| Foto: MAURO PIMENTEL/AFP

De braço-direito a estorvo para o presidente Jair Bolsonaro (PSL), o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno, teve uma trajetória meteórica como homem forte do bolsonarismo. Agora, balançando no cargo, Bebianno pode cair pelo mesmo fator que o fez ascender: a relação com a família de Bolsonaro. Mais especificamente por causa dos atritos com um dos filhos do presidente, Carlos.

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Até 2017, Gustavo Bebianno era um advogado sem grande exposição pública. Foi quando conseguiu furar um bloqueio de dois anos de tentativas frustradas para se aproximar e conquistar a confiança do então deputado Jair Bolsonaro – de quem era um fã e com quem partilhava do mesmo nacionalismo e admiração pela ditadura militar (1964-1985).

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A aproximação começou por intermédio de Carlos

Curiosamente, a primeira vez que Bebianno tentou chegar a Bolsonaro foi por meio de Carlos, vereador do Rio de Janeiro. Em 2015, ele entrou em contato com o filho do hoje presidente pelo Facebook. Enviou uma mensagem com críticas à gestão da então presidente Dilma Rousseff na área militar e sugerindo ao filho que recomendasse ao pai providências como deputado.

A aproximação, porém, só se efetivou em 2017 – quando Bolsonaro começava a estruturar sua candidatura a presidente. E o primeiro contato foi por causa de outro filho, o hoje senador Flávio Bolsonaro. Então deputado estadual, Flávio estava em um estúdio produzindo fotos. E Bebianno soube que Bolsonaro estava no local. E apareceu. Ofereceu-se para ser advogado voluntário na pré-campanha. Naquele momento, a oferta foi recusada por Bolsonaro.

Bebianno não se deu por vencido. E insistiu. A terceira tentativa de ofertar seus serviços ao pré-candidato ocorreu no segundo semestre de 2017, no lançamento do livro de Flávio Bolsonaro sobre seu pai: Mito ou Verdade: Jair Messias Bolsonaro.

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O caso do estupro e a conquista da confiança

Desta vez, a conversa engrenou. Bebianno apontou deficiências na estratégia de defesa de Bolsonaro no processo que ele respondia no Supremo Tribunal Federal (STF) por ter dito que não estupraria a deputada Maria do Rosário (PT-RS) porque ela não merecia. Conquistou a confiança de Bolsonaro. E ganhou o “direito” de entrar na casa do hoje presidente e a fazer parte de seu convívio.

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Dali em diante, Bebianno virou o braço-direito de Bolsonaro. Não apenas como consultor jurídico. Mas também como operador político. O advogado foi quem negociou a filiação do pré-candidato ao PEN/Patriota (que acabou não se concretizando) e posteriormente ao PSL.

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Bebianno assumiu a presidência nacional do PSL no período eleitoral. E também foi o coordenador da campanha eleitoral de Bolsonaro: controlou a arrecadação e os gastos eleitorais, a definição de estratégias jurídicas, a agenda e até mesmo o contato com a imprensa.

A facada em Bolsonaro, em plena campanha eleitoral, mostrou o grau de proximidade de Bebianno com o então candidato. Foi ele, por exemplo, quem acompanhou pessoalmente a mulher de Bolsonaro, Michelle, de Juiz de Fora (MG), local do atentado, ao Rio. O ministro também foi um dos poucos que obteve autorização a permanecer na UTI do Hospital Albert Einstein, em São Paulo – para onde Bolsonaro foi transferido.

Ministério foi prêmio pela dedicação, mas logo as fissuras apareceriam

Após a vitória eleitoral de Bolsonaro, Bebianno recebeu o prêmio pela sua dedicação: foi indicado para ser ministro da Secretaria-Geral da Presidência. O cargo pode ser definido como uma espécie de “supersecretário” de Bolsonaro – responsável, por exemplo, pela agenda do presidente.

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Mas já durante o governo de transição, antes mesmo da posse, Bebianno começou a perder a aura de braço-direito de Bolsonaro. Por causa de atritos com Carlos – filho do presidente que havia sido responsável pelas redes sociais de Bolsonaro na campanha.

Tudo começou a ficar claro quando Bebianno disse que Carlos estava cotado para assumir a Secretaria de Comunicação (Secom) da Presidência – órgão formalmente vinculado à Secretaria-Geral. Carlos não gostou nada do que considerou ser um falso afago de Bebianno. E abandonou a equipe de transição. “Caráter não se negocia. Quando há compulsão por aparecer a qualquer custo, sempre tem algo por trás. Somos humanos e falhamos, mas a procura por holofote é um péssimo indicativo do que se pode esperar de um indivíduo”, disse Carlos à época.

O fato é que Bolsonaro, que efetivamente cogitava nomear Carlos para o cargo, acabou tirando a Secom da Secretaria-Geral da Presidência. Realocou o órgão na Secretaria de Governo, comandada pelo ministro-general Carlos Alberto dos Santos Cruz. Para a chefia da Secom, por sua vez, foi nomeado Floriano Barbosa, nome ligado a outro filho do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). Barbosa era chefe de marketing do gabinete de Eduardo na Câmara.

Caso das laranjas do PSL: a possível derrocada

No início do governo, a situação de Bebianno parecia estável. Não havia dado declarações polêmicas, ao contrário de outros ministros. Mas tudo mudou com as denúncias de que o PSL lançou candidatas laranjas nas eleições de 2018 para supostamente desviar dinheiro público destinado para campanhas.

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Bebianno era presidente do PSL durante as eleições, mas nega qualquer responsabilidade sobre os casos. Outro ministro – Marcelo Álvaro Antônio, do Turismo – também foi envolvido nas denúncias. Ainda assim, o tratamento do Planalto contra Bebianno foi muito mais duro. Especialmente depois que Carlos Bolsonaro expôs publicamente que ele havia mentido ao dizer que havia tratado do assunto com o presidente. O caso virou uma crise dentro do Planalto. E Bolsonaro determinou que a Polícia Federal (PF) investigue as laranjas do PSL.

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Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]