
Delegado da Polícia Federal e deputado federal eleito, Fernando Francischini (PSDB) é uma referência em combate ao narcotráfico no Brasil. Ex-secretário municipal Anti-Drogas, ele participou das prisões do traficante colombiano Juan Ramirez Abadia e do contrabandista chinês Law Kin Chong. Em entrevista à Gazeta do Povo, ele afirma que o Lago de Itaipu é hoje a maior entrada de drogas e armas no país, além de confirmar a presença maciça do Comando Vermelho no Paraguai, perto da fronteira com o Paraná. Muito mais do que repressão nos morros do Rio de Janeiro, o deputado ressalta que a fronteira deve ser o alvo das polícias.
Quais os principais obstáculos para combater o narcotráfico?
O Comando Vermelho (CV) e a Amigos dos Amigos (Ada) principais organizações criminosas no Rio se juntaram para combater as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). Muitas vezes prendemos integrantes dessas facções no Paraná, principalmente quando o chefe era o Fernandinho Beira-Mar, um dos maiores líderes da história do CV. Hoje ele é uma figura menor. Mas há outros, o "FB", a nova liderança, que escapou do cerco no Rio. Eles (do Comando Vermelho) montaram uma grande base operacional no Paraguai. Hoje o CV dominou principalmente a área de Capitan Bado, na fronteira com Mato Grosso do Sul, próximo de Guaíra. As estatísticas da Polícia Federal mostram que 90% das armas e drogas apreendidas no país saíram daquela região (usando o Lago de Itaipu). Vários integrantes do CV foram presos ali. A gente precisava ter medidas preventivas para evitar que o Paraná seja usado como rota de fuga do Rio para o Paraguai e evitar que alguns permaneçam na fronteira. Minas Gerais, Espírito Santo e São Paulo estão empenhados bloqueando a via de acesso com barreiras. Pernambuco está há dias conferindo identidades e vistoriando ônibus. Medidas preventivas deviam estar acontecendo aqui.
Onde estão os pontos mais problemáticos no Paraná, fora a região de fronteira?
Falando em transporte, Umuarama e Cascavel são pontos estratégicos no Paraná. Em Cascavel, o doutor Jaber Saadi, que foi nosso superintendente, implantou a delegacia (da PF). Ali fica o maior entroncamento rodoviário. O que sai de Foz do Iguaçu tem de passar por Cascavel, e na maioria das vezes o que sai de Guaíra tem de passar por Umuarama. A Polícia Federal não está em Umuarama. Precisa de uma delegacia. São posições que deveriam ter grandes estruturas de polícia rodoviária, PF e Receita Federal, porque são pontos estratégicos. Curitiba e região viraram um grande mercado consumidor de crack, de cocaína e maconha. Infelizmente, a polícia, em razão do pouco efetivo, passou a ser apenas reativa.
O Paraná tem um problema diferenciado de outros estado em relação ao tráfico de drogas?
O Paraná e o Mato Grosso do Sul têm. Além de serem foco de consumo, são focos de transporte e drogas no interior. Para sair do Paraguai e chegar a São Paulo e Rio, as drogas têm de passar por um dos dois.
Como melhorar a repressão nas fronteiras?
O estado pode se integrar à PF nos centros de inteligência nas fronteiras. A PF não tem efetivo para fazer tudo que quer. A Polícia Militar poderia cobrir um posto de fronteira, poderia fazer operações conjuntas para aumentar a força da PF. Essa é a tendência de trabalho integrado, com Forças Armadas, que está ocorrendo no Rio de Janeiro. Além disso, a PM teria de ter três batalhões na região de fronteira. Aquele que já existe em Foz, em Toledo, mas teria de ter um batalhão específico para o Lago de Itaipu. As próprias Forças Armadas deveriam trabalhar com combate ao crime organizado na fronteira, como as Forças Amadas americanas fazem. Lá, nos EUA, eles deslocavam as unidades do Exército, da Marinha, para a faixa fronteiriça. Eles ajudam a Border Patrol, a polícia de fronteira americana. É uma questão de segurança nacional. O primeiro passo foi dado no Rio. Queremos também unidades do Exército se envolvendo na nossa faixa de fronteira.
A fronteira do Paraná é pior do que a do Mato Grosso do Sul?
Eu acho que é. Houve um deslocamento acentuado para cá. No Mato Grosso do Sul a fronteira é seca, com várias rodovias. Aqui temos um lago com 170,5 km de leito navegável, onde à noite se vai remando com motorzinho de popa. Dificilmente é identificado. A PF tem lanchas, faz um trabalho excelente, mas o efetivo é insuficiente. O Lago de Itaipu é gigantesco (atinge 15 cidades paranaenses e uma sul-mato-grossense).
É o maior ponto de entrada de drogas no Brasil?
É. A noite inteira passa drogas e armas por lá.
Em grande quantidade?
É contínuo. A balsa vem com duas, três toneladas de droga. Carros pequenos param no barranco, vão carregando, já vão para o segundo entreposto, uma fazenda por exemplo, em uma cidadezinha vizinha, carregam caminhão, botam madeira em cima, carga de carvão e disparam para outra cidade.
A venda de drogas no Rio está sendo apertada pelas UPPs. Os traficantes podem buscar outro mercado? O Paraná pode ser uma alternativa?
Eu não acredito nessa possibilidade de migrarem do Rio e montarem o comércio aqui. Eu acredito, como ocorreu em várias oportunidades, de eles usarem o Paraná como esconderijo. O Paraná é um estado tranquilo, onde a polícia está fragilizada pelos últimos oito anos.
O que é preciso de efetivo para conter o problema de imediato?
Guerra ao tráfico, fazendo uma limpa em Curitiba e região. Puxar todos os mandados de prisão de traficante e de homicidas. E trancar a fronteira.



