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conectados
| Foto: Maryane Vioto Silva/Gazeta do Povo

A tecnologia nos conecta em primeiro lugar a ela mesma: aos aplicativos, às redes sociais, aos computadores e celulares. Através desses intermediadores, nos conectamos ao “mundo”. Mas temos condições, nós humanos, de abarcarmos o mundo diariamente, várias vezes ao dia, como propõe a tecnologia?

É tudo tão interessante, não é mesmo? Observar como as pessoas se comportam em um reality-show (o que consome algumas horas da semana)... Saber como vivem aqueles colegas de escola que agora só vemos em posts no Instagram... Descobrir detalhes sobre a realeza britânica... Veja só! E as notícias que estão disponíveis 24 horas por dia? Não podemos ficar desinformados! Por um caminho ou por outro, nos sentimos obrigados a nos conectar.

A questão que coloco é: ver o mundo através de uma tela nos torna mais conectados ou mais desconectados? Se vamos a um show e mantemos o celular erguido boa parte do tempo e focamos nossa atenção em conseguir uma boa imagem para compartilhar com os amigos... nossa conexão com o momento aumenta ou diminui?

O momento! Nesse contexto, de que ele serve se não for compartilhado? Seja um ótimo espetáculo que assistimos ou o pedido de casamento, o batizado do filho, a festa de aniversário. Dizíamos que quem não é visto não é lembrado. Agora a regra parece ser “quem não é visto não existe”. Soa cruel, mas é como muitos se sentem.

Cada um de nós tem uma opinião sobre a nossa relação com a conectividade integral, visceral e permanente que temos hoje. O que é fato – e não opinião -- é que essa possibilidade de conexão nos torna ansiosos e sôfregos. Há sempre mais. Há sempre novidades. Só o dia continua o mesmo, com 24 horas. Só nós continuamos os mesmos, com capacidade limitada de atenção, com uma vida que não dura para sempre.

Todos são tão felizes naqueles posts, não é? Todos sorriem, são bonitos, estão cercados de amigos. Somos levados a crer que essa é a vida deles. Quando estamos do outro lado, quando somos nós os fotografados que aparecem em posts “felizes”, temos consciência de que caprichamos no sorriso porque é o que se faz diante de uma câmera. Sabemos que saímos daquela situação “perfeita” e fomos para casa enfrentar um problema, talvez uma grande preocupação. Mas nós sabemos apenas sobre nós mesmos. Dos outros, conhecemos a imagem pública, a fantasia. As mídias sociais são estruturadas de forma a nos fazer pensar que aquela é a vida real, que novidades excitantes estão sempre acontecendo, que todos têm opiniões ou comentários espirituosos sobre tudo.

Sei...

A verdade é que vivemos dentro de um cenário em que, quanto mais nos conectamos via tecnologia, mais nos desconectamos de nós mesmos. A tecnologia é um espelho que distorce, que cria ilusões. Esse espelho mágico está por toda a parte. Cabe a nós manter a distância necessária para se colocar fora do alcance viciante da conexão integral.

Desligar para reconectar-se.

Deixar de ouvir para escutar de verdade.

Deixar de ver para enxergar.

A vida dos outros é a vida dos outros e a pior posição, no mundo real, é a de espectador da vida dos outros.

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