• Carregando...
Aizu, Curitiba merecia um japonês assim
| Foto:

Há até bem pouco tempo não eram raros os curitibanos que aproveitavam (ou programavam) viagens a São Paulo para comer em restaurantes japoneses. Não necessariamente na Liberdade, mas em bandeiras consagradas, como Kinoshita ou Jun Sakamoto. Por quê? Por serem diferentes, mais avançados, mais criativos e, evidentemente, mais caros dos restaurantes que tínhamos por aqui.

Shoyu só o que pingar da pontinha. (Foto/ Anacreon de Téos)

Já tivemos também nossos bons tempos, com os balcões de restaurantes ilustres, como Kan e Nakaba, por exemplo, encantando os clientes pela inspiração momentânea dos sushimen. De repente aquele braço esticado à sua frente oferecia um Chu-torô (o atum gordo), um Sushi de Shirauo (filhotes de enguia), um Niguiri de kani-kama japonês com abacate, Hokkigai (um marisco dos mares do Norte), Unagui (a enguia de água doce), vieiras da Coréia, ouriços e tantas outras iguarias raras que só nos faziam estimular o prazer do paladar.

Mas essa época e essas ofertas infelizmente minguaram. Por algumas razões que vão desde o tsunami do Japão (que inundou a usina nuclear de Fukushima, contaminando as águas daqueles mares e impedindo a exportação) até a acomodação natural que os rodízios e as esteiras proporcionaram aos restaurantes japoneses. A opção pela quantidade, que é o que mais atende ao desejo do consumidor em geral. E o resultado de casas cheias não sensibilizou mais qualquer mudança nos critérios. À la carte, no máximo combinados, uns temakis e alguns pratos quentes mais populares, como o yakisoba, o tempurá e mais alguns poucos.

Mas se o consumidor comum estava satisfeito, aqueles mais exigentes sentiram o vazio. Que somente era preenchido com viagens a São Paulo (para não nominar destinos mais longínquos no exterior) e a frustração de não poder mais encontrar a mesma disponibilidade próxima de casa.

Carpaccio de salmão trufado com flor de sal. Para começar bem. (Foto/ Divulgação)

E foi justamente para preencher esse vácuo que surgiu o Aizu Restaurante. Já a partir do desejo de seu proprietário, o renomado médico Edison Azuma, também por princípio um grande gourmet. E que também agora pode deixar de ir buscar o melhor da comida japonesa fora daqui, pois o que está oferecendo é justamente isso, uma linha contemporânea, que permite viajar sem fronteiras.

Portanto, que não se espere do Aizu um restaurante de rodízios e esteiras. Nem de sashimis de todas as espécies em quantidades astronômicas, que é o que mais se tem por aí. Há alguns, bem poucos e específicos, como o Sashimi de atum selado (R$ 36 o par) e o Sashimi de salmão selado com trufas (R$ 47 o par). Alguns cortes mais finos ganham a terminologia italiana: Carpaccio de salmão (R$ 30), de peixe branco (R$ 30), de salmão trufado (R$ 37) e de polvo (R$ 36). E quando o corte é mais fino ainda, quase papel, quase transparente, é o Ussuzukuri (R$ 56).

Ovo de codorna com trufas e tentáculo de lula… (Foto/ Anacreon de Téos)

São algumas das entradas, pois ainda há shimeji, shiitake, tartar especial e uma cumbuca com Edamame (R$ 24) na fava.

E voltam os sashimis para o que poderia ser o início do, digamos, prato principal. São cinco fatias de cada pescado – salmão, atum, peixe branco, peixe da estação, vieiras e polvo -, com os preços variando de R$ 34 a R$ 49, conforme a escolha. E há ainda o Sashimi Aizu, com 15 fatias, a R$ 98.

Atum e foie gras, combinação irresistível. (Foto/ Divulgação)

Os sushis vêm em duplas. De atum, salmão, peixe branco, peixe da estação, polvo, lula, vieira, ouriço, enguia, ovas e Dyo de salmão, com valores entre R$ 22 e R$ 35 a dupla. Ainda há os makis (enrolados), os temakis e o que marca como assinatura da casa, o Aizu Stile, duplas de sushi personalizadas que realmente fazem a diferença. No maçarico há o de salmão (R$ 24) e o de atum (R$ 27), levemente chamuscados por fora e crus por dentro. E ainda o de Salmão barriga (R$ 29) e de Salmão trufado (R$ 29), na discreta combinação de ingredientes, que valem também para o de Polvo trufado (R$ 34) e o de Lula trufado (R$ 34). O Dyo com ovas de salmão (R$ 37) e o Dyo de ovo de codorna trufado (R$ 30) são muito especiais, mas o que marca mesmo dentre esses sushis personalizados é o de Atum com foie gras (R$ 37) numa integração de textura e sabor como havia muito não se sentia.

