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Abordagem fônica é a mais eficaz para alfabetizar, afirmam cientistas
| Foto: Unsplash / Reprodução

Atualizada em 29 de outubro de 2019, às 14h30.

A abordagem fônica é, de longe, o meio mais eficaz para alfabetizar. Isso porque ela contempla muitos dos componentes essenciais para a aprendizagem da leitura e da escrita. Essa foi uma das conclusões tiradas por pesquisadores e cientistas que participaram da 1ª Conferência Nacional de Alfabetização Baseada em Evidências (Conabe), organizada pelo Ministério da Educação (MEC).

Como a escrita e a leitura são invenções humanas, o cérebro não aprende essas operações naturalmente, como ocorre com a fala. Por isso, tentar alfabetizar, como sugerem algumas abordagens construtivistas, pelo “descobrimento”, em que a criança participa de uma espécie de “jogo de adivinhação”, demora mais e deixa lacunas na aprendizagem. O ensino direto e sistemático é mais rápido e dá a base necessária para a criança avançar, o que também influencia na autoestima e diminui a evasão escolar nos anos seguintes.

“Para compreender textos, a criança precisa ler com fluência, precisa dominar a decodificação. Há todo um passo a passo que o currículo das escolas brasileiras, infelizmente, está desconsiderando”, explica Carlos Nadalim, educador e Secretário de Alfabetização do MEC.

O método fônico, poucas vezes adotado de forma sistemática no Brasil (cartilhas como a “Caminho Suave” não são exemplo de método fônico), foi indicado pelos especialistas como o melhor caminho para ensinar a ler, tanto para crianças com vulnerabilidade social quanto para as de famílias com melhor poder aquisitivo.

Pesquisas na área de neurociência foram apresentadas no Conabe por especialistas internacionais – como Linnea Ehri, do Centro de Graduação de Nova York; Catherine Snow, de Harvard; Kenneth Pugh, do Haskins Laboratories; entre outros – e nacionais, como Augusto Buchweitz, doutor e pesquisador do Instituto do Cérebro e professor da Escola de Ciências da Saúde da PUC do Rio Grande do Sul; Ana Luiza Navas, da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (FCMSCSP); Fernando Capovilla da Universidade de São Paulo (USP); Vitor Haase, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Luiz Carlos Faria da Silva, Universidade Estadual de Maringá (UEM).

Os especialistas também ressaltaram que é preciso deixar de alfabetizar de forma "ultrapassada" para ter melhores resultados. No Brasil, mais de 50% das crianças terminam o 3º ano do ensino fundamental sem saber ler ou escrever.

“Infelizmente, existe uma cultura ineficaz muito compartilhada no Brasil. Pelas autoridades do Ministério, nos documentos públicos, nas faculdades de educação, nas capacitações promovidas pelos vários órgãos que se repete nos livros didáticos e nos materiais que chegam às escolas diretamente ou indiretamente via programas públicos de alfabetização. Então, é um mundo de equívocos que se consolidou e que agora parece que o governo, sobretudo o MEC, está disposto a enfrentar”, disse João Batista Oliveira, presidente do Instituto Alfa e Beto, também palestrante na Conabe.

Urgência na mudança da formação de professores

“Para alfabetizar melhor, é preciso formar melhor os educadores”, afirmou Cláudia Costin, professora visitante na faculdade de educação de Harvard e diretora do centro de políticas educacionais da Fundação Getúlio Vargas, em uma das conferências da Conabe. Ela insistiu que melhorar a formação do professor e a relação dele com a criança deve ser o foco das políticas públicas em alfabetização.

“Uma coisa que funciona muito bem é a formação continuada de professores com materiais curriculares de alfabetização bem feitos. Também é importante o professor alfabetizador que segue a turma: ele dá aula no primeiro, segundo e terceiro ano para a mesma turma. A vantagem é que ele não vai deixar a responsabilidade da alfabetização para o professor do ano seguinte e pode trabalhar a conexão com os alunos”.

Para Cláudia o investimento financeiro e reconhecimento dos professores também são necessários. “A baixa atratividade da carreira de professor tem a ver com salário sim. Precisamos pensar em como fazer jovens do ensino médio quererem cursar educação; e ainda reconhecer as boas práticas e dar visibilidade a elas”.

Leia também: Se é muito fácil ser professor, a profissão é desvalorizada

Política Nacional de Alfabetização

Lançada em agosto de 2019, a Política Nacional de Alfabetização (PNA) dá ênfase em seis componentes essenciais na alfabetização, baseada em evidências científicas: consciência fonêmica (que ensina às crianças os fonemas), instrução fônica sistemática (que leva o aluno a aprender a relação entre as letras e os sons), fluência em leitura oral, desenvolvimento de vocabulário, compreensão de textos e leitura escrita.

Dentro das políticas públicas do governo está a adesão do Brasil ao PIRLS (Progress in International Reading Literacy Study), exame internacional que vai testar a capacidade dos alunos do 4º ano em leitura e compreensão de textos. Os resultados serão comparados com 50 países que também aplicam o exame, como Inglaterra, França, Estados Unidos, Suécia e Portugal.

Em abril de 2020, o MEC divulgará o Relatório Nacional de Alfabetização Baseada em Evidências (Renabe), a partir do que foi discutido na Conabe.

Assista também (abaixo): "O Brasil não alfabetiza bem porque não segue evidências científicas"
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