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Bolsonaro durante comício no 7 de setembro.| Foto: Reprodução

“O ato do Bolsonaro parecia uma reunião da Ku Klux Klan. Só faltou o capuz. Porque não tinha negro, pardo, pobre, trabalhador”, disse o ex-presidente e ex-presdiário Luiz Inácio Lula da Silva sobre as manifestações do 7 de Setembro, o bicentenário do Dia da Independência do Brasil; num comício em Foz do Iguaçu (RJ) na noite de 8 de setembro. Qualquer brasileiro que saiu às ruas no dia ou viu fotos das manifestações sabe que Lula mentiu, mais uma vez. Não que isso seja novidade. As ruas estavam cheias de pessoas e famílias, de todas as cores, de todas as classes sociais, das mais variadas atividades profissionais.

Lula depois tentou consertar o vexame dizendo que se referia ao palanque de Bolsonaro, mas a estratégia não deu certo. O 7 de Setembro não era um ato partidário ou do presidente da República Jair Bolsonaro (embora as ruas estivessem repletas de seus apoiadores), mas manifestações pacíficas de cidadãos brasileiros. Em sua maior parte, o 7 de Setembro foi uma festa cívica para aqueles que gostam de demonstrar o seu amor pelo Brasil. Cada pessoa manifestou da sua forma e exibiu aquilo que entende que deve ser o país. Nada mais democrático.

Com o desconhecimento sobre o próprio povo e desprezo a uma data tão importante (Lula, inclusive, não teve nenhuma agenda pública no dia), é triste que Lula seja, por hora, o candidato à Presidência à frente das pesquisas eleitorais. As manifestações de preconceito de Lula contra negros, pardos, pobres e trabalhadores precisam parar. Não é justo nem democraticamente correto Lula tentar determinar o que os negros, pardos, pobres e trabalhadores façam ou deixem de fazer. Ele não pode querer definir em quem eles votarão ou como eles devem pensar. As pessoas são livres e podem votar em quem elas quiserem, sem qualquer interferência.

As pessoas, independentemente da sua cor, classe social ou atividade profissional, são livres para irem ou não em qualquer manifestação ou local. A cor, classe social, atividade profissional ou qualquer outra característica da pessoa não a obriga a ter um determinado pensamento, opção política ou candidato. Inferir isso é um preconceito que precisa acabar. Isso ataca a dignidade humana e prejudica a democracia brasileira.

É verdade que muitas outras pessoas influentes, descoladas da realidade, também tentaram menosprezar o 7 de Setembro. As discussões sobre o que essa data representa chegaram até mesmo ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Com diversos políticos, como Randolfe Rodrigues (aquele senador que pediu a prisão dos empresários que sofreram com ação ordenada por Alexandre de Moraes) prometendo acionar o TSE e o PDT realmente fazendo isso contra as manifestações do Dia da Independência, como se essa data pertencesse a alguém.

A cor, classe social, atividade profissional ou qualquer outra característica da pessoa não a obriga a ter um determinado pensamento, opção política ou candidato

“Laço fora, soldados! Viva a Independência e a liberdade do Brasil”, disse Dom Pedro I, o primeiro imperador do Brasil e proclamador da Independência da nossa nação em 1822. “De hoje em diante estão quebradas as nossas relações. Nada mais quero com o governo português e proclamo o Brasil, para sempre, separado de Portugal”, disse antes o monarca. Assim, como, 200 anos depois, celebrar a nossa Independência, o primeiro marco de liberdade política no Brasil, seria um ato fascista, ou mesmo comparável às ações criminosas, racistas e supremacistas da Ku Klux Klan? Além de infeliz, essa declaração do Lula ofende todos os cidadãos que, livremente, foram às ruas festejar a nossa pátria.

Celebrar o 7 de setembro é um ato de civismo. E já que o civismo tem sido discriminado e confundido com ações e atos políticos moralmente reprováveis em nosso tempo, vale lembrar, aqui, o seu significado. “Dedicação pelo interesse público ou pela causa da pátria; civilismo, patriotismo”, define o dicionário Michaelis. Já o Priberam define como: “1. Zelo em contribuir para o interesse público. 2. Respeito pelos valores de uma sociedade, pelas suas instituições e pelas responsabilidades e deveres do cidadão.”

O matemático e filósofo Bertrand Russell fez a seguinte sentença: “Sem moralidade cívica, as comunidades perecem; sem moralidade pessoal, sua sobrevivência não tem valor.” Embora Bertrand Russell seja polêmico e eu tenha diferenças com o seu pensamento, nesse ponto, ele não poderia estar mais certo. O que é uma nação sem civismo? Nossos símbolos transmitem valores que devem ser usados e lembrados. Além de uma guerra de narrativas, a discussão sobre o 7 de Setembro é um debate de valores. Quando o amor pelo nosso país e o orgulho da pátria se tornaram uma ameaça?

Além disso, a data foi marcada por manifestações e críticas de diversos brasileiros aos Poderes constituídos e práticas que, em suas visões, precisam mudar. Seja pelo lado liberal ou conservador, tem sido consenso entre milhares de  brasileiros que o país ainda precisa alcançar outras independências, manifestações essas que estão longe de serem fascistas, mas demonstram preocupação com a nação. A jornalista e apresentadora Carla Cecato, por exemplo, disse: “Não é sobre Bolsonaro, é sobre o Brasil. Não é sobre cores, é sobre liberdade. [...] Hoje, vá às ruas pelo seu filho. Pelo seu avô, pelo seu pai.”

São 200 anos de Independência, mas a verdadeira Independência devemos conquistar todos os dias, garantindo nossos direitos e liberdades individuais, sem retrocessos. O poder emana do povo, e é este povo que vai às ruas celebrar sua Independência. E que, legitimamente, pode fazer críticas políticas sem ser reprimido. Não é querendo rotular ou definir o que negros, pardos, pobres ou trabalhadores devem pensar e fazer que iremos evoluir como nação. É, sim, respeitando as escolhas individuais e garantindo nossas liberdades.

O Brasil tem muitos problemas a resolver: nos falta liberdade econômica, segurança jurídica, saúde, educação de qualidade, segurança em relação aos criminosos, respeito à liberdade de expressão, e muitos outros. Porém, o civismo e o amor à pátria que nos restam estão longe de integrar a lista de coisas a resolver. Pelo contrário, são as atitudes e sentimentos que devem nos guiar a conseguir vencer os obstáculos que faltam. Uma manifestação pacífica e, especialmente, a celebração do Brasil Independente, não pode ser comparada a um ato fascista ou supremacista. Esse preconceito precisa acabar!

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