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Bustos foram levados por ladrões na Praça Santos Andrade | Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
Bustos foram levados por ladrões na Praça Santos Andrade| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

Roubos e destruição de monumentos, de partes de pontos de ônibus e até de iluminação de Natal. Deterioração de placas informativas, calçadas e bancos de praça. Quem circula por Curitiba, principalmente a pé, pode perceber que há tempos o Poder Público tem tido dificuldades em evitar o vandalismo, ações de ladrões ou mesmo acompanhar a própria ação do tempo.

Entre as ocorrências que mais chamam a atenção estão os sumiços de estátuas e suas placas, tratados como sistemáticos pela Guarda Municipal, que vê os furtos como uma evolução dos delitos já comuns em cemitérios.

De estátuas a pontos de ônibus: Curitiba foi “depenada” em 2017

Outro problema comum está nos pontos de ônibus. Feitos em parte de alumínio, os equipamentos também são alvo visado de ladrões - em índices até maiores que grandes capitais como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.

Em época de contínua recessão, com baixa arrecadação e crescente abismo social, não é surpresa que os impactos acabem sendo sentidos até nos mais simples equipamentos públicos. Mas especialistas apontam que sempre há o que fazer para melhorar.

Pertencimento

O vandalismo responde por uma parte importante das ocorrências e age como uma espécie de sintoma de um problema ainda maior — a falta de pertencimento da população com a cidade. Para a urbanista Débora Rocha, planejamentos urbanos mais humanizados, e não pensados “de cima de um avião”, podem trazer de volta esse sentimento aos cidadãos que, por sua vez, mobilizam a administração a cuidar melhor do espaço público.

Nem mesmo os pontos de ônibus escaparamAniele Nascimento/Gazeta do Povo

“Essa deterioração é sintoma de algo mais profundo, cultural. [O vandalismo] é como um grito: ‘não me sinto mais dono da cidade’”, explica Débora. Um exemplo recente é o da Rua São Francisco, que passou por uma regeneração fruto de iniciativas conjuntas da sociedade – no caso da Praça de Bolso do Ciclista – e do Poder Público, que em parceria com a iniciativa privada promoveu a reforma das calçadas e da iluminação.

Ao se referir à presença do Estado, Rocha não cobra apenas a necessidade de policiamento. “A luta contra o crime é como abanar fogueira. Ali há totem com câmera, sempre tem carros e motos da Guarda Municipal (GM), mas [os problemas] continuam”, observa.

Para a urbanista, pequenas atitudes como fomentar feiras e atividades com crianças, aos poucos vão estimular os cidadãos a usar mais o espaço público. “A cidade convida o ser humano a sair, a se relacionar nesse espaço, que assim vai regenerando e sendo restabelecido”, completa. “Então as pessoas, mesmo de dentro de suas casas, mantêm um vínculo e cuidam desse espaço”.

O tempo também foi um vilão em CuritibaAniele Nascimento/Gazeta do Povo

Para incentivar essas iniciativas, Débora diz que nem sempre é necessário muita ação: às vezes, basta apenas não interferir. “O Poder Público ainda está nessa cultura de reger as relações da cidade, de dizer o que pode e o que não pode. Assim fomos perdendo liberdades”, afirma. “Mas a democracia representativa não dá mais conta das exigências que temos”, explica.

E quando as demandas chegam, diz ela, o estado tem a chance de aproveitar essa energia e “sair um pouco da dependência do dinheiro”. Para isso, ela afirma que é necessário que a administração também esteja aberta às iniciativas que as pessoas trazem. “No Bosque Gomm, onde foi negociada uma gestão compartilhada com a sociedade civil, a primeira reação para ideias ‘estranhas’ era de não permitir”, recorda.

Herança

Só que a questão não é apenas cultural, mas também financeira e administrativa. Para o professor da PUCPR Denis Rezende, pós-doutor em administração pública, a deficiência de caixa herdada do último mandato influi na manutenção pública, mas o problema é mais antigo. “Não é desse governo nem do anterior. Faz pelo menos 20 anos que a prefeitura vem sofrendo deficiências de caixa”, relembra.

