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Hipocrisia, Coca-Cola e a nova musa do clima
| Foto: Reprodução Instagram

Em apenas uma hora de voo, um jato particular pode emitir dezenas de toneladas de Co2 na atmosfera, o equivalente a meses inteiros de emissões produzidas por um cidadão europeu médio.

Pois bem, nos últimos dias mais de 400 jatos particulares já voaram para a COP 27, a conferência sobre mudanças climáticas promovida pela ONU que se realiza em Sharm el-Sheikh, no Egito, com o patrocínio da Coca-Cola.

(A Coca-Cola produz plástico e poluição em escala industrial: são centenas de milhões de garrafas descartáveis fabricadas por ano, sem falar na água consumida na produção de refrigerantes. Mas, para a ONU, este é um detalhe irrelevante).

Até o final do evento, no próximo dia 18, outros jatos ainda chegarão, incluindo o que levará o presidente eleito de um certo país da América Latina – um Gulfstream G650 que só na viagem de ida lançará na atmosfera mais de 100 toneladas de CO2, segundo esta reportagem.

Situado na costa da desértica Península do Sinai, o balneário de Sharm el-Sheikh é uma espécie de resort de luxo construído em um país miserável, sem liberdade de expressão e governado por um ditador para atrair turistas super-ricos do Primeiro Mundo.

Seguramente, todos os ilustres passageiros dessas centenas de jatos farão ou já fizeram na COP 27 discursos muito bonitos e previsões alarmistas sobre o meio-ambiente (resumindo, a mensagem é: “Pela vigésima vez, está será nossa última oportunidade de salvar o planeta!”).

Todos enfatizarão a importância de preservarmos o mar, os rios e as florestas para as futuras gerações – e em seguida voltarão a poluir a atmosfera em seus voos de volta para casa, com a consciência limpinha.

Não é uma hipocrisia governantes e ativistas da agenda verde usarem jatinhos altamente pouidores - em vez de aviões de carreira, que provocam danos bem menores ao meio-ambiente?

Não é uma hipocrisia esses governantes e ativistas fecharem os olhos para as reiteradas violações dos direitos humanos cometidas pela ditadura egípcia?

É sobre isso e está tudo bem.

Vai dar certinho, confia

A COP 27 reúne cerca de uma centena de chefes de Estado e de Governo, cada qual querendo se mostrar mais preocupado que o outro com o futuro do meio-ambiente. Mas uma ausência se destaca: a do secretário-geral do partido Comunista Chinês, Xi Jinping.

A China é, disparado, o maior poluidor do planeta, mas seu presidente ignorou solenemente a COP 27, preferindo enviar um emissário mequetrefe. Vai dar certinho, confia.

Segundo entendi, os governantes dos países ricos, que destruíram sem piedade a natureza ao longo de 200 anos, agora querem impor aos países em desenvolvimento regras draconianas (e de eficácia duvidosa) para preservar o que resta das florestas no planeta - ao mesmo tempo em que terceirizam para países africanos a produção de energia suja.

O bom-mocismo climático se baseia na caridade com chapéu alheio.

Em troca pelo cumprimento de metas aleatórias, a ONU oferece a promessa de um dinheiro que nunca chega – e quando chega, se perde na corrupção.

Por coincidência, se cumpridas à risca, muitas destas regras prejudicarão fortemente o agronegócio brasileiro, que está se mostrando um incômodo competidor para a produção local dos países ricos. As regras podem, também, comprometer a soberania brasileira sobre a Amazônia.

Por outro lado, em um cenário de crise energética, frio, inflação galopante e risco de desabastecimento, o humor dos europeus não está tão favorável quanto outrora à agenda verde. Pode demorar, mas em algum momento a realidade acaba prevalecendo sobre a narrativa.

Sai Greta, entra Sophia

Figurinha fácil nas últimas conferências do clima da ONU e outros eventos similares, Greta Thunberg não compareceu à COP deste ano.

Mas não se preocupem: a ONU já inventou uma nova musa do clima. Trata-se da jovem americana (de ascendência iraniana) Sophia Kianni, de 20 anos, que se apresenta como conselheira oficial do secretário-geral das Nações Unidas, o português Antonio Gutierres, com quem aparece na foto abaixo:

A própria Sophia postou a foto em suas redes sociais, com a legenda “Você pode ser conselheira do chefe das Nações Unidas e ainda usar uma roupa fofa! #GenZ”.

Em um post anterior, ela já havia escrito, muito orgulhosa: “Com 20 anos, eu sou a mais jovem conselheira das Nações Unidas. A Geração Z está finalmente na mesa de tomada de decisões”.

Não é um alívio saber que decisões sobre o clima do planeta estão sendo tomadas por uma jovem patricinha de 20 anos? Vai dar certinho, confia.

Em uma terceira postagem, também ao lado de Gutierrez (corre o boato de que a esposa do secretário-geral da ONU já está ficando preocupada, e os figurinos usados pela conselheira na COP já estão provocando uma controvérsia nas redes sociais), Kianni escreveu:

“Sou a conselheira mais jovem do chefe das Nações Unidas. Nós dois temos uma mensagem para os líderes mundiais. Parem de mentir”.

Um trecho do previsível discurso de Sophia Kianni na COP 27 está disponível neste link.

É basicamente a mesma mensagem dos discursos de Greta, em uma versão de mini-saia: os líderes mundiais precisam parar de mentir e começar a agir para salvar o planeta, blá-blá-blá.

Não sei não, acho que em breve Greta será escanteada pelos seus criadores. Mas Sophia Kianni também corre um risco: o de ser cancelada por ser magra e bonita: muitas fotos do seu perfil no Instagram devem provocar gatilho e parecer inadmissíveis para vários grupos identitários.

Verdades inconvenientes

Concluo com algumas verdade inconvenientes, para reflexão do leitor:

  • Carvão, petróleo e gás natural ainda respondem por 82% da energia usada no planeta; a energia nuclear, a hidroelétrica e a biomassa respondem por outros 16%; menos de 2% vêm de fontes limpas, como a energia eólica e a solar - que, realisticamente, não têm como atender às necessidades de consumo do mundo.
  • Combustíveis fósseis continuarão a ser usados nos países em desenvolvimento porque são necessários para extrair as matérias-primas usadas na produção da “tecnologia verde”, apregoada pelos países ricos. Ou seja, mesmo que os países ricos eliminem totalmente o uso de combustível fóssil em seus territórios, os níveis atmosféricos de CO2 continuarão a subir. (A este respeito, ver meu artigo “Michael Moore revela verdades inconvenientes sobre a energia verde”.)
  • Os países que mais emitiram CO2 em 2021, segundo o insuspeito Global Carbon Project, são: China (10,7 gigatoneladas), Estados Unidos (4,7), Índia (2,4) e Rússia (1,6). O Brasil só aparece na lista bem depois, com 0,5 gigatonelada.

O leitor encontrará mais verdades inconvenientes sobre os maiores responsáveis pela poluição do planeta nesta reportagem do portal Poder360 e neste artigo da revista "Forbes".

Não é o Brasil o vilão desta história.

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