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João Batista do Nascimento,, o “Pastor”: líder de população de rua convocou moradores a participar do Intervidas | Daniel Castellano/Gazeta do Povo
João Batista do Nascimento,, o “Pastor”: líder de população de rua convocou moradores a participar do Intervidas| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

O debate sobre a descriminalização do uso pessoal de drogas não passa apenas pelas altas esferas do Supremo Tribunal Federal (STF). Tampouco se resume às exaltadas rodadas de conversa no movimento antidrogas. Desde abril deste ano, a discussão circula, às quintas-feiras, pela Praça Osório, Centro de Curitiba.

  • A equipe: a pedagoga Fernanda Cristina Kosiaki Ricardo; a coordenadora Carolina de Souza Nascimento; a terapeuta ocupacional Emelin Cristina da Silva; o psicólogo Gledson Marcelo B. dos Santos; o motorista João Enéas Prohmann.: atendimento no local e na hora em que as coisas acontecem.
  • A turma da rua chega depois das 18h30 - e permanece até 21h30: pelada, jogos, cantoria. Objetivo do programa é criar vínculos, para que usuários, depois, sejam encaminhados a programas sociais e aos Centros de Atendimento Psicossocial. “É uma população invisível”, diz a psicóloga Caroline Nascimento, que coordena o programa.
  • “A Linha da Vida” já atendeu mais de 320 moradores de rua, desde o início do programa, em abril deste ano.
  • Gledson, Caroline, Fernanda, Emelin e João Enéas a bordo do ônibus - as quintas-feiras não são mais as mesmas na Praça Osório.
  • Fernanda em ação - aproximação é lenta, sem ansiedade. Usuários ganham atenção e orientação. Nenhum deles utiliza drogas nas imediações do ônibus. “Nossa política é de redução de danos”, diz Fernanda Ricardo.
  • João Batista do Nascimento, o “Pastor” - 25 anos de rua: ele chamou a turma da rua a participar do Intervidas.
  • O Casal “D” e “A”, ele com 19 e ela com 25 anos: conheceram-se na rua e na rua estão. Formaram uma família com outro casal e defendem que a maconha seja liberada; “A droga acalma a gente”, diz.

Lá pelas 18h30, o ônibus do projeto Intervidas – “a linha da vida” –, da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), estaciona na altura em que a Osório se encontra com a Cândido Lopes - perto da Boca do Brilho. Gente da equipe, como o motorista João Enéas Prohmann, abre a lateral do ônibus, que vira uma sacada. A turma vai chegando – psicólogos, educadores, terapeuta educacional e eles, os usuários de drogas que vivem em marquises ali perto, na Rui Barbosa e adjacências. Podem chegar a 50 de uma vez só. Às 21h30, dispersam-se. Em seis meses, 320 moradores de rua passaram pelo programa.

Apesar da semelhança com o Consultório de Rua, também da SMS, o Intervidas não tem caráter ambulatorial. “Nosso foco é a redução de danos - é psicossocial. Essas pessoas são invisíveis. Estamos com elas à noite, na hora em que o consumo de substâncias aumenta. É em tempo real. Exige empatia para dar certo”, define a psicóloga Carolina Nascimento, 39 anos, coordenadora do projeto. Sua equipe está ali para criar vínculos com os dependentes químicos, de modo a conseguir que se integrem ao Centro de Atenção Psicossocial, os Caps, e outros.

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Os resultados são positivos: os encontros trazem cantoria, pelada, gargalhada – rodas de leitura e contação de histórias. As noites de hip-hop são as de maior adesão. Lotam. O “ônibus da Osório” já conta com suas figurinhas. Ertson Pedro da Silva, 48 anos, o“Pança”, é ex-radialista, morador da calçada do Edifício Asa. “Qual é a música?”, pergunta. My Way, na voz de Frank Sinatra, alguém grita. Cobertor puído debaixo do braço, ele canta, num inglês lustroso, e avisa que está só no álcool, “por enquanto”. E acrescenta. “Sou uma celebridade. Estou no Facebook. Conheci a Gilda (travesti que mendigava nos anos 1980 na XV). Isso aqui é a crime, não o Kremlin.”

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Observando tudo, sempre, João Batista do Nascimento, o “Pastor”, 49 anos, 25 de rua. É o líder. “Não fosse a força que nos deu, seria mais difícil. Ele é quem chamou o pessoal e disse que o ônibus era uma coisa boa”, conta a educadora Fernanda Ricardo. “Eles não veem como cidadãos de direito. Nosso processo de aproximação é bem lento. Não julgamos ninguém. Nossa aproximação não pode ser repressora.” O grupo oferece conversa e pequenos cuidados - protetor labial, preservativos, chocolates, um pouco de tevê e orientação para tratamento - quando há abertura por parte do povo da rua.

Se o Intervidas conta com uma lista dos mais chegados, conta também com os mais arredios – em geral os jovens. Dois casais chegam. Estão bem vestidos e banhados. Moram numa área coberta da Avenida Sete de Setembro. Mandam um recado para a turma do STF. “Tem de liberar. Maconha não é droga. Deixa a gente calmo”, diz “D”, 19, no que é apoiado pela companheira, “A”, 25. Comentam que se conheceram na Praça Oswaldo Cruz e que se casaram na rua. Beijos no Intervidas.

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