| Foto: Gerson Klaina/Tribuna do Paraná/

Das dez Unidades Paraná Seguro (UPS) instaladas em Curitiba, apenas quatro permanecem ativas. As unidades foram ficando obsoletas e, devido aos custos, a maneira com que elas eram utilizadas, e a forma de trabalho, as UPS deixaram de cumprir o objetivo inicialmente projetado.

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Lançado pelo ex-governador Beto Richa, em 2012, o projeto era inspirado nas Unidades de Polícia Pacificadora, do Rio de Janeiro, e previa 10 unidades em Curitiba. Foram escolhidas localidades com altas taxas de criminalidade, com ocorrência de tráfico de drogas e homicídios. A intenção do governo do Paraná era a de tornar a Polícia Militar (PM) mais presente e próxima da população, como uma verdadeira polícia comunitária. A presença dos policiais nos bairros de uma forma fixa e mais efetiva funcionou, já que os números de mortes caíram quase pela metade nos locais onde elas foram instaladas. No entanto, com opiniões divididas e altos custos, as UPS aos poucos foram deixando de existir. Atualmente, ao contrário do que se almejava em 2012, elas têm o futuro totalmente incerto.

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“A verdade é que a UPS era um local criado pelo ex-governador do Paraná, Beto Richa, para mostrar trabalho à população e aparecer. Funcionava mais como um enfeite, decoração”, desabafou um policial que, assim como todos os outros PMs ouvidos, pediu para não ser identificado por medo de represálias.

Mesmo com esse aparente DNA figurativo, as UPS funcionaram. A quantidade de homicídios diminui consideravelmente em todas as regiões. De janeiro a setembro de 2012, época em que as unidades começavam a ser instaladas, haviam sido registrados 81 mortos na CIC. No mesmo período de 2018, por exemplo, o número caiu para 42. E foi assim em todas as unidades. No Sítio Cercado as mortes caíram de 39 para 25, de 38 para 12 no Cajuru, 37 para 22 no Tatuquara, 30 para 6 no Uberaba e 11 para 5 no Parolin.

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A primeira UPS foi implantada no bairro Uberaba e a segunda no Parolin. Seis anos depois, apenas a primeira continua ativa. Dos seis bairros que receberam o policiamento diferenciado, a Cidade Industrial de Curitiba (CIC) foi o que recebeu o maior número de UPS: cinco no total. O bairro era, em 2012, a região mais crítica da cidade nos registros de mortes. Das UPS instaladas na CIC, sobraram apenas duas. A Unidade da Vila Osternack, no bairro Sítio Cercado, deixou de existir já em 2017. Na época, uma denúncia da Tribuna mostrou que o local já não estava mais com policiais há muito tempo e que tinha se tornado um mocó, ocupado por usuários de drogas.

Bom ou ruim?

 
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No dia em que os policiais retiravam tudo da UPS do Caiuá, a reportagem esteve no local e conversou não só com os PMs, mas também com moradores. As opiniões, como em tudo que envolve a segurança pública, estavam divididas. “Nós nem podíamos sair da UPS. Não podíamos fazer nada além de ficar no módulo atendendo telefone e registrando boletim de ocorrência”, comentou um PM, que não fazia parte daquela unidade, mas que conhecia a rotina. Da CIC, a UPS Caiuá foi uma das primeiras a ser retirada.

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Em uma semana, o espaço já estava totalmente desocupado e os moradores assustados. “Era um local que nos trazia, pelo menos, a sensação de segurança. Lutamos muito por essa UPS, para que ela não saísse da nossa região. Ao mesmo tempo, lidávamos com uma precariedade em necessidades básicas dos policiais, que não tinham sequer um local bom para esquentar a comida e ficavam no calor desse contêineres que, no verão, esquentam muito”, lembrou um morador, que também preferiu não ser identificado.

