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Salário médio na Câmara dos Deputados é de R$ 24 mil, mais que o dobro do salário dos sonhos do brasileiro.
Salário médio na Câmara dos Deputados é de R$ 24 mil, mais que o dobro do salário dos sonhos do brasileiro.| Foto: Luis Macedo/Câmara dos Deputados/Luis Macedo/Câmara dos Deputados

Um emprego de R$ 10 mil por mês não é algo que você encontra por aí, jogado na rua. Milhões de brasileiros, em qualquer lugar do país, iriam se se sentir realizados com um salário desses, na imensa maioria dos postos de trabalho disponíveis hoje no mercado. Para falar a verdade, R$ 10 mil mensais é o que uma boa empresa de tecnologia, por exemplo, paga para um trabalhador já razoavelmente qualificado – várias delas, inclusive, têm tido problemas para preencher as vagas que oferecem por uma remuneração desse tamanho, pois as qualificações exigidas estão acima da competência demonstrada pela maioria dos candidatos.

Sai de cena, à esta altura, o mundo real. Entra, em seu lugar, o mundo da ficção. Um salário mensal de R$ 10 mil, ali, é visto com o desprezo que você tem por uma moeda de 10 centavos, em peso argentino – nem existe, aliás. Nesse mundo, o salário médio – não o mais alto, o médio – é de R$ 24 mil por mês. Só que, para azar seu, essa ficção existe. Pior: é você quem paga cada tostão gasto por ela. É a Câmara dos Deputados da República Federativa do Brasil.

A injustiça mais perversa, como se sabe, é a falsa justiça – e a Câmara oferece ao país, ano após ano, seja lá qual for o governo, um dos seus mais bem montados espetáculos de falsa justiça que a malícia política consegue colocar em cartaz. Vira e mexe socam para cima do cidadão a palavra mágica que faz viver essa falsa justiça: “isonomia”. Esqueça tudo o que os políticos lhe dizem sobre ela, por um excelente motivo: é mentira, pura e simples.

No caso da Câmara de Deputados, segundo eles, isonomia quer dizer “igualdade” de tratamento entre os funcionários – e quem poderia ser contra uma coisa linda como essa? Conversa. “Isonomia” , na prática, é o pé-de-cabra que usam para arrombar a porta da sua casa e ir buscar o seu dinheiro. É simples: eles aumentam os salários da minoria que está no topo da árvore, e daí, por uma questão de “justiça”, aumentam por igual a massa que está agarrada nos galhos de baixo. Se não fosse assim, onde iria parar a igualdade na nossa sagrada casa de leis? O resultado é uma conta cada vez mais monstruosa apresentada ao contribuinte.

Talvez fosse menos safado, em termos puramente aritméticos, se isso mexesse com um pequeno grupinho. Mas não se trata de um grupinho. A Câmara dos Deputados, acredite se quiser, consegue ter no presente momento mais de 16,5 mil funcionários – isso numa hipótese benigna, pois pode ser mais. (Os donos do lugar desenvolveram, ao longo das décadas, uma competência sem igual para embaralhar números, esconder informações e falsificar a verdade.)

Há os efetivos, os de “natureza especial”, os contratados livremente pelos deputados (olha aí a “rachadinha”), os terceirizados – vai pondo. O salário mensal mínimo de um servidor concursado é de R$ 16,5 mil reais, o salário máximo é de R$ 31,5 mil; eis aí a média de R$ 24 mil citada acima, duas vezes e meia a remuneração dos sonhos do cidadão brasileiro que faz trabalho de verdade, e que paga para encher o bucho desse povo todo a cada vez que acende a luz, fala no celular ou põe um litro de álcool no carro. O que recebe deles, em troca? Zero. Somando tudo o que produzem durante um ano inteiro, não sai dali uma única caixinha de chicletes.

Pode dar certo um negócio desses? O que existe aí, tirando a enganação, é uma máquina montada para arrancar dinheiro de quem tem menos e dar a quem tem mais. Misturam a prática da injustiça por má intenção, o erro por incompetência e a inação por preguiça. Isso não é mau governo. É o seu inimigo.

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