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Lockdown no parque da Disney em Xangai, China
Medidas rígidas de enfrentamento à pandemia de Covid-19 na China foram impostas ao longo de três anos| Foto: EFE/EPA/ALEX PLAVEVSKI

Na contramão da maior parte do mundo, desde que a pandemia estourou, o ditador chinês, Xi Jinping, se orgulha da política sanitária adotada pelo gigante asiático. Fortes restrições de circulação, testagens massivas e obrigatórias (por vezes forçadas), fronteiras fechadas. "Três anos sem liberdade", como diziam alguns cartazes de manifestantes chineses nos protestos que ganharam força no país desde o mês passado.

Diante da pressão, apesar da tentativa do regime de abafar as manifestações e controlar a divulgação sobre a dimensão da insatisfação popular, Xi Jinping não apenas reduziu o rigor das medidas, como decidiu solicitar aos veículos de comunicação locais que não usem mais o termo Política Covid Zero, que até então ele utilizava como propaganda. Desde 7 de dezembro, a estratégia tão defendida por Xi por quase três anos foi abandonada.

Com a variante ômicron circulando em nova onda, os primeiros resultados da mudança no discurso sobre a Covid-19 se evidenciam. Uma pesquisa publicada na quinta-feira passada (15) pela revista The Beijinger com 3 mil expatriados na capital Pequim indica que 9% deles tiveram Covid-19 antes de dezembro, 58% neste mês e que apenas 33% não testaram positivo. Entre as pessoas infectadas, 30% tiveram apenas sintomas leves, 52% moderados e 14% graves ou muito graves.

O número de pessoas em cuidados intensivos aumentou 37% entre 12 e 15 de dezembro, segundo o jornal Le Monde. Na sexta-feira passada (16), alguns crematórios de Pequim disseram que os funcionários trabalhavam 24 horas por dia, sem descanso, para atender a demanda. Nesta quarta (21), a agência Reuters noticiou a presença de dezenas de carros funerários formando filas em um crematório também na capital.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), no entanto, a retirada das medidas não é o que agrava a situação no país.

“A explosão do número de casos de Covid-19 na China não está ligada à flexibilização da política de Covid Zero. Começou muito antes”, observou Michael Ryan, chefe do programa de emergências de saúde da OMS, na semana passada.

As autoridades médicas internacionais destacam que um dos maiores agravantes é a baixa taxa de vacinação da população idosa, mais suscetível a desenvolver formas graves da doença.

Além disso, a China resiste a vacinas estrangeiras e se apoia em imunizantes produzidos no país, que não são tão eficazes contra a ômicron.

O caro troféu de Xi Jinping 

Em 16 de outubro, Xi selou seu posto na ditadura chinesa, mudando regras, retirando a idade máxima permitida para exercer a presidência e garantindo que estará como número 1 do país por tempo indeterminado. No Congresso do Partido Comunista Chinês (PCC), além de se manter no cargo mais alto da China, ele destacou sua política de combate ao coronavírus.

“Nós mantivemos a política dinâmica da Covid Zero e travamos uma guerra popular e global contra a epidemia, de modo que a vida e a saúde de nossa população foram protegidas ao máximo”, declarou Xi durante o evento.

Um discurso que remete a outra fala do ditador, em 2020, no início da pandemia, quando ele já demonstrava se opor à forma como o Ocidente combateria o coronavírus.

“A Covid-19 é um grande teste da capacidade de governança dos países”, afirmou Xi Jinping por vídeo perante a Assembleia Geral das Nações Unidas.

Desde então, ao preço de arrancar a liberdade da população, a China divulgou dados sobre a disseminação da doença e de mortes com percentuais muito menores do que apresentavam os países ocidentais, mas, naturalmente, encarados com ceticismo mundo afora.

Custou caro. A desaceleração da economia do país, relacionada em grande parte às medidas restritivas da política sanitária chinesa,  foi um dos fatores que impulsionaram parte da população a protestar contra a Covid Zero.

Agora, a população não só está exposta ao vírus - como já poderia ter sido, aos poucos, meses atrás -, como também se depara com uma economia muito mais danificada do que se Xi não tivesse escolhido esse caminho.

A população chinesa que, desde o Massacre da Praça da Paz Celestial, em 1989, não se organizava de forma tão ampla e unificada para se manifestar contra o regime ditatorial, vai se deparar cada vez mais claramente com as consequências da Covid Zero. E Xi Jinping, no mínimo, terá de enfrentar uma maior oposição.

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