Em dezembro, seis executivos do Stand News foram detidos por “conspiração para produzir publicações sediciosas”, e em seguida o site encerrou suas operações| Foto: EFE/EPA/MIGUEL CANDELA
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“Hong Kong mudou irrevogavelmente em menos de dois anos. Não é mais a cidade aberta, amigável à imprensa e livre onde os jornalistas gozavam de amplas liberdades, onde as fontes apareciam para conversas ‘on-the-record’ e onde jornais e revistas ofereciam uma gama de opiniões de todo o espectro político.”

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O devastador parágrafo acima abre o relatório que a Federação Internacional de Jornalistas (IFJ, na sigla em inglês) produziu sobre a liberdade de imprensa na região autônoma chinesa em 2022.

O documento, divulgado na semana passada, deixa claro que o divisor de águas foi a Lei de Segurança Nacional de Hong Kong, imposta pela China em junho de 2020 após protestos por democracia e que tem sido a base para prisões e processos judiciais contra ativistas, dissidentes políticos e jornalistas locais.

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Além disso, o governo pró-Pequim tem recorrido às leis sobre sedição (insurreição contra o poder estabelecido), ainda do período colonial britânico, para acentuar essas perseguições.

De acordo com a IFJ, as detenções e ameaças forçaram órgãos de imprensa a fechar ou mudar suas sedes para o exterior, e “a outrora forte emissora de serviço público Radio Television Hong Kong (RTHK) foi transformada em porta-voz do governo”.

O principal jornal pró-democracia da região, o Apple Daily, foi obrigado a fechar as portas em 2021 e seu fundador, Jimmy Lai, continua preso. Em dezembro, seis executivos do Stand News foram detidos por “conspiração para produzir publicações sediciosas”, e em seguida o site também encerrou suas operações.

Em 2 de janeiro deste ano, o Citizen News anunciou que estava fechando para que sua equipe não fosse presa também. A IFJ salientou que apenas uma agência de notícias independente, a Free Press, segue operando em Hong Kong.

Ante a repercussão desses fechamentos, a chefe do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam, alegou que não há perseguição à imprensa livre no território. “Se a implementação da Lei de Segurança Nacional prejudicasse a liberdade de imprensa, não veríamos nenhuma liberdade de imprensa no mundo ocidental. Diga-me um país ocidental que não tenha uma lei de segurança nacional”, declarou em janeiro.

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Imprensa estrangeira está levando suas equipes para a Coreia do Sul

Além das prisões, outras armas para silenciar a imprensa têm sido recusas de vistos para jornalistas estrangeiros; bloqueio de sites, para restringir o acesso a notícias internacionais; a proposição de uma nova lei sobre fake news; e campanhas orquestradas para fechar organizações da sociedade civil, incluindo órgãos de representação legal e de classe de jornalistas.

A IFJ destacou que, desde que a Lei de Segurança Nacional entrou em vigor, vários órgãos de imprensa estrangeiros, como o The New York Times, têm realocado suas equipes para a Coreia do Sul.

A promessa de autonomia para Hong Kong, feita quando da devolução do território à China, em 1997, tem sido quebrada também na política, onde uma nova lei eleitoral reduziu o número de representantes na assembleia local eleitos diretamente e determinou que apenas “patriotas” (no entendimento de Pequim, evidentemente) poderiam concorrer a cargos eletivos.

“Aqueles que se preocupam com Hong Kong e com a liberdade de imprensa podem continuar a monitorar os acontecimentos e trazer à tona instâncias onde as liberdades garantidas pela Lei Básica da cidade parecem estar sendo atacadas. Alguns jornalistas podem optar por emigrar e começar uma nova vida no exterior, e eles precisarão de apoio [a IFJ pede no relatório que governos de outros países ajudem profissionais de imprensa a deixar o território]. Mas ninguém deve se enganar; em Hong Kong, a China agora escreve as regras”, conclui a IFJ.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
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