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Alexandre Ramagem prestou depoimento à Polícia Federal no âmbito do inquérito que apura suposta interferência política na PF.
Alexandre Ramagem prestou depoimento à Polícia Federal no âmbito do inquérito que apura suposta interferência política na PF.| Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado

O diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem, afirmou que sabe do "apreço e respeito" que tem com a família Bolsonaro, mas negou ter qualquer tipo de "intimidade pessoal" com os filhos do presidente. O delegado informou que só frequentou a residência da família "para fins profissionais" e que a foto de réveillon ao lado de Carlos Bolsonaro foi apenas uma "confraternização".

O depoimento de Ramagem foi colhido pela PF nesta segunda-feira (12), em Brasília, no âmbito do inquérito que apura suposta tentativa de interferência política de Bolsonaro no comando da corporação. O nome do diretor da Abin foi indicado pelo presidente para o cargo, mas a nomeação foi suspensa pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Posteriormente, o número dois de Ramagem, Rolando Alexandre de Souza, assumiu a chefia da PF.

Logo no começo da oitiva, Ramagem afirmou que frequentou a casa de Bolsonaro "apenas para fins profissionais". Ao mencionar a foto em que aparece ao lado do filho do presidente, afirmou que se tratou de uma confraternização dos agentes responsáveis pela segurança do então presidente eleito na véspera da posse, "situação operacional complexa e sigilosa com extenso planejamento e ensaio das equipes policiais".

Segundo Ramagem, Carlos Bolsonaro apareceu apenas para "saudar os policiais pelo trabalho executado, pois no dia seguinte se encerraria a segurança provida pela Polícia Federal com a transmissão do trabalho para o Gabinete de Segurança Institucional".

Em outro momento do depoimento, o diretor da Abin reconhece que tem o "respeito e apreço" da família Bolsonaro, e que eles derivam de seu trabalho, mas não possui "intimidade pessoal" com os seus entes familiares.

Moro tentou me desqualificar, diz chefe da Abin

Ao ser questionado sobre quais as razões para Bolsonaro tê-lo indicado no lugar do delegado Maurício Valeixo, e insistido em seu nome com o então ministro Sergio Moro, Ramagem diz acreditar que seja seu "histórico funcional na PF, que inclui o comando de importantes operações policiais, tanto como investigador como executor, que levaram à indicação de seu nome para as mencionadas funções fora da PF".

Ramagem afirmou que Moro teria tentado desqualificá-lo para a posição de diretor-geral pelo fato dele não integrar o "núcleo restrito de delegados" próximos ao ex-ministro.

“A desqualificação ocorreu através do argumento inverídico de intimidade familiar nunca antes tido como premissa ou circunstância, apenas como subterfúgio para indicação própria sua de pessoas vinculadas ao seu núcleo diretivo de sua exclusiva escolha”, afirmou Ramagem. “Esses argumentos desarrazoados acabou fomentando celeuma entre poderes da União, tendo como foco apenas uma ação de governo, um ato de nomeação a um cargo do Executivo que atendia aos seus requisitos objetivos”.

O diretor da Abin negou que tenha sido indicado para efetuar "missões específicas" para Bolsonaro, como a de obter informações de investigações da PF em andamento.

“O presidente da República nunca chegou a conversar com o depoente, sob a forma de intromissão, sobre investigações específicas da Polícia Federal que pudessem, de alguma forma, atingir pessoas a ele ligadas”, afirmou Ramagem. “Na verdade, conversas sobre investigações giravam em torno de assuntos de Polícia Judiciária que já estavam públicos, abrangendo questões gerais sobre operações”.

Segundo Ramagem, Bolsonaro já teria reclamado, através do ministro Augusto Heleno, do GSI, do encaminhamento de poucos relatórios, "não só da PF, mas também de outros setores de inteligência dos ministérios". As queixas seriam por uma maior "participação e integração" entre as pastas.

“Reclamava de que os aspectos positivos ficavam com ministérios e os problemas apenas com a Presidência da República”, afirmou Ramagem, que destacou: “nunca foi pedido pelo presidente da República informação ou relatório de inteligência sobre fato específico investigado sob sigilo pela Polícia Federal”.

O diretor da Abin afirmou que os contatos em que ele teve com Bolsonaro "a respeito do encaminhamento de informações de inteligência esteve acompanhado do ministro Augusto Heleno ou eventualmente ainda que desacompanhado deste, com sua ciência prévia ou posterior". Esses encontros tratavam de assuntos de inteligência não apenas à Polícia Federal, mas toda a administração pública.

