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Um padre e sua namorada na Itália, juntos apesar da exigência católica do celibato | Nadia Shira Cohen/The New York Times
Um padre e sua namorada na Itália, juntos apesar da exigência católica do celibato| Foto: Nadia Shira Cohen/The New York Times

Eles não planejaram se apaixonar, mas aconteceu. Não queriam se tornar objetos de fofocas maliciosas, mas são. Não desejavam viver uma vida de afetos furtivos e encontros secretos, mas é isso que acontece desde que uma mulher e um padre desafiaram o tabu da Igreja Católica Romana e se envolveram romanticamente.

"Algumas pessoas me veem como um demônio, algo sujo", disse a mulher, que, junto com o padre com quem está envolvida, deu uma entrevista em um hotel de uma cidade longe de sua paróquia.

Uma busca on-line com os termos "apaixonada por um padre" produz uma lista de blogs de amantes separados pela Igreja, em vários idiomas. Existem grupos de apoio na mídia social. Um dos grupos, com 26 mulheres, chegou até mesmo a pedir ao Papa Francisco que acabasse com o celibato sacerdotal.

"É muito difícil explicar esse tipo de relacionamento para alguém que nunca passou por isso. Queríamos que o Papa soubesse que o sofrimento é generalizado", disse uma das mulheres que assinaram a carta.

Ela escreveu novamente ao Papa em setembro, antes do Sínodo dos Bispos, a reunião no Vaticano de cerca de 200 clérigos, convocada para discutir questões contemporâneas.

Foi o Sínodo mais assistido em décadas, e alguns especialistas do Vaticano fizeram paralelos com o Sínodo convocado pelo Papa Paulo VI, em 1971, quando a exigência do celibato sacerdotal gerou debates acalorados. Naquela época, o Sínodo reafirmou o celibato, e não houve nenhuma revisão oficial desde então. Quem esperava que a questão pudesse ser revisitada durante o Sínodo de outubro ficou novamente desapontado.

Mesmo assim, um número crescente de organizações de padres nos Estados Unidos, na Áustria, na Irlanda e em outros países continua a pressionar pela mudança. Adversários do celibato clerical apontam para a escassez de sacerdotes em todo o mundo, e para estudos que mostram que este é o maior impedimento para os jovens que querem se tornar sacerdotes.

Não há números embasados sobre as causas da escassez, mas o grupo Advent, que apoia os sacerdotes que abandonaram o Ministério na Grã-Bretanha, estima que cerca de dez mil homens deixaram o sacerdócio para se casar nos últimos 50 anos, apenas na Inglaterra e no País de Gales.

A escassez teve um impacto significativo nas paróquias em todo o mundo, disse Alex Walker, líder do Advent, que deixou o sacerdócio para se casar.

"Se o celibato está causando problemas, ele precisa ser opcional", Walker disse.

Outro grupo, o Married Priests Now, fundado há oito anos por Emmanuel Milingo, antigo arcebispo de Lusaka, na Zâmbia, que se casou em 2001, estima que existam 25 mil homens nos Estados Unidos que abandonaram o sacerdócio para se casar, e cerca de 150 mil em todo o mundo.

Em uma carta enviada ao Papa em setembro de 2013, o Married Priests Now elogiou os "novos ventos que sopram na igreja", após a eleição de Francisco, e observou que: "Seria bom se o novo espírito de reconciliação incluísse o sacerdote casado."

Organizações de católicos liberais também apelam por uma mudança, argumentando que os clérigos se casavam nos primeiros séculos da igreja.

"Sabemos que São Pedro era casado. Todos os apóstolos eram casados, então o celibato não está intrinsecamente ligado ao sacerdócio", disse o Reverendo Thomas Reese, analista do periódico The National Catholic Reporter.

Em 2009, o debate deu uma guinada quando o Papa Bento XVI decidiu criar um mecanismo para acolher sacerdotes da Comunhão Anglicana na Igreja Católica, abrindo portas para clérigos e suas famílias.

Quem esperava por uma mudança ficou mais esperançoso em maio passado, quando o Papa Francisco disse a repórteres que o celibato clerical era uma questão aberta à discussão.

"O celibato não é uma questão de dogma, mas sim uma regra de vida que aprecio muito, pois acredito que seja uma dádiva à Igreja. Mas, uma vez que não é um dogma, a porta está sempre aberta", disse o Papa.

Ao mesmo tempo em que parece aberto a uma mudança nessa política, o Papa também estimulou os padres a levar a sério o celibato e a deixar a igreja caso não consigam.

Mas para muitos padres, deixar o sacerdócio é uma opção complexa. Alguns deles falaram dos procedimentos humilhantes pelos quais devem passar para "abandonar" o Ministério, que foram piorados por bispos não simpatizantes, que muitas vezes tentam fazê-los mudar de ideia oferecendo uma transferência para uma paróquia diferente.

O padre que deu a entrevista no hotel disse que acreditava que o relacionamento melhorou seu ministério. "Desde que estou com ela, sou um padre melhor, porque estou calmo, relaxado. O único problema é ter que manter tudo escondido."

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