Bolsonaro deixa local de votação na Vila Militar, na zona oeste do Rio, após votar para prefeito e vereador no último domingo (15): presidente foi alçado à condição de perdedor nas eleições municipais deste ano, mas será mesmo?| Foto: Wilson Júnior/ Estadão Conteúdo

Toda a eleição no Brasil, até para síndico de prédio, tem um elemento que não muda: a intensa fascinação do noticiário político em estabelecer quem ganhou e quem perdeu. É curioso, porque deveria estar claro que ganhou quem ficou em primeiro lugar – já agora ou, se for preciso, no segundo turno. Quem perdeu, dentro da simetria geral do universo, foi quem ficou do segundo lugar para baixo, até o último. Mas não é assim que funciona.

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Dez minutos depois de serem abertas as urnas, já começam as análises interpretativas sobre os reais vencedores. Este ano, com as eleições para escolher cerca de 5,5 mil prefeitos e quase 60 mil vereadores, não foi diferente – embora só se tenha mencionado um perdedor, já que parece impossível cravar ganhadores. Sempre se comenta sobre ectoplasmas como “partidos”, “correntes”, “alianças”, etc, mas vencedor mesmo que é bom, com nome, sobrenome e foto, nada.

O perdedor, segundo a conclusão definitiva dos cientistas políticos, foi o presidente Jair Bolsonaro. Ele teve a boa ideia, lá atrás, de não fazer campanha direta para ninguém, mas as análises olham para outra coisa: que candidatos invocaram o nome do presidente em suas campanhas, ou que se apresentaram como seus aliados, ou que são catalogados como pertencentes à sua turma. Como muitos deles perderam, ou tiveram desempenho medíocre, Bolsonaro já foi condenado como o grande derrotado de 2020.

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Os partidos que obtiveram mais votos – se é que isso quer dizer alguma coisa – foram o MDB, o DEM e o ajuntamento chamado “centrão”. Não dá para chamar nada disso de oposição, mas governo também não é – e, de qualquer forma, o peso do presidente como líder partidário é nulo, já que nunca comandou grupo político nenhum. No momento, aliás, nem partido ele tem. Quis organizar um e não deu certo.

O partido que tinha e sob cuja sigla chegou à presidência da República em 2018 nunca foi comandado por ele, nem por ninguém; forma um bando onde cão come cão, e que só teve os seus 15 minutos de fama porque se jogou na onda de popularidade que levou Bolsonaro ao Palácio do Planalto.

Em suma: se não faturou em cima do vencedor de nenhuma grande capital, ou nenhum centro eleitoral de primeira grandeza, mesmo porque não foi para o palanque, só restou ao presidente a alternativa de ser lançado ao rol dos perdedores. (Seu grande inimigo oficial, o ex-presidente Lula, não elegeu um único prefeito com alguma expressão; o PT foi tão mal, no fim das contas, que ninguém nem sequer lembrou de citar Lula na lista dos perdedores.)

Qual o significado disso para o que realmente interessa do ponto de vista nacional – a eleição presidencial de 2022? Será um outro momento, com outras variáveis, outras realidades e outras condições. Até lá, a única coisa que interessa é ver se aparece, de verdade, um adversário com força eleitoral para derrotar Bolsonaro nas urnas.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
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