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Ministro Eduardo Pazuello e governadores em cerimônia de entrega das vacinas no dia 18/01/2021
Ministro Eduardo Pazuello e governadores em cerimônia de entrega das vacinas no dia 18/01/2021| Foto: PAULO LOPES/ Ministério da Saúde

O dia seguinte após a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovar o uso emergencial de vacinas no Brasil foi marcado por dificuldades logísticas na distribuição de imunizantes, aplicação simbólica da coronavac em moradores de diferentes estados, governadores se vendo obrigados a refazer planos e a briga política entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e seus adversários ganhando novos capítulos.

Ao longo desta segunda-feira (18), doses da vacina contra a Covid-19 foram despachadas para todos os estados do Brasil. Governadores se reuniram no começo do dia com o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, em Guarulhos (SP) para celebrar a remessa dos imunizantes e dar início ao processo de vacinação nos estados.

A euforia registrada na manhã, porém, deu lugar à ansiedade em muitos estados: o governo se complicou com a logística e doses prometidas para o início da tarde chegaram bem depois do esperado inicialmente. A expectativa da "primeira vacinação" em muitos locais teve que ser revista.

Ainda assim, a vacinação se iniciou em 11 estados: Tocantins, Piauí, Ceará, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Goiás, São Paulo, Maranhão, Rio de Janeiro, Paraná e Santa Catarina.

Outros seis podem realizar suas primeiras imunizações ainda nesta segunda-feira. Bahia, Pernambuco, Mato Grosso, Espírito Santo e Rio Grande do Sul aguardam ou o recebimento do imunizante ou a logística interna necessária para a aplicação das doses.

O Distrito Federal e sete estados (Roraima, Amazonas, Acre, Alagoas, Sergipe, Rio Grande do Norte e Paraíba) anunciaram que começarão a imunização na terça-feira (19). Amapá, Pará e Rondônia não haviam definido a data inicial de sua imunização até a conclusão desta reportagem.

"A gente está travando uma luta, talvez a batalha mais importante para vencer essa guerra. É um vírus perigoso, que já levou milhares de vidas. E as pessoas precisam entender que precisam continuar atentas às outras recomendações", afirmou o secretário de Saúde do Mato Grosso do Sul, Geraldo Resende.

Ele, que é médico, reforçou a necessidade da continuidade de medidas de prevenção, como uso de máscaras e o distanciamento social. Mato Grosso do Sul, como outros estados, lançou a vacinação com a imunização de pessoas que pertencem a grupos simbólicos: uma idosa, um indígena e dois profissionais de saúde.

Na política, guerra e paz

O secretário do Mato Grosso do Sul afirmou que o início da vacinação em grande parte do país deveria levar a uma redução na "politização" em torno do combate ao coronavírus. "Eu acho que a gente tem que superar esse momento de politização da doença e da vacina. A gente tem que construir uma unidade que pode resultar na diminuição deste quadro de pandemia", afirmou Resende, que é filiado ao PSDB.

Um colega de partido do secretário, porém, não endossou a abordagem do fim da politização. Na noite da segunda, o governador de São Paulo, João Doria, foi às redes sociais para dizer que o presidente Bolsonaro "volta a ameaçar a democracia do Brasil".

"Sua índole autoritária tem o repúdio dos brasileiros de bem, que condenam sua tentativa de violar nossa Constituição. Cala-te Bolsonaro", publicou Doria, que replicou a mesma mensagem também em inglês. O governador se referiu a uma fala de Bolsonaro dada durante a manhã, quando o presidente disse que a democracia, no Brasil, é garantida pelas Forças Armadas.

Doria se tornou o principal antagonista de Bolsonaro desde o início da pandemia e a situação se acentuou quando o governo de São Paulo indicou que poderia elaborar uma vacina para o enfrentamento da Covid-19. O presidente ironizou a ideia em diversas ocasiões, vinculando Doria à China e questionando a confiabilidade da substância. Nesta segunda-feira (18), porém, Bolsonaro disse que a vacina "é do Brasil".

O governador de São Paulo não esteve na cerimônia da manhã desta segunda. Ele foi representado por seu vice, Rodrigo Garcia (DEM). O evento contou, por outro lado, com governadores do PT, como Fátima Bezerra (RN) e Camilo Santana (CE).

Ainda no domingo, foi tornada pública a informação de que o governador do Piauí, Wellington Dias (PT), havia questionado a decisão de Doria de fazer a primeira imunização do Brasil, por "desequilibrar" a relação entre os estados. A ação do tucano foi também questionada pelo ministro Eduardo Pazuello.

O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), porém, em entrevista à Rádio CBN, disse que não ficava "decepcionado" com Doria e que o tucano "capitaneou esse movimento (pela vacinação)". Zema é apoiador do governo de Jair Bolsonaro.

Butantan lança sinal amarelo sobre vacinas

A celebração em torno das primeiras imunizações no Brasil não impediu um freio que veio por parte do próprio Instituto Butantan. O diretor da instituição, Dimas Covas, afirmou nesta segunda-feira que a produção de vacinas pode ser desacelerada se matérias-primas não chegarem com a velocidade necessária.

O Butantan faz atualmente 1 milhão de doses da vacina por dia. Segundo Covas, o ritmo só será mantido se insumos que estão na China chegarem a tempo. "Mil litros (da matéria-prima) dão origem a um milhão de doses", disse, em entrevista coletiva.

Segundo ele, a evolução da importação depende da resolução de amarras burocráticas. "Temos um carregamento de matéria-prima pronto lá na China para ser despachado e estamos aguardando autorização do governo chinês para aí sim iniciar a segunda etapa de produção", afirmou. Por enquanto, o Butantan disponibilizou quase 6 milhões de doses, e já pediu autorização emergencial da Anvisa para liberação das vacinas que serão envasadas aqui.

Manaus continua nas preocupações

O dia da imunização em diferentes estados não retirou completamente o foco da crise sanitária em Manaus. A capital do Amazonas passa por uma sobrecarga em sua rede de saúde e viu a elevação no número de mortes por Covid-19 desde a semana passada. Um episódio que marcou o processo foi o fim dos estoques de oxigênio na cidade.

O ministro da Saúde reconheceu, na coletiva que concedeu nesta segunda, que tinha conhecimento de um possível término do oxigênio em Manaus desde o dia 8. "No dia 8 de janeiro, nós tivemos a compreensão, a partir de uma carta da White Martins, de que poderia haver falta de oxigênio se não houvesse ações para que a gente mitigasse este problema", afirmou.

Pacientes de Manaus foram transferidos a diferentes estados nos últimos dias. O governo federal foi obrigado pela juíza Jaiza Maria de Pinto Fraixe a informar seu plano para o abastecimento de oxigênio na rede de saúde local.

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