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Um leitor, conforme ele mesmo diz, anda "irritado" com alguns usos do pronome "onde". Mandou-me algumas construções em que aparece o dito cujo, aliás, o dito onde, para exemplificar sua irritação. Vejamos duas: (1) "O deputado está numa situação ONDE não há saída fácil" e (2) "A reunião com empresários do Sul do país foi um evento ONDE muitas soluções foram apresentadas para o problema das exportações".

Se obedecermos às lições da maioria dos instrumentos normativos de nossa língua, notaremos que nas duas construções o ONDE está empregado de forma inadequada, uma vez que não tem a função de retomar uma palavra (ou grupo de palavras) de valor locativo, isto é, que carregue a ideia de lugar: a casa ONDE moro, a roça ONDE planto feijão, a cidade ONDE conheci a desilusão. Nesses três exemplos, o pronome "onde" está em harmonia com a lição normativa porque se refere a palavras de valor locativo: casa, roça e cidade são lugares, são locais.

Voltando aos exemplos mandados pelo leitor, verificamos que as palavras à esquerda do pronome ONDE ("situação" e "evento") não têm valor locativo, de lugar. Seguindo a orientação normativa, podemos reescrever a primeira frase assim: O deputado está numa situação PARA A QUAL não há saída fácil. E a segunda assim: A reunião com empresários do Sul do país foi um evento EM QUE/NO QUAL muitas soluções foram apresentadas para o problema das exportações.

O assunto pode ir bem mais longe caso tomemos como base estudos que analisam a produtividade do pronome "onde" no português escrito contemporâneo – ou mesmo no português falado. Estudos mais preocupados com a funcionalidade do "onde". No momento, porém, apenas anoto que os exemplos foram retirados de jornais (veículos normativistas) e isso significa que alguém não está fazendo a lição direito na hora de escrever e de revisar.

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