Hospital Evangélico, em Curitiba, implantou medidas restritivas em diversos setores| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

Limitados por uma crise financeira que se arrasta há anos, os atendimentos do Hospital Evangélico, em Curitiba, continuam sendo uma caixinha de surpresas para pacientes. “Dia tem, dia não tem atendimento. É assim há pelo menos quatro anos”, afirma a pescadora Juliane Correia Passos, de 43 anos. Na manhã desta quarta-feira (3), ela reclamava por ter perdido mais uma viagem entre Matinhos e Curitiba na tentativa de conseguir os exames solicitados pelo médico há dois anos. Juliane tem nódulos nos dois seios, relata dor e convive com o medo gerado pelo aumento perceptível das lesões. Por isso, ao menos uma vez por mês, viaja para capital para brigar por um retorno no Evangélico.

CARREGANDO :)

“Você vem um dia e eles dizem que estão com a máquina quebrada, vem em outro não tem funcionário, em outro o especialista não tem agenda. Eu faço acompanhamento aqui há sete anos. No começo, até café da manhã eles davam. Agora, com muita sorte você consegue uma consulta”, relata a paciente. No ano passado, ela teve de fazer exames por conta própria para checar a situação dos nódulos.

Essas barreiras impedem Juliane de fazer os exames – um ultrassom de mamas e um estudo de urodinâmica, desde junho de 2015. Com tamanha dificuldade, ela acabou desistindo do tratamento no Hospital Evangélico. Nesta quarta, veio decidida a pedir transferência para o Hospital Erasto Gaertner, referência no atendimento a pessoas com câncer. Por volta das 9 horas, a pescadora aguardava do lado de fora do hospital. Não conseguiu nem chegar a quem poderia ajudá-la a começar o trâmite de transferência do tratamento.

Publicidade

“Se eles fizessem por aqui, conseguiria a transferência imediatamente. Mas se eu for começar todo o processo por um posto de saúde, vou entrar na fila e pode demorar. Aqui eles dizem que não tem data prevista para eu consultar com o mastologista e eu preciso de acompanhamento para agora”. Mesmo sem conseguir nada na manhã desta quarta, a pescadora decidiu não voltar ao litoral. Vai ficar na casa do irmão em Curitiba para retornar ao hospital na quinta-feira (4).

Juliane Correia Passos (esquerda) e Lucas Cavalines. Os dois pacientes brigam por consultas no Hospital Evangélico 

Medidas restritivas

Com um novo episódio de falta de insumos, o Hospital Evangélico confirmou ter implantado, na segunda-feira (1º), “medidas restritivas” em diversos setores, sem detalhar, quais mudanças foram adotadas no atendimento diário. A instituição não confirmou falta de especialistas e limitou-se a dizer, em nota, que nenhum setor está fechado ou interrompido. Mas pacientes seguem encontrando problemas.

O agente de saúde Lucas Cavalines, de 22 anos, veio nesta quarta-feira, pela quarta vez no ano, de Cianorte, Noroeste do Paraná, tentar uma consulta de retorno com um otorrinolaringologista. Finalmente conseguiu agendar. Mas não para agora. Será preciso esperar até o próximo dia 18. Assim, ele terá de vir à capital pela quinta vez em cinco meses para conseguir a consulta. O saldo será de R$ 1.350 a menos no bolso por causa das passagens de ônibus, já que a prefeitura de Cianorte cancelou o transporte gratuito de pacientes para Curitiba.

“Para mim fica muito claro que á um problema de administração. E não é só. Não há comunicação com os pacientes. Eu não precisaria ter vindo quatro vezes aqui, perder dia de trabalho, gastar com passagem e comida para ouvir um não de perto. Mas, quando a gente liga eles dizem que não podem passar esse tipo de informação por telefone. Isso se chama calamidade”, reclama o paciente.

Publicidade

Cavalines foi submetido a uma cirurgia no nariz no ano passado. Ainda esse ano, teria que passar por uma rinoplastia, mas, segundo ele, foi avisado que esse tipo de cirurgia está suspenso desde janeiro – o de menos para o agente de saúde. “Bem, consegui a consulta e já considero bom demais”, define.

O Hospital Evangélico disse que as medidas restritivas foram aplicadas para “manter o atendimento à população em sua capacidade máxima” e que, apesar das dificuldades, “no mês de abril o hospital conseguiu manter o atendimento quase em sua plenitude, índice que vem se esforçando para manter ou mesmo superar em maio”.