Segundo ele, a maior parte do orçamento é destinada a despesas com folha de pagamento, saúde e educação. Com isso, sobram apenas cerca de 10% do orçamento anual para outras atividades —e a manutenção dos equipamentos urbanos é apenas uma delas.

Na Linha Verde, apenas a base dos postes ficouAniele Nascimento/Gazeta do Povo

De acordo com Rezende, o que acaba sendo determinante na hora da administração definir para onde vai essa sobra é a participação cívica da população, cobrando os governantes nem só na hora de votar. “Nós não nos envolvemos com isso, temos uma posição passiva”, diz. Como resultado, os consertos vão sendo deixados para os últimos anos dos mandatos.

O professor sugere, ainda, alguns setores para cortar gastos, como as verbas de publicidade e também a folha de pagamento. “Ainda temos muitos funcionários comissionados”, avalia. Hoje o total de comissionados na prefeitura de Curitiba gira em torno de 500, número que a administração alega ser baixo comparado a outras capitais do Brasil, mas ainda não ideal para Rezende.

Do lado de fora dos gabinetes, algumas mudanças já podem ser vistas. Segundo a prefeitura, 22 praças de Curitiba já foram recuperadas e nova iluminação implantada nas ruas, parques e ciclovias — embora muitas delas já tenham sido alvo de criminosos, como os postes da Linha Verde. Além disso, a administração municipal destacada os mutirões de serviços feitos em cinco das dez regionais da capital, que ajudaram a trazer a população para o espaço público. A promessa do prefeito Rafael Greca (PMN) é que, em 2018, as outras cinco recebam equipes e eventos semelhantes.

Casos recentes de danos em equipamentos públicos

Monumentos

Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

Em novembro, uma publicação do prefeito Rafael Greca nas redes sociais trouxe novamente à tona o problema de furto de bustos e placas na região central da cidade. A foto divulgada era do busto do professor João Macedo Filho, que foi encontrado no chão da Praça Santos Andrade, supostamente sendo preparado para ser furtado. Os furtos seguem a linha dos cometidos em cemitérios.

Pontos de ônibus

Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

Também em novembro, pontos de ônibus de Curitiba passaram a ser alvo dos criminosos. Isso porque parte dos abrigos do transporte público é feita de alumínio, metal que tem um certo valor no mercado.

Bancos

Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

Na Boca Maldita, o problema foi a ação do tempo: em setembro, dezenas de bancos da calçada encontravam-se quebrados, lascados, com a madeira amolecida ou, no mínimo, com a pintura descascada. A manutenção teve que ficar para os meses de outubro e novembro, aproveitando as melhorias programadas para as comemorações de Natal.

Bueiros

Letícia Akemi/Gazeta do Povo

Em julho, 85 tampas de bueiros foram furtadas das ruas do bairro Campo de Santana. Os ladrões tiveram que carregar quase 1 tonelada de peso para lucrar cerca de R$ 255 com a “operação”. Já o prejuízo ao município foi de R$ 36 mil em materiais e mão de obra para a reinstalação das peças.

Iluminação

O Jardim Botânico também não foi poupado. No último dia 3 de dezembro, criminosos furtaram um projetor de LED e arrebentaram os cabos de energia, comprometendo a iluminação cênica da estufa do parque.

Uma semana antes, 450 metros de cabos e uma luminária tinham sido furtados do viaduto da Marechal Floriano. Desde o início do ano, a Prefeitura já registrou mais de 50 furtos de luminárias. Só entre julho e setembro criminosos serraram 23 postes só na ciclovia da Linha Verde Sul. No bairro Rebouças, ação semelhante aconteceu com postes na calçada. Como a base feita de fibra pode ser facilmente serrada, a Prefeitura passou a concretar o miolo dos postes.

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