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| Foto: Jonathan Nackstrand/AFP

O poeta Lord Byron, aquele chauvinista, declarava que a única coisa que as mulheres podiam ser vistas comendo era salada de lagosta e, bebendo, champanhe. Nas primeiras décadas do século 18, pouco depois da descoberta do champanhe, a poderosa e voluptuosa Madame de Pompadour não deixa Lord Byron assim tão mal: “O champanhe é o único vinho que deixa a mulher mais bonita depois de beber”. E diz a lenda que as taças de champanhe foram modeladas nos admirados seios daquela amante do rei da França.

Na biografia da “Viúva Clicquot”, a história da mulher que construiu um império de champanhe, a escritora Tilar Mazzeo relembra que o estouro da rolha e o brilho da espuma borbulhante significam comemoração e glamour. É o vinho do amor e dos beijos de ano-novo. É lindo e delicado, é um vinho associado a mulheres.

Mulher, champanhe e o ano que vai nascer, tudo a ver

Mulher, champanhe e o ano que vai nascer, tudo a ver. A elas as flûtes (taça de champanhe em forma de flauta), a eles os copos. Se a um alegre monge cego do século 17 com o nome de dom Pierre Pérignon se deve a descoberta do segredo das bolhas do champanhe na adega da abadia, o primeiro vendedor de sonhos borbulhantes foi Charles-Henri Heidsiek, que viajou a cavalo mais de 3 mil quilômetros até a Rússia, como marqueteiro do champanhe. Mais tarde, seu filho Charles Camille foi imortalizado numa canção popular como “Champagne Charlie”. A expressão se tornou gíria com o significado de “homem devasso ou notório bebedor de vinho espumante”. Abraham Lincoln pregava que aprendeu com a experiência que as pessoas que não têm vícios têm muito poucas virtudes. E, dessas virtudes, acrescentaria a “Viúva Clicquot”, o champanhe é o melhor dos vícios.

No Guia de drinques dos grandes escritores americanos encontramos muitos virtuosos viciados no champanhe. Homens e/ou mulheres, são eles os “Champagne Charlie”, devassos e notórios bebedores do vinho frisante. Começamos pelos homens, os chegados aos copos.

“De que adianta ganhar o Prêmio Nobel se isso não nos permite nem entrar nos bares clandestinos?” Romancista e dramaturgo, Sinclair Lewis foi o primeiro americano a receber o Prêmio Nobel e não foi o último dos escritores devotados ao Bellini, coquetel inventado no Harry’s Bar, em Veneza. A cor quente lembrava os quadros do pintor italiano do século 15 Giovanni Bellini: 60 ml de polpa de pêssego, e champanhe. Coloque a polpa de pêssego em uma flûte previamente gelada. Complete com champanhe. Mexa delicadamente. Às vezes se acrescenta um fio de suco de limão.

Poeta, contista e dramaturga, Dorothy Parker foi a única mulher entre os membros fundadores da lendária Algonquin Round Table, em Nova York. De início não gostava do sabor do álcool. Ao cair na tentação, começou com gim, que a enjoava, passou pelos escoceses, que não faziam bem o seu tipo, para finalmente descobrir a paixão de sua vida, o coquetel de champanhe. Embora casada várias vezes, Dorothy era cronicamente solitária. Seu único romance duradouro parece ter sido o champanhe. Quando dividia um minúsculo escritório com Robert Benchley, parceiro do Algonquin, ela brincava: “Um centímetro a menos e seria adultério”. Infiel, às vezes traía o espumante com o Martini: “Gosto de um Martini / dois, no máximo / com três estou embaixo da mesa / com quatro embaixo do anfitrião”. Ao ser apresentada ao champanhe, Dorothy Parker compôs um poema para o seu novo amor: “Três são as coisas que nunca terei: inveja, contentamento e champanhe suficiente”.

Às nossas leitoras, uma flûte linda e delicada, com o borbulhar de bons augúrios ao futuro. Aos nossos leitores, um brinde ao ano que vai nascer.

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