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Mapa da Fundação Oswaldo Cruz desta segunda-feira mostra que o Paraná é o único estado do país com tendência de alta nos casos de covid-19
Mapa da Fundação Oswaldo Cruz desta segunda-feira mostra que o Paraná é o único estado do país com tendência de alta nos casos de covid-19| Foto: Reprodução / Fiocruz

Esta terça-feira (09) é o último dia de vigência do decreto estadual que determinou o fechamento do comércio e de serviços não essenciais por 12 dias no Paraná. A partir de quarta-feira, (10) os estabelecimentos voltam a ter autorização para funcionar, em horários reduzidos (das 10h às 17h), com fechamento nos finais de semana e manutenção do toque de recolher noturno. Mas a flexibilização das medidas restritivas aconteceu antes de o estado efetivamente conseguir frear o avanço da Covid-19. Na sexta-feira, 05 de março, quando o governador Carlos Massa Ratinho Junior (PSD) anunciou a prorrogação do decreto por mais dois dias (a vigência inicial era até segunda-feira) e a reabertura a partir de quarta-feira, nenhum dos principais indicadores da pandemia estava melhor do que no dia do decreto (26 de fevereiro).

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O governador decretou o fechamento do comércio e serviços não essenciais no dia em que o estado atingiu 94% de ocupação de seus leitos de UTI e já registrava uma fila de 478 pacientes aguardando transferência. A média de casos diários era de 4.247 e a média móvel de óbitos, 68,1. A taxa de reprodução do coronavírus no estado, medida pela Universidade Federal do Paraná, era de 1,15. Na última sexta-feira, quando anunciou o abrandamento das medidas, a taxa de reprodução havia subido para 1,20, a média móvel de casos era de 4.845, a de óbitos, 92,6 e a taxa de ocupação de UTIs estava em 96%, apesar da abertura de 177 novos leitos. O número de pessoas na fila de espera por um leito praticamente dobrou, indo a 858.

Ao contrário da Prefeitura Municipal de Curitiba, que estabeleceu critérios estatísticos para determinar a “bandeira” da cidade no momento da pandemia e, assim, decidir por medidas mais ou menos restritivas (embora nem sempre esses critérios tenham sido obedecidos ou as medidas adotadas conforme prevê a classificação inicialmente divulgada), o governo do estado não possui indicadores fixos para embasar suas decisões, que são tomadas a partir da análise da evolução da pandemia no estado.

A coluna questionou a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) e o gabinete do governador Ratinho Junior sobre “quais indicadores fizeram o estado decretar o fechamento do comércio, prorrogar o decreto por mais dois dias e flexibilizá-lo a partir de quarta-feira”. A Sesa não respondeu ao questionamento. O Palácio Iguaçu comunicou que o governo buscou o equilíbrio, acreditando ser possível reduzir os indicadores da pandemia com os 12 dias de fechamento, sem prejudicar tanto os setores da economia atingidos pela medida. O governo alegou, ainda, que a adesão ao isolamento social foi baixa (34% de isolamento apenas, enquanto a expectativa era superar os 50%) e que as medidas consideradas de melhor resultado para evitar aglomerações e acidentes que possam sobrecarregar o sistema de saúde foram mantidas: o toque de recolher e a proibição de venda de bebidas alcoólicas no período noturno.

Na entrevista coletiva em que anunciou as novas medidas, na última sexta-feira, Ratinho Junior disse que ainda espera três semanas muito difíceis pela frente. “O mês de março ainda será muito difícil, mas foi necessário haver oxigenação para o comércio para que eles não sejam tão prejudicados com o problema que estamos enfrentando”, declarou, apelando para a colaboração da população. “O que vai fazer a gente salvar vidas, agora, é a consciência de cada um. Não é um decreto, uma folha de papel, uma assinatura minha que, sozinha vai salvar vida, mas sim as pessoas entenderem que estamos na maior guerra de saúde pública dos últimos 100 anos”.

Na mesma coletiva, o secretário estadual de Saúde, Beto Preto, disse esperar, que, nas próximas semanas, haja queda nos indicadores da pandemia por conta das medidas restritivas em vigor. “Sempre trabalhamos para os próximos 15 dias. A redução das contaminações hoje reflete no número de internamentos daqui a duas semanas. Acreditamos que haverá diminuição desta fila. Mas o que vai mudar a história dessa pandemia é a chegada efetiva da vacina e a tomada de posicionamento da população”, disse. “A questão econômica não pode perpassar. Não temos solução para tudo, precisamos do apoio de todos. Não adianta continuarmos fechados se não tiver uma propositura de novas medidas. Vamos seguir analisando dia a dia e, se puder abrir mais, vamos abrir, assim como se tiver que restringir mais, restringiremos. O importante é fazer esse abre e fecha com bastante sensibilidade e informando as pessoas”, concluiu.

Decreto vai ser útil, mas foi tardio, diz infectologista

O infectologista Bernardo Montesanti Machado de Almeida, do serviço de Epidemiologia do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná, avalia que as reviravoltas nas medidas restritivas são um claro sinal de que não há um consenso em relação a protocolos de medidas frente à pandemia. “Não está definido quais medidas devem ser tomadas, de que forma, como escalonar e, muito menos o timing, que deveria ser o mais importante. Por isso vemos vários municípios e estados agindo de forma heterogênea, que é um sinal claro de desorganização e de falta de liderança”, afirmou.

Sobre o atual decreto do Paraná, a maior crítica do médico é justamente quanto ao momento em que a decisão foi tomada. “Já havia o registro do aumento da mobilidade das pessoas. Havia, desde o início de fevereiro, o aumento da taxa de positividade, que é um dos indicadores precoces. E, mesmo os internamentos, que é um indicador tardio da análise de transmissibilidade, já demonstrava uma tendência de alta. Com a identificação da nova cepa, e todas as informações que já tínhamos sobre o que aconteceu no Amazonas, já tínhamos indícios que a situação poderia chegar neste limite que realmente chegou”, disse.

“Quanto ao conteúdo, apesar de não ser tão radical, tem um sentido importante. Age em alguns ambientes que são mais propícios para eventos de superexposição. Procura limitar horários e capacidades desses ambientes. É passível de questionamento porque estamos em amplo colapso do sistema de saúde e a medida mais eficaz seria o fechamento completo. Mas aí existe o outro lado da questão, que é o efeito colateral dessas medidas. O dano econômico, o dano social, até espiritual e educacional”, disse, afirmando que, mesmo limitado a 12 dias, o decreto revelar-se-á útil. “Há indícios de redução da mobilidade. Devemos marcar pico de casos nos próximos dias e ter uma redução nas semanas seguintes. Mesmo com a flexibilização, o decreto tem um efeito indireto importante, sinaliza para a população a gravidade da situação e tende a manter a mobilidade mais baixa nas semanas seguintes”, avalia.

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