade sob novas bases socialistas.

Na busca por uma síntese espiritual, os “cristãos progressistas” não verão incompatibilidade entre experimentar momentos de adoração, oração, meditação nas igrejas tradicionais, ao mesmo tempo em que se servem de mantras, gathas, ioga, tai chi e kirtan. No fim, não há diferença entre a espiritualidade “cristã progressista”, a espiritualidade judaica “progressista”, a da espiritualidade hindu “progressista” ou mesmo a espiritualidade muçulmana “progressista”, pois, para estes “cristãos”, o século 21 é uma era pós-religiosa.

Alguns desses “cristãos progressistas” são apresentados como “pastores” nos meios de comunicação. Mas estes não são pastores de igrejas locais ou nem estão ligados a uma igreja local ou denominação. É difícil descobrir quando ou qual igreja ou presbitério os ordenou ao ministério eclesiástico. As referências a concílios de ordenação ministerial são vagas e ambíguas. Não raro, são promovidos por partidos de esquerda e extrema-esquerda. Assim, não se deve descartar a possibilidade de que estes “pastores” sejam uma fabricação da imprensa ou do Partido. Ou que a ordenação – caso tenha ocorrido em igrejas históricas – tenha sido mero “acordo de amigos”, passando ao largo das questões doutrinais e éticas realmente vitais e importantes num concílio pastoral tradicional.

Na devoção “progressista”, Jesus é reduzido a ser um profeta socialista, um professor de sabedoria, um místico de ordem superior, um “palestino” de Nazaré, um camponês revolucionário

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Estes “pastores” não representam a igreja evangélica e, na verdade, são completamente desconhecidos da imensa maioria dos cristãos no país. Podem até ter alguma visibilidade nos meios de comunicação e partidos de esquerda e extrema-esquerda – mas não têm representatividade real alguma na igreja.

O tempo presente é marcado por uma ênfase no relativismo. Vivemos sob a rejeição da moralidade objetiva e da verdade absoluta. Se algo parece verdadeiro a uma pessoa ou ao grupo ao qual ela pertence, então deve ser verdadeiro. Se parece certo, deve estar certo. Se parece ser real, então deve ser real. Em outras palavras, os pensamentos e sentimentos das pessoas ou das “tribos” ou grupos a que pertencem são sua autoridade para o que é verdadeiro e real. Nesse sentido, o “cristianismo progressista” é uma rendição e, ao mesmo tempo, o “batismo” de um tempo e cultura pós-cristã e neo-pagã, saturado pela ideologia esquerdista. Como escreve Alisa Childers, “uma característica distintiva do ‘cristianismo progressista’ é a negação da autoridade bíblica. Mas, claro, ninguém opera sem uma autoridade – se você remover uma autoridade, você a substituirá por outra. Normalmente, os cristãos progressistas transferem a autoridade para o que acreditam ser verdade da Bíblia para eles mesmos – tornando-se sua própria bússola moral que inevitavelmente irá refluir e fluir com a cultura”.

O novo “evangelho progressista”

Como visto anteriormente, os “cristãos progressistas” relativizam a Escritura Sagrada, abandonam ou redefinem o conceito de pecado e defendem que a morte de Jesus Cristo na cruz foi um mero martírio. Isso oferece às massas um Jesus mais palatável, um grande professor, um exemplo moral ou amigo amoroso – mas não o Rei guerreiro todo-poderoso, que um dia voltará com o manto encharcado de sangue, para julgar os vivos e os mortos (2Tm 4,1; Ap 19,13).

Assim, o novo “evangelho” da justiça social dos “cristãos progressistas” trata do anúncio da união de pessoas do mesmo sexo e da redefinição do conceito de família; da defesa do aborto; da liberalização das drogas; do antissemitismo e antissionismo; da divisão marxista da sociedade em categorias de opressor e oprimido; de uma política identitária que divide a sociedade, sem nenhum interesse em reconciliação; da crença de que “todos os homens brancos são responsáveis pela opressão branca” e que o homem branco cristão é o opressor, “o diabo”, e “a igreja ‘branca’ é o Anticristo”; da satanização dos opressores e imposição aos indivíduos de pagar por opressões históricas das categorias a que pertencem; e que o Estado controlador, sob o domínio do Partido, pode moldar e controlar a sociedade civil, levando-a a um milênio secularizado. E aqueles que não aceitam este novo “evangelho” são os novos heréticos, fascistas, homofóbicos, racistas e misóginos.

Em suma, a “salvação”, para os “progressistas”, seria alcançada por meio da crença cega na Ideia. Este é todo o “evangelho” dos “cristãos progressistas”. É “pregada” com paixão no âmbito público, e sussurrada nas igrejas, na tentativa de seduzir os que não se submetem à revelação concedida na Escritura Sagrada.

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Todos aqueles que se opõem a este novo “evangelho” dos “progressistas” são agentes de separação, rotulados de heréticos que precisam ser “cancelados” ou eliminados

Como resultado, entre “os adeptos da política de esquerda”, de acordo com Theodore Dalrymple, “há um tom evangélico nas declarações deles, uma triagem do trigo e do joio, das ovelhas e das cabras, dos salvos e dos condenados. Eles não querem apenas mudanças formais, como, por exemplo, uma mudança perfeitamente razoável na lei após o que podem ser anos de discriminação injusta. Eles exigem uma reforma do coração humano e pretendem realizá-la. Também não desejam tolerância, pois tolerar implica aversão ou mesmo desaprovação, uma vez que ninguém simplesmente tolera o que gosta ou aprova. Assim, não basta que as pessoas vivam e deixem viver; eles devem expressar sua aprovação do que antes lhes era desagradável. As consequências totalitárias disso são, ou deveriam ser, evidentes”.