A indicação do número 2 de Ramagem para chefiar a PF

Em relação à indicação de Rolando Alexandre de Souza, seu número dois na Abin, para a direção-geral da PF, Ramagem informou que foi consultado sobre o nome pelo presidente Jair Bolsonaro e pelo atual ministro da Justiça, André Mendonça, mas que não teve influência na troca de comando da PF do Rio. A mudança de chefia ocorreu após Rolando "promover" o superintendente regional a diretor-executivo em ação vista como "estratégica" por delegados da corporação.

Em outro momento do depoimento, Ramagem afirma que teve conhecimento de "algumas sugestões de nomes" para ocupar a chefia da PF do Rio após a saída de Ricardo Saadi, em agosto do ano passado, sendo que um dos nomes levados por ele ao então ministro Sergio Moro foi o do superintendente no Amazonas, Alexandre Saraiva, nome que o presidente Bolsonaro tentou emplacar.

Como foi os depoimentos dos delegados Valeixo e Saadi

O depoimento de Ramagem foi o terceiro colhido no inquérito aberto pelo STF a pedido da Procuradoria-Geral da República. Também nesta segunda falaram à PF os delegado Maurício Valeixo e Ricardo Saadi.

Valeixo, ex-chefe da Polícia Federal, afirmou que o presidente Jair Bolsonaro lhe disse que não tinha nada "contra a sua pessoa", mas queria um diretor-geral com quem tivesse mais "afinidade". O depoimento de Valeixo durou quase sete horas e nele, o ex-chefe da PF teria confirmado que não pediu para deixar o cargo. No documento de exoneração publicado no Diário Oficial estava escrito que a demissão ocorria " a pedido".

Já Ricardo Saadi afirmou que sua saída do comando da corporação fluminense foi antecipada em agosto do ano passado a pedido e sem justificativa clara. Questionado se credita sua dispensa a alguma interferência política, ele afirmou que "os motivos não lhe foram apresentados para antecipar sua saída em agosto de 2019”.

Saadi também informou à PF que "não recebeu pedido formal ou oral de início de investigações ou de arquivamento" nem para "interferência em eventuais investigações relacionadas ao Presidente Jair Bolsonaro, familiares seus, ou pessoas ligadas a ele".

PF exibe vídeo de reunião ministerial; Moro acompanha

O ex-ministro Sergio Moro está em Brasília, acompanhado pelo advogado, para assistir à exibição do vídeo da reunião ministerial de 22 abril, na Polícia Federal, nesta terça-feira (12).

Além de Moro, um grupo restrito de autoridades tiveram permissão do ministro Celso de Mello para ver o conteúdo das gravações: o procurador-geral da República, Augusto Aras; o advogado-geral da União, José Levi Mello do Amaral Júnior; a delegada responsável pelo caso, Christiane Corrêa Machado; e os procuradores do caso, João Paulo Lordelo Guimarães Tavares, Antonio Morimoto e Hebert Reis Mesquita.

Moro acusa Jair Bolsonaro de ter cobrado a substituição do diretor-geral da PF e do superintendente no Rio em suposta interferência na corporação. O presidente teria ameaçado demiti-lo se não pudesse faze isso. O vídeo pode dar materialidade à denúncia de Moro.

Ministros militares prestam depoimento nesta terça

Os ministros Augusto Heleno, do GSI, Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo, e Walter Braga Netto, da Casa Civil, prestam depoimento nesta terça, no Palácio do Planalto, às 15 horas. Eles foram intimados pela Polícia Federal em razão da participação na reunião do conselho de ministros citada por Moro. Eles falarão como testemunhas, o que os coloca em uma posição em que têm que falar a verdade, sob pena de cometer o crime de falso testemunho.

Na quarta-feira (13), é a vez dos delegados Carlos Henrique de Oliveira Sousa, ex-superintendente da PF no Rio, e Alexandre da Silva Saraiva, ex-superintendente no Amazonas, serem ouvidos, às 15h, em Brasília. O depoimento dos delegados pode esclarecer se houve pressão por parte do governo para que agissem de alguma forma específica.

No mesmo dia, a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) presta seu depoimento, em Brasília, para esclarecer diálogos apresentados por Moro onde pedia que ele aceitasse a substituição de Valeixo por Ramagem. Por fim, na quinta-feira (14), o ex-superintendente da PF em Minas Gerais Rodrigo de Melo Teixeira, responsável pelo primeiro inquérito sobre a facada em Bolsonaro, depõe à PF às 15h. Teixeira acusa Bolsonaro de tê-lo exonerado do cargo por não ter chegado à conclusão que a família do presidente queria no caso Adélio Bispo.

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