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O presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó| Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

A pior pandemia em um século chegou em um momento em que a Venezuela está totalmente despreparada para enfrentar os desafios que uma crise dessa magnitude impõe. O país já está devastado pela desnutrição, pobreza e escassez de insumos básicos. Falta água e energia até nos hospitais. Não bastasse isso, há uma deterioração estrutural e sistêmica das instituições e uma grave crise política que impossibilita uma ação coordenada e legítima contra o novo coronavírus.

Foi por esse motivo que o líder da oposição, Juan Guaidó, foi a público neste sábado (28) pedir a formação de um “governo de emergência nacional” para, segundo ele, “atender à pandemia do coronavírus e salvar a Venezuela de uma catástrofe humanitária sem precedentes”.

Esse novo governo incluiria todos os setores políticos do país, ou seja, seria formado pela oposição representada por Guaidó e pelas forças políticas que mantêm o ditador Nicolás Maduro no poder – um recado direto aos militares que ocupam cargos importantes dentro do regime.

A presença de Maduro neste novo cenário, porém, foi descartada. Segundo Guaidó, o governo de emergência, “por razões óbvias” não poderia ser encabeçado por “alguém acusado de narcotráfico” – uma referência às acusações de procuradoria dos Estados Unidos contra o ditador, anunciadas na semana passada.

Na proposta da oposição, decisões fundamentais sobre a gestão do país, resposta a emergências, estabilidade e reconciliação do país seriam delegadas a um Conselho de Estado. Eles também defendem que a Venezuela poderia abrir um canal humanitário de ajuda internacional e solicitar um empréstimo inicial de US$ 1,2 bilhão para responder à crise causada pela pandemia, já que Juan Guaidó tem o respaldo de governos ocidentais, como nos Estados Unidos e em grande parte dos países europeus.

"As Forças Armadas devem colocar seu poder a serviço do povo e garantir a estabilidade do país; os atores políticos que fazem a vida no Estado devem colocar seus recursos políticos na governança e reconciliação do país; e a comunidade internacional, respaldar as intermediações, ser o garantidor das condições que sejam necessárias, assim como o apoio financeiro, político e humanitário de que precisamos”, disse Guaidó em um vídeo publicado na noite de sábado em suas redes sociais.

Esta é a mais recente tentativa do líder da oposição de tentar enfraquecer a base de apoio a Nicolás Maduro. A primeira se deu há mais de um ano, com a fracassada tentativa de levante cívico-militar. Depois tentou-se um diálogo, que, como nos anos anteriores, só serviu para dar tempo ao regime e mostrar que Maduro não está nenhum um pouco disposto a abrir mão do poder.

Mais recentemente, no início de março - portanto antes de a pandemia de coronavírus virar também um problema na América Latina - Guaidó havia iniciado um movimento para levar o povo de volta às ruas para protestar pelo fim do regime chavista e, assim, recuperar seu poder de mobilização e sua popularidade, desgastados pela incapacidade da oposição em fazer avançar suas propostas e conquistar a tão esperada ajuda das forças militares venezuelanas.

Guaidó estava mais motivado a recomeçar a empreitada depois de ter feito um tour internacional em busca de apoio político nos Estados Unidos e na Europa. Mas com a nova situação causada pela pandemia de coronavírus, ou seja, com as restrições de circulação impostas pelo regime e a atenção nacional e internacional focada somente em assuntos relacionados à Covid-19, o líder da oposição teve que mudar de estratégia.

Ainda é cedo para avaliar se a proposta de um governo de emergência nacional será levada a sério pelo público-alvo da mensagem de Guaidó, mas é certo que Maduro vai fazer de tudo para que isso não aconteça. Querendo ou não, será mais um desafio à sua permanência no poder em um momento em que o ditador enfrenta ameaças vindas da própria crise causada pela doença.

A Venezuela foi um dos últimos países a confirmar o primeiro caso de coronavírus na América Latina, mas poucos dias depois o país aderiu às medidas de isolamento e impôs quarentena de 30 dias. Em um primeiro momento é de se pensar que essas medidas, especialmente na capital, possam ser um fator positivo para o regime chavista, porque impedem que as pessoas saiam para as ruas para protestar.

Por outro lado, como apontou o diretor do Centro de Estudos Políticos e Governamentais da Universidade Católica Andrés Bello, Benigno Alarcón, devido às condições de deterioração da economia venezuelana, não é possível saber até quando as pessoas vão obedecer à quarentena de 30 dias. Maduro pode flexibilizá-la, mas de qualquer maneira a situação tende a ficar insustentável, “seja por um conflito social devido à fome ou por um que ocorre porque, ao tornar o confinamento mais flexível, o problema de saúde fica fora de controle e as demandas [do setor] se multiplicam exponencialmente”, escreveu o analista político.

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