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Municípios não fazem mapeamento das áreas de risco e por isso a população fica à mercê das tragédias climáticas | Walter Alves/Gazeta do Povo
Municípios não fazem mapeamento das áreas de risco e por isso a população fica à mercê das tragédias climáticas| Foto: Walter Alves/Gazeta do Povo

São José dos Pinhais

Produtores rurais ficam isolados

A comunidade rural de Colônia Castelhanos, a 70 quilômetros de São José dos Pinhais, sentiu as consequências das fortes chuvas que atingiram o litoral. Sem energia elétrica e isolados desde sexta-feira, os moradores não conseguiam sair da localidade até o começo da tarde de ontem, pela queda de mais de 20 barreiras em pouco mais de 14 quilômetros entre a colônia e a BR-376.

Apenas tratores dos moradores conseguiam passar, cortando troncos e retirando galhos. Os moradores do local são agricultores e plantam bananas pra sobreviver. Com renda média de R$ 1,5 mil por mês, eles tentavam sair do isolamento para levar as centenas de caixas de bananas a um caminhão que esperava na rodovia.

"A prefeitura falou que a hora que der sol eles vão descer aqui. Mas e se não tiver sol?", questiona o agricultor Márcio Fabiano Ellmer, 27 anos. A prefeitura de São José dos Pinhais informou que vai avaliar como fará a manutenção na estrada.

Diego Ribeiro

Mapeamento

Sem estudos, população corre riscos

Para o Capitão Eduardo Gomes Pinheiro, chefe da seção operacional da coordenadoria estadual da Defesa Civil do Paraná, há muitos fatores que contribuem para a ocorrência de desastres. Mas ele disse que a ocupação humana amplia os efeitos negativos. Pinheiro, que é mestre e doutorando em Gestão Urbana, argumenta que os municípios não fazem mapeamento de suas áreas de risco e nem têm planos diretores de defesa civil, o que deixa a população despreparada para catástrofes. "Região serrana ocupada significa área de risco."

Pinheiro lembra que é tradição no Brasil os gestores municipais não se preocuparem com a segurança global da população. "O que fica de aprendizagem é a necessidade de se investir em prevenção e no fortalecimento das defesas civis." Neste ano, a Defesa Civil Estadual assumiu a responsabilidade de mapear as áreas de risco do estado porque apenas o município de Curitiba já realizou esta obrigação. (PC)

  • Veja as consequências do desastre

A área afetada pelas fortes chuvas que atingiram o litoral do estado no último final de semana vai desde a Baía de Guaratuba até o norte de Antonina, chegando a ter entre 15 e 20 quilômetros de largura. A região foi afetada por centenas de deslizamentos de terra de pequeno, médio e grande porte, com inundações em praticamente todos os rios da área costeira. As informações são do geólogo e diretor do Centro de Apoio Científico em Desastres da UFPR (Cenacid), Renato Lima, que esteve este final de semana no litoral para avaliar a situação. Para especialistas, este é um dos maiores desastres que já atingiram a costa do Paraná.

Apesar de o número de vítimas ser menor do que outras tragédias, como a que atingiu o Rio de Janeiro no início deste ano, a dimensão dos estragos é extensa. Renato Lima afirma que a situação foi agravada em função da formação de "cabeças d´água". O fluxo atinge uma grande velocidade e com troncos, pedras e terra, a capacidade destrutiva é ampliada. Esse foi o principal fator que contribuiu para o dano na infraestrutura de estradas, rodovias e redes de transmissão de energia e abastecimento de água.

A analogia com o ocorrido no Rio de Janeiro é possível, já que tanto o litoral do Paraná quanto o fluminense são cortados pela mesma serra do mar, que tem características como umidade e grande volume de chuvas. As proporções são diferentes principalmente em função do número de habitantes. Enquanto Morretes tem uma população de cerca de 17 mil habitantes, Teresópolis, no Rio, tem 163 mil. Neste aspecto, o município paranaense pode levar vantagem, já que tem uma população menor e conseqüentemente menos que precisam ser relocados.

Impacto

Morretes foi um das cidades mais atingidas e ainda corre risco porque é cortada pelo rio Nhun­diaquara e seus afluentes, o que contribuiu para a ocorrência de alagamentos e enxurradas. Dados da Defesa Civil mostram que praticamente toda a população foi afetada pelas chuvas, metade das pessoas ficou desalojada e duas mil e quinhentas residências foram danificadas. A característica natural também foi um dos principais agravantes em Antonina. A cidade tem mais encostas e teve deslizamentos de terra, que ocasionaram os dois óbitos confirmados até agora.

Situação semelhante a deste final de semana foi observada em Morretes nos anos de 2003 e 2004 - embora a extensão dos danos tenha sido bem menor – em Guaratuba, na década de 90. "Nos últimos 30 anos, este foi o acidente de maiores proporções", diz Lima.

Reconstrução

Apesar do menor potencial destrutivo em relação aos fluminenses, Renato Lima calcula que a região serrana do Paraná levará dois meses no processo de restauração do desastre e até dois anos para a reconstrução da infra-estrutura, com relocação da população das áreas de risco e reconstrução das moradias. Apesar disso, como as cidades são menores, é mais fácil realizar a gestão do problema e a exigência de recursos é menor.

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