Tempurá de nori (alga), de polvo e vieira empanada. (Foto/ Anacreon de Téos)

Para tudo isso que vai chegando à mesa ou ao balcão, nada de embeber no shoyu. Aliás, boa parte disso tudo nem combina com o preparado de soja. E, quando usado, com muita parcimônia. Tanto que a chaleirinha (não encontrei outra denominação) de servir tem um biquinho na ponta, justamente para permitir pinga algumas gotas somente, para não roubar o sabor principal. Também não tem wasabi nem o choga-gari (gengibre em conserva), a não ser que se peça.

As robatas, em forma de espetinhos, trazem variações de shimeji com bacon, salmão com vieiras, aspargos com bacon e queijo coalho com mel trufado, entre outras, com valores de R$ 12 a R$ 32. Os pratos quentes oferecem o Peixe branco ao molho de missô (R$ 69), o Beef Shogayaki (R$ 66) e a dupla de Tempurá de camarão (R$ 44) – de bom tamanho. De acompanhamento, o Gohan (arroz) e o Missoshiro.

Cheesecake de tofu, o final feliz. (Foto/ Divulgação)

As sobremesas são mais simples, com poucas opções. De frutas da estação a Brigadeiro de colher ou Pannacota de banana com calda de goiaba, mas o que dá o toque personal é o Cheesecake de tofu com calda de frutas vermelhas. Imperdível para fechar a refeição.

Para se deixar surpreender

O cardápio é bem interessante, como se pode observar. Mas o que mais pega em um restaurante desse gabarito é a capacidade de criação do sushiman atrás do balcão. Aquela expectativa à qual me referi acima, deixando o destino por conta de quem vai criar cada capítulo de sua jornada gastronômica. É aí que surgem as ousadias, as surpresas, os sabores inusitados, entre frios, basicamente, mas também entre os quentes que o chef apronta lá dentro, como um tempurá de nori ou de polvo ou uma vieira grelhada.

Marcos Furtado, Billy Tatsushi e Régis Shiguematsu, o trio que comanda os sabores do Aizu. (Foto/ Divulgação)

E para a concepção e execução dos pratos o Aizu apostou no melhor. O comando da cozinha foi entregue ao chef Régis Shiguematsu (que foi chef e sócio do restaurante Nakka, de São Paulo). O sushiman é Billy Tatsushi (ex-Kinoshita e Nagayama, também de São Paulo), que tem sushi até no nome. E quem completa o trio principal é Marcos Furtado, que fez parte da boa equipe do curitibano Kan.

A proposta do restaurante é marcar pelos ingredientes de primeira qualidade. Por isso, além do que costumeiramente é servido nas casas do segmento, há opções de atum gordo (torô), barriga de salmão, pargo, carapau, olhete, lula fresca, uni, vieira canadense, polvo espanhol e merluza negra.

A variação de saquês de qualidade é uma das prioridades da casa. (Foto/ Divulgação)

A carta de vinhos é pequena, mas com boas opções de champagnes, espumantes, vinhos brancos e tintos. Mas o que impressiona mesmo é a carta de saquês, que vai desde o Hakushika tradicional (R$ 43) a algumas preciosidades, até chegar no Oze No Yukidoke Daijinjo (R$ 470).

O resultado final dessa alquimia toda é intrigante, surpreendente e recompensador. Põe de volta Curitiba no eixo da boa gastronomia japonesa, sem dever qualquer favor ao que se oferece lá fora.

Não é barato, como se pode notar – tal qual lá também não é. Mas vale o preço, pela qualidade dos artigos utilizados e pela seleção de todo ingrediente importado a compor cada item do cardápio. É que o curitibano tem o costume de achar tudo caro por aqui e quando sai (para São Paulo, por exemplo) não se importa em pagar bem mais, o preço justo que se cobra por lá. E que hoje, com o Aizu, é quase o mesmo, justamente pelo investimento nos melhores profissionais e no que de ainda melhor eles possam apresentar. Com a diferença de não se pagar viagem e hospedagem. É só voltar pra casa e sonhar com os prazeres da noite.

Ah, sim, de segunda a sexta-feira, no almoço, além do menu à la carte, há também o prato executivo – cortes de sashimi, sushis, prato quente, missoshiru e sobremesa -, a R$ 74,90.

Aizu Restaurante

Rua Senador Xavier da Silva, 19 – São Francisco

Fones: (41) 3043-0420 e 3043-0421

=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=

Entre em contato com o blog:
Blog anterior: http://anacreonteos.blogspot.com/
Twitter: http://twitter.com/AnacreonDeTeos
E-mail: a-teos@uol.com.br

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]