| Foto: Felipe Lima

Poucas instituições são tão propícias para que o ser humano possa desenvolver suas potencialidades e virtudes na busca da excelência ética quanto o casamento. No matrimônio, o homem e a mulher, seres inacabados, praticam a generosidade pela entrega mútua e exclusiva, aberta ao surgimento de novos indivíduos. O casamento, quando bem compreendido, é o antídoto perfeito contra o egoísmo – e, quando mal compreendido, acaba degenerando em um “egoísmo a dois” que é justamente a antítese daquilo que se procura cultivar em uma união saudável.

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Diversas ideologias recentes têm tentado minar a importância do casamento, tratando-o como uma construção social imposta por determinadas tradições e clamando por sua “superação”. Nada mais distante da realidade: trata-se de uma instituição natural, fundada na complementaridade biológica e psíquica entre homem e mulher. O que houve foi um aperfeiçoamento na compreensão da essência do casamento, superando situações como as uniões programadas por interesse – às vezes arranjadas quando os futuros noivos ainda eram crianças – ou nas quais um ou ambos os cônjuges são coagidos pelas próprias famílias ou por outras circunstâncias. Mas esse aperfeiçoamento não deveria ser usado para negar o caráter intrinsecamente natural desta instituição.

Casamentos felizes exigem dedicação constante e a consciência do valor de uma união duradoura, e não passageira

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No entanto, se a humanidade caminhou lentamente para compreender que um casamento não pode prescindir da escolha livre dos noivos, é preciso também recordar que basear um matrimônio única e exclusivamente no afeto é fragilizar o seu fundamento. Os sentimentos humanos, bem o sabemos, são importantes, mas são volúveis. Fiar-se apenas deles é a receita para um casamento infeliz. Se houvesse a compreensão de que o casamento, mais que uma confluência de afetos, é uma parceria mútua para que ambos sejam cada vez melhores, desenvolvendo a si mesmos, ao cônjuge e aos frutos desta união, talvez tivéssemos muito menos problemas.

Essa compreensão, no entanto, não pode levar à ilusão de que casamentos felizes são fáceis como um passeio no parque. Eles exigem dedicação constante e a consciência do valor de uma união duradoura, e não passageira. Compreendemos as vicissitudes e as dificuldades pelas quais passam inúmeros casais, e que há circunstâncias nas quais não há como manter uma união. Mas mesmo quem passa por essa dor reconhece a importância dos casamentos bem-sucedidos. Quando se vê o matrimônio como algo que pode ser desfeito por qualquer motivo banal, perde-se todo o benefício que poderia vir da valorização do vínculo matrimonial como fonte de crescimento na virtude também por meio das dificuldades e do poder de uma decisão renovada, a cada dia, de acompanhar o outro e querer seu bem até o fim. Casamentos fortalecidos são do interesse não apenas dos cônjuges e dos filhos, mas de toda a sociedade.

O caminho para tal, é preciso dizer, não está na imposição jurídica, mas em uma necessária e verdadeira educação a respeito do significado do casamento, para que mais pessoas compreendam o desafio apaixonante que reside nesta união. Desafio, porque se trata de crescer nas virtudes – das quais uma das mais importantes é a fidelidade, sem a qual não se pode construir a confiança mútua que está na base não apenas do relacionamento conjugal, mas também de toda relação que constitui uma sociedade. Apaixonante, porque mexe com nossos anseios mais profundos e nos permite atingir a realização e a felicidade que todos buscamos.