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A inédita construção do túnel imerso no canal marítimo entre Santos e Guarujá, no litoral de São Paulo, é mais um capítulo na história do setor marcada pela busca de inovações para a mobilidade dos brasileiros, seja na área urbana ou na logística de cargas. Com 1,5 quilômetros, sendo 870 metros imersos a 21 metros de profundidade, a estrutura imersa é considerada pequena em comparação aos maiores túneis do Brasil.
Coordenador do Projeto Mobilidade Integrada (Promobis), que prevê a construção de um túnel imerso com a mesma metodologia da estrutura da Baixada Santista entre as cidades catarinenses de Itajaí e Navegantes, o engenheiro civil João Luiz Demantova ressaltou que o país tem décadas de experiência na construção de túneis escavados como alternativas em áreas com topografias íngremes e com a presença de maciços rochosos.
“A tendência é sempre procurar a alternativa mais econômica. Em um primeiro momento é a transposição do solo direto com estradas que vão subindo, serpenteando os maciços para vencer a declividade. Porém, em outros casos, a alternativa é fazer uma obra através de um túnel e existem alguns parâmetros técnicos que definem se isso tem aplicabilidade”, comenta.
De acordo com o engenheiro, os túneis também são importantes para o modal ferroviário pela dificuldade dos trens superarem as grandes altitudes. “As rampas de declividade que eles conseguem vencer são bem menores em relação aos automóveis e caminhões. A tecnologia utilizada para os túneis em ferrovias é a mesma usada nas rodovias com a escavação em rochas”, explica.
Demantova ainda ressalta que os túneis são considerados soluções sustentáveis com menos impacto para a natureza. “Apesar de exigir um alto investimento inicial, o túnel tem um impacto ambiental muito significativo porque poupa toda a vegetação e preserva muito a fauna da região. A diferença é que não ocorre a descontinuidade da área, ao contrário da construção de uma estrada”, compara.
Conheça os maiores túneis do Brasil
- Tunelão: construído na década de 1970, o Tunelão é o maior túnel do Brasil com 8.645 metros de extensão e está localizado na Ferrovia do Aço, em Minas Gerais, na ligação com o estado do Rio de Janeiro. O Tunelão também é considerado como a segunda maior estrutura desse tipo em trilhos na América Latina, projetada como uma importante ligação para os portos do litoral brasileiro.
- Rodovia dos Tamoios: os maiores túneis rodoviários do Brasil estão na rodovia localizada na Serra do Mar, que liga o interior de São Paulo ao litoral norte do estado. A Tamoios possui um complexo com cinco túneis, sendo que dois deles são os maiores do país em rodovias. O túnel 3/4 lidera a lista com 5.555 metros, seguido do túnel 5 que tem 3.700 metros de extensão.
- Imigrantes: principal ligação entre São Paulo e a Baixada Santista, a pista sul da rodovia dos Imigrantes foi inaugurada em 2002 e conta com quatro túneis, sendo que dois deles estão na lista dos cinco maiores do país com 3.150 metros e 3 mil metros de extensão. O projeto da terceira pista da Imigrantes promete inaugurar o maior túnel do país em rodovias com mais de 6 mil metros.
- Túnel da Covanca: o maior túnel rodoviário urbano do Brasil integra a Linha Amarela na cidade do Rio de Janeiro e possui 2.187 metros em cada sentido, totalizando 4.374 metros. Também no Rio, o túnel Rebouças tem 2.800 metros de comprimento e leva o sobrenome dos irmãos André e Antônio Rebouças, os primeiros engenheiros negros do Brasil.

Terceira pista da Imigrantes terá 80% do trecho por túneis e maior estrutura do Brasil
No início deste ano, o governo de São Paulo anunciou o projeto de construção da terceira pista da rodovia dos Imigrantes, considerado estratégico para a logística brasileira no escoamento da produção entre a maior capital do país e o porto de Santos, o maior da América Latina.
De acordo com o projeto, a nova pista terá 21,5 quilômetros de extensão no trecho de serra, sendo que 17 quilômetros, que representa 80% do percurso, serão percorridos por túneis. Uma das estruturas previstas será construída com aproximadamente 6 quilômetros, tornando-se o maior túnel do Brasil em rodovias.

Com a terceira pista, a rodovia, que está integrada ao sistema Anchieta-Imigrantes, deve se tornar ainda mais relevante para o transporte de cargas e para a mobilidade na região entre a Baixada Santista e a cidade de São Paulo. “A Imigrantes é uma rodovia que tem todos os elementos conjugados. Na área, chamamos essas estruturas de engenharia de obras de artes especiais. Uma obra-prima da engenharia brasileira”, enaltece o engenheiro Demantova.
No estilo túnel, reservatórios geram energia e abastecem regiões
A escavação de rochas também é uma solução encontrada pela engenharia para instalação de reservatórios em serras e montanhas responsáveis pelo fornecimento de energia e água, considerados os serviços públicos mais essenciais para a população.
Em operação desde 1970, a usina hidrelétrica Parigot de Souza, em Antonina, no litoral paranaense, é considerada um marco na engenharia por possuir um reservatório de água no município de Campina Grande do Sul, localizado na Região Metropolitana de Curitiba, a cerca de 50 quilômetros de distância.
Para gerar energia elétrica, segundo a Companhia Paranaense de Energia (Copel), a água captada na represa do Capivari atravessa um túnel de 15 quilômetros escavado na Serra do Mar até a hidrelétrica Parigot de Souza, a maior central subterrânea do Sul do Brasil, com capacidade para atender o consumo de até 750 mil pessoas.
O segredo da montanha é o próprio relevo. O desnível do reservatório, localizado com altitude acima das turbinas instaladas no nível do mar, é de 750 metros de queda, o que possibilita o trajeto da água em até 426 km/h, velocidade suficiente para movimentar as turbinas para produção de energia elétrica. Depois disso, a água do rio Capivari é lançada no rio Cachoeira, por isso, o sistema foi batizado originalmente de usina Capivari-Cachoeira.
Na Baixada Santista, um túnel-reservatório foi construído pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) na década de 1970 nos morros de Santa Tereza e Voturuá, na divisa entre Santos e São Vicente, com o objetivo de atender a crescente demanda populacional no litoral paulista a partir dos anos 1980.
Escavado na montanha, o reservatório tem mais de mil metros de extensão em duas câmaras com capacidade de armazenamento de 110 milhões de litros de água para abastecimento de regiões nas cidades de Santos, São Vicente, Guarujá e Praia Grande.
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