A compreensão de espiritualidade dos “cristãos progressistas” os torna ativistas da justiça social – uma expressão política que se torna mais importante que “ame o seu próximo”. E assim, todos aqueles que se opõem a este novo “evangelho” são agentes de separação, rotulados de heréticos que precisam ser “cancelados” ou eliminados. Não há meio-termo ou meias-medidas para os “cristãos progressistas” alcançarem seus alvos. Por isso, como Tom Martins escreveu, “são cenas comuns no Brasil atual (assim como eram na China maoísta) os escrachos públicos, aulas interrompidas à força, denúncias contra supostos inimigos, amizades e mesmo relações familiares que se deterioram por conta de ideologia política, filhos denunciando pais, além de transformações físicas e um código de linguagem próprio das vítimas da lavagem cerebral ideológica”. Em suma, os “cristãos progressistas” defendem com fervor uma paródia macabra da fé cristã.

A missão da Igreja cristã desvirtuada

O “cristão progressista” concentrará seu fervor e devoção na busca por justiça social. Assim, para os esquerdistas que são membros de igrejas evangélicas, “tudo é missão”. E, para esses, a missão principal da igreja deve ser o anúncio passional das pautas esquerdistas e a esperança da revolução da sociedade.

Assim, os “cristãos progressistas” redefinem o significado da missão cristã. Esta será mais bem percebida não como a comunicação de uma mensagem da salvação realizada uma única vez na cruz e à qual o ser humano não tem como contribuir, apenas receber; mas como a luta para refundar a civilização ocidental, sob as novas bases revolucionárias, rejeitando os antigos alicerces judaico-cristãos. Ao não conseguirem aparelhar as igrejas, os progressistas as desprezarão. Por isso ingressarão em agências paraeclesiásticas ou ONGs, facilmente cooptadas para servir à missão de propagar o novo “evangelho” esquerdista. Na verdade, na autocompreensão dos “cristãos progressistas”, eles se veem como parte de uma igreja superior, a Igreja Vermelha, a única correta e verdadeira.

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Os “cristãos progressistas” tentam subverter a Igreja, a comunidade da Palavra e do Sacramento, lutando para transformá-la em uma mera associação social e humanitária a serviço dos partidos de esquerda ou mero departamento “espiritual” do Estado

Mas foram justamente as igrejas cristãs no Brasil, que não são perfeitas, mas são a Noiva de Cristo, presentes do Oiapoque ao Chuí e do asfalto às favelas, que fundaram em nosso país hospitais, escolas, universidades, orfanatos, asilos, institutos para deficientes visuais e auditivos, etc. A “Cristolândia”, projeto de uma denominação batista brasileira, é exemplo de um programa de prevenção, recuperação e assistência a dependentes químicos, que busca a transformação de vidas por meio do evangelho de Jesus Cristo. Exemplos de diaconia realizados por congregacionais, luteranos, metodistas, presbiterianos e pentecostais no Brasil poderiam ser multiplicados.

E o que os “cristãos progressistas” fundaram no país?

Os “cristãos progressistas” tentam subverter a Igreja, a comunidade da Palavra e do Sacramento, lutando para transformá-la em uma mera associação social e humanitária a serviço dos partidos de esquerda ou mero departamento “espiritual” do Estado. Mas quando isso ocorre, “pastores progressistas”, metidos a intelectuais, ricos e bem-vestidos, não mais cuidam dos membros da igreja – somente os usam a serviço da Ideia. Como escreveu Michael J. Kruger, os “cristãos progressistas” “só se sentirão satisfeitos quando os cristãos abandonarem por completo a afirmação de que o verdadeiro cristianismo possui verdades fundamentais”. Ao fim, estes progressistas são apenas Agitprop de partidos de esquerda e extrema-esquerda infiltrados na Igreja Cristã.

E, como Stephen Neill afirmou, “se tudo é missão, nada é missão”. O que “cristãos progressistas” têm feito é mudar o foco da evangelização global para a transformação social. Há uma ênfase em grupos não servidos em vez de pessoas não alcançadas pelo evangelho. Porém, a igreja é chamada a discipular as nações. Por isso, é necessário afirmar que a Igreja, após se encontrar para louvar o Deus único e trino, proclamará passionalmente a todos os seres humanos em toda a terra que todo ser humano está destituído da glória de Deus e que, por isso, pode ser condenado à morte eterna, e que crer em Cristo Jesus, que, de acordo com a Escritura, morreu e ressuscitou por pecadores, é o que nos assegura a vida eterna. Este é todo o evangelho, revelado na Escritura Sagrada.

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Ah, se os cristãos fossem tão engajados quanto esses “progressistas” no anúncio do evangelho do Senhor Jesus Cristo, que morreu e ressuscitou para perdoar pecadores, inseri-los numa santa igreja, renová-los e lhes assegurar a ressurreição e a vida eterna com Deus!

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]