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Imagem ilustrativa.| Foto: Unsplash

No Dia Internacional da Mulher é importante lembrar que as mulheres não vencerão sozinhas os desafios de ser mulher. Não vão suplantar o cansaço da jornada tripla, se esquivar dos riscos majorados para transtornos mentais e comportamentais ou derrotar a inequidade no mercado de trabalho com uma receita de 5 passos ou um bate-papo motivacional. A saúde mental da mulher é uma construção coletiva e social.

Basta que se lance um breve olhar à produção científica para que as evidências de maior sofrimento se estabeleçam. Se a conquista de direitos ao longo das décadas é inegável, a queda no bem-estar das mulheres também é: para elas, a felicidade tem declinado de maneira absoluta e relativa quando comparada aos homens. Esse fenômeno foi batizado de “paradoxo da felicidade feminina”.

O Dia Internacional da Mulher não é uma data festiva. É um holofote a ser usado para produzir reflexão, aprendizado e ação.

Com a pandemia, o mal-estar nas mulheres se agravou. Estudo recém-publicado por pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos na renomada revista Nature evidenciou que mulheres brasileiras saudáveis apresentaram, no primeiro ano da crise sanitária mundial, incremento na fadiga com sintomas associados a depressão e ansiedade e piora da qualidade do sono. No segundo ano, o estudo longitudinal mostrou que elas seguiram sofrendo.

As causas são evidentes. Dos milhões de demissões observados nos primeiros meses da pandemia, as mulheres formaram o maior grupo, tanto em países desenvolvidos quanto nas nações em desenvolvimento. Some-se a isso a inequidade na divisão do trabalho doméstico. De acordo com pesquisa capitaneada pela organização CARE, e realizada em 38 países, 55% das mulheres fazem trabalhos relativos aos cuidados com a casa contra apenas 18% dos homens. No acompanhamento da escola, quase toda a carga de atenção às crianças é delas. Isso tudo sob a pressão diuturna por corpos magros e capazes de vencer o tempo.

O Dia Internacional da Mulher não é uma data festiva. É um holofote a ser usado para produzir reflexão, aprendizado e ação. Ainda dá tempo: este ano, em vez de convidar as mulheres para aprender algo mais para darem conta sozinhas do imponderável, convide-as para uma roda de conversa. Permita que falem e escute-as com ouvidos compassivos.

Carla Furtado, mestre e doutoranda em Psicologia, especialista em Neurociência e Comportamento, é professora da PUCRS, da Cátedra Unesco e do Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Israelita Albert Einstein, autora do livro “Feliciência: Felicidade e Trabalho na Era da Complexidade” e diretora do Instituto Feliciência.

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