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Mário Negrão: neurologista “fora da caixa” ajudava pessoas a entender o próprio cérebro
Mário Negrão era carioca, formado em medicina em MG e paranaense por adoção| Foto: Arquivo pessoal

A profissão de neurologista e psicoterapeuta não era o único motivo para Mário Negrão ser um profundo conhecedor do funcionamento do cérebro e das emoções humanas. Era um interesse genuíno e intrínseco à personalidade do médico. Quando atendia ou quando participava de programas de televisão como colunista e entrevistado, passava a sensação de proximidade a quem ouvia. Com ares de conselheiro, era um estudioso da vida. Mário faleceu no dia 13 de fevereiro, aos 73 anos, por problemas cardíacos.

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Muitos de seus “aconselhados” estavam do outro lado da tela. Tinha os que já começavam a semana sentindo as epifanias provocadas por Mário, e embasadas em ciência, no jornal matutino da RPC TV, do qual ele foi colunista por anos. Tinha os que eram telespectadores fiéis do programa Cobras e Lagartos, transmitido pela UFPR TV, canal da Universidade Federal do Paraná, em que por dez anos ele, o jornalista Ney Hamilton, o professor de teatro Hugo Mengarelli e o economista Belmiro Valverde debateram sobre temas variados e pungentes à sociedade em uma descontraída mesa redonda. E tinha quem o acompanhasse por vídeos na internet e por participações no rádio.

Qualquer que fosse a forma escolhida para ter acesso aos pensamentos dele, a certeza era de reflexão, de entender de modo mais profundo algumas vontades, sentimentos e questões sobre si mesmo e de sair com uma pulga atrás da orelha sobre um assunto que estava na sua frente o tempo todo, mas você passava por cima por causa da correria do cotidiano. “Ele era divertido e inesperado. Sempre tinha uma história ou uma sacada completamente fora da caixa. Não era um cara convencional e procurava sempre ampliar a própria visão de mundo”, conta o amigo e apresentador do Cobras, Ney Hamilton.

Os dois se conheceram em uma entrevista e quando Ney começou a estruturar o novo programa, lembrou que Mário seria uma adição perfeita por suas visões pouco ortodoxas e por não ter papas na língua. Nos primeiros meses, o tema de cada edição era compartilhado antecipadamente com os participantes. Então, o curioso Mário lia tanto sobre o assunto que no estúdio parecia ser um especialista em transgênicos, encarceramento, algum momento histórico específico do Brasil ou qualquer que fosse o tema da vez. Isso fez com que o apresentador descobrisse o ovo de Colombo do programa: contar aos participantes o tema do dia apenas na hora da gravação. O resultado é uma série de bate-papos surpreendentes.

O carioca Mário estudou Medicina em Minas Gerais, de onde partiu em 1971 para Londres, onde concluiu residência em Neurologia pelo Institute of Neurology Queen Square. No retorno, fixou residência em Curitiba e se tornou docente do Departamento de Clínica Médica da UFPR. Ávido por aperfeiçoar conhecimentos, estava sempre estudando, formal ou informalmente. Pela Universidade Tuiuti do Paraná, era mestre em Educação e especialista em Terapia Comportamental Cognitiva. Apesar dos pontos de vista contundentes, era um otimista incorrigível. Mesmo em situações adversas, enxergava sempre o copo meio cheio.

Homem de hobbies tão amplos quanto seu pensamento, gostava de fazer miniaturas de navios de madeira e de tocar instrumentos musicais. Além da guitarra, surpreendia ao dominar o banjo. Portando o instrumento, fez parte de uma banda de Bluegrass – gênero tradicional do Sul dos Estados Unidos – nos anos 1970. Aficionado por Elvis Presley, revelou que se pudesse ser alguma celebridade, seria o rei do rock. Realizou o desejo como podia, se vestindo de Elvis em uma festa à fantasia beneficente.

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