Os dejetos de aves, bovinos, caprinos e suínos estão ajudando a gerar energia no Paraná. O estado é o terceiro que mais produz biogás no país e segundo entre aqueles que têm o maior número de plantas que geram este tipo de produto. Por meio do RenovaPR, o governo tem inclusive incentivado a ampliação dessa prática.
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No último ano, houve uma corrida na abertura de plantas de biogás no estado: o Paraná teve um acréscimo de 16%, somando agora 159 (das quais 65% usam fonte agropecuária, como dejetos), ficando só atrás de Minas Gerais. Os dados são do relatório Panorama do Biogás no Brasil 2021, do Centro Internacional de Energias Renováveis - Biogás CIBiogás, com informações recolhidas até março deste ano.
O biogás é produzido de três formas, tendo como fonte a agropecuária, a agroindústria e o saneamento. A agropecuária envolve atividades de criação e usa esterco animal, efluente do manejo de dejetos (urina, fezes, água de lavagem), restos de ração e carcaça de animais não abatidos. Em 2021, esse setor foi responsável por 80% das plantas de biogás em operação no país, gerando 10% do volume total de energia.
A maior fatia da produção de biogás ainda cabe ao setor de saneamento, que mesmo com 9% do número de plantas, gera 74% do total da energia produzida, com foco em aterros sanitários, usinas de tratamento de resíduos orgânicos e estações de tratamento de esgoto.
Vocação do Paraná pelos grandes números
A vocação do Paraná para a produção de biogás a partir de dejetos vem pelo estado ser o maior produtor de proteína animal do Brasil: primeiro em avicultura (33% da produção) e em piscicultura, e segundo em suinocultura e em leite. “O que essas culturas têm em comum que favorecem o investimento no biogás: a grande produção de dejetos (principalmente na suinocultura) e o uso intensivo de energia (20% do custo de produção na avicultura”, explica o economista Luiz Eliezer Ferreira, da Federação da Agricultura do Paraná (Faep).
Biogás costuma virar energia elétrica
O uso do biogás para gerar energia elétrica é a principal aplicação realizada nas plantas brasileiras, por 87% das unidades e usando 71% do volume. No Paraná, das 103 plantas voltadas à produção a partir do setor agropecuário, que envolve dejetos animais, 96 são usadas para geração de energia elétrica, com capacidade para produzir 70 MW, segundo a cartilha recentemente publicada pela Faep, Energias Renováveis no Campo.
O aproveitamento térmico do biogás no Brasil é feito em 11% das unidades em operação e foram para usos como a queima em caldeira para produzir vapor, a secagem de grãos para produzir ração, o aquecimento de aviários e a secagem de lodo de esgoto.
Corrida pela energia própria
Este aumento substancial no número de plantas que geram biogás no Paraná também é explicada, segundo Ferreira, por importantes transformações do setor rural nos últimos anos.
Primeiramente, o fim de alguns subsídios tanto em nível federal quanto em nível estadual. O desconto da tarifa da classe rural, que até então representava 70% da tarifa da classe urbana, foi retirado pelo decreto Federal 9642 de 2018. “Em 2023, após a revisão tarifária da Copel, que acontece em junho, a tarifa da classe rural deve se igualar à tarifa da classe urbana, representando uma alta de 30% só em termos de tarifa”, diz o economista.
Em nível estadual, soma-se também o fim da tarifa rural noturna, que é um desconto que o produtor rural tem da energia consumida entre as 21 h e 6 h e que chega a 60% da tarifa. “Só o fim desses subsídios aumentou a conta de luz em 49% no setor rural, enquanto na classe residencial esse aumento foi de 29% em cinco anos, com uma inflação de 22%”, diz ele, citando que a crise hídrica também encareceu a energia, com as bandeiras tarifárias.
A busca por formas de produzir energia renovável em suas propriedades também ganhou fôlego com a aprovação da Lei 14.300, que é um marco legal da geração distribuída, segundo Ferreira, estimulando a produção de energia fotovoltaica, eólica e biogás, pois deu segurança jurídica aos produtores rurais. “Ele gera energia e injeta na rede distribuidora, conseguindo uma série de descontos que conseguem fazer com que ele fuja desses aumentos de tarifa”.
Brasil usa apenas 3% do potencial
No país, houve aumento de 16% no número de plantas em operação e 10% no volume de biogás produzido em 2021, em comparação com o ano anterior, alcançando 653 plantas em funcionamento. São 2,3 bi Nm3/ano, com potencial teórico de se chegar a 84,6 bi Nm3/ano. Segundo a Associação Brasileira do Biogás (ABiogás), caso chegasse a todo esse potencial, o biogás poderia suprir 40% da demanda interna de energia elétrica e 70% do diesel. Hoje, o Brasil explora apenas 3% desse potencial.
Os cinco estados que contam com o maior número de plantas de biogás em operação são Minas Gerais, Paraná, Goiás, Santa Catarina São Paulo e Mato Grosso. Minas Gerais conta com 33% das plantas no país, mas produz 9% do volume total. São Paulo, como tem um número maior de unidades de grande porte, conta com 60 unidades em operação (8%), mas contribui para a produção de 34% do volume biogás do país, 798 mi Nm3/ano, segundo dados da publicação da CIBiogás.
Políticas públicas têm ajudado a estimular setor
O programa RenovaPR, do Governo do Estado, tem facilitado a instalação de sistemas de energia fotovoltaica e biogás/biometano e, até a última quinta-feira (9) somava 2.153 projetos acatados pelo IDR-Paraná (Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná-Iapar-Emater), totalizando um investimento de R$ 414 milhões. O Governo do Estado já cadastrou 462 empresas prestadoras de serviços para energia solar e 16 para biogás e biometano.
Para dar andamento ao projeto, o produtor precisa buscar informação nos escritórios do IDR-Paraná. Caso pretenda aproveitar os benefícios do Banco do Agricultor Paranaense, ele deve procurar também o agente financeiro credenciado a esse programa.
O Banco do Agricultor prevê que, em projetos contratados até 31 de dezembro de 2022, o estado assume integralmente o pagamento das taxas de juros. São passíveis do benefício valores financiados de até R$ 500 mil para energia solar fotovoltaica e de até R$ 1,5 milhão em biodigestor.
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