O homem, que vive na região há 30 anos, disse que os policiais que trabalhavam na UPS do Caiuá passaram por muitas situações complicadas por falta de estrutura. “Até esgoto já chegou a entrar no módulo. Hoje em dia estavam bem, porque até ar-condicionado conseguiram e a situação melhorou, mas foi bem difícil o caminho para chegar até o que desmancharam agora”, lamentou. Segundo ele, que se apresentou como líder comunitário, a população não se preocupava muito com o pouco que os policiais conseguiam fazer. “Tentamos até conseguir um espaço físico para eles, como um imóvel, mas não conseguimos autorização. Só de estarem aqui já nos davam a sensação de segurança. Se com eles aqui já era perigoso, imagina agora sem eles”.

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Próximo do Caiuá, outra UPS que também foi desativada foi a da Vila Nossa Senhora da Luz. Considerada pelas forças de segurança como uma das regiões mais perigosas de Curitiba, a vila agora deixa de ter a presença efetiva dos PMs e isso desagradou a população. “Nós sabíamos dos problemas todos, que os policiais não podiam fazer muito pela gente, mas é aquela boa sensação de ter a polícia perto, né?”, comentou uma moradora, que também não quis se identificar.

Controlada pelo tráfico de drogas, a Vila Nossa Senhora da Luz desde sempre foi um grande foco de atenção da polícia quando se falava de homicídio e se tornou um lugar que pouca gente se arrisca a entrar. “Com a UPS, tínhamos até mais ânimo em dizer aos amigos que podiam vir nos visitar, porque sabíamos que o risco era menor. Mas agora estamos apreensivos”, relatou a mulher, que tem 38 anos e que nasceu ali.

Aluguel caro

 

Entre todos os PMs entrevistados, uma opinião era comum: o custo do aluguel para manter as UPS era altíssimo. “Só na do Caiuá, por exemplo, R$ 7 mil por mês. Tem noção de que, com esse valor, você alugaria um imóvel enorme na CIC e ainda sobraria dinheiro?”, contou um dos PMs. O alto custo dos aluguéis dos contêineres para manter as UPS foi um dos motivos que teria feito a PM desistir do projeto. “Sobraram somente as unidades que ficam em imóveis que não são alugados e que estão ligadas a algum outro prédio da própria PM. Mas, cá entre nós, era realmente um custo desnecessário já que os policiais ficavam presos e não podiam ajudar em nada a população”, disse o policial.

Segundo os policiais, a presença de um PM dentro da UPS era vista por muitos dos colegas de farda como figurativa. “E ainda nos colocávamos em risco, porque ficávamos sozinhos. Mas para a população era até ridículo, se viesse alguém pedir socorro, tínhamos que pedir que a pessoa ligasse para o 190, porque nem viatura podíamos mandar para atender à necessidade do cidadão, mesmo sendo um módulo da PM”.

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O ponto positivo da UPS era, na avaliação dos policiais, o sentido de polícia comunitária. “Ao longo dos seis anos de duração, a população começou a entender que não éramos inimigos e sim que estávamos lá para ajudar. Fizemos muitos boletins de ocorrência para quem vivia na região e, de algumas pessoas, nos tornamos até amigos”, contou outro PM entrevistado pela Tribuna.

Sem retorno

A reportagem solicitou informações e posicionamentos da Polícia Militar e da Secretaria de Segurança Pública do Paraná sobre o planejamento e a eventual desativação ou remodelagem do projeto da UPS há pelo menos uma semana, mas não houve retorno.

Como a Polícia Militar não se posicionou sobre o assunto, não se sabe qual vai ser o real futuro das UPS e se elas serão substituídas por algum outro projeto ou modal de segurança. À reportagem, a Casa Civil do governo do Paraná informou que, por conta da mudança de gestão, o planejamento setorial ainda está sendo feito por cada secretário, que tem até 90 dias para apresentar o plano de ação dentro do compromisso de campanha do novo governador Carlos Massa Ratinho Junior (PSD). Por enquanto, ainda não foi apresentado o planejamento no que diz respeito à segurança pública ou à Polícia Militar, especificamente.

Situação das UPS em Curitiba

UPS Uberaba: Ativa

UPS Parolin: Desativada

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UPS Sabará: Ativa

UPS Vila Verde: Desativada

UPS Vila Nossa Senhora da Luz: Desativada

UPS Caiuá: Desativada

UPS Osternack: Desativada

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UPS Vila Sandra: Ativa

UPS Tatuquara: Ativa

UPS Cajuru: Desativada