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Jerusalém — Em meio à agitação sobre um disputado local sagrado na Cidade Antiga, a Organização para a Libertação da Palestina declarou recentemente que o nome usado pelos judeus, o Monte do Templo, "não tem validade". Em vez disso, disse o grupo, o local — "um símbolo para todos os palestinos" — deve ser chamado de Mesquita Al Aqsa ou Nobre Santuário.

O termo árabe e islâmico menos conhecido para o reverenciado planalto é Bait al-Maqdis, ou "casa do sagrado" — o gêmeo linguístico do hebraico Beit HaMikdash, que se refere aos dois templos antigos que havia lá. Acredita-se que o Profeta Maomé ascendeu ao céu nesse local, precisamente por causa da santidade dos templos, refletindo a história entrelaçada de muçulmanos e judeus, israelenses e palestinos, cujo conflito de décadas se deve tanto às narrativas concorrentes quanto aos territórios disputados.

No entanto, a verdadeira disputa pelo local se refere à soberania: dois povos que parecem incapazes de encontrar uma maneira de simplesmente compartilhar. Depois de conquistar a área durante a guerra de 1967, Israel legou às autoridades do Waqf Islâmico todas as competências, menos a segurança.

Agora, quando mais judeus desafiam a proibição de Israel de orar no espaço mais sagrado da sua religião, muitos palestinos temem que o que eles realmente estão querendo é assumir todo o composto e substituir a Cúpula da Rocha por um terceiro templo.

"A questão hoje é: essa é nossa história ou a deles?" disse Sari Nusseibeh, professor da Universidade Al Quds. "Então a coisa toda é apenas uma batalha de crenças, e toca fundo os credos de cada lado, a negação assim como a afirmação."

Líderes palestinos e parentes de autores de atentados terroristas que mataram 11 israelenses recentemente afirmam que ameaças ao local santo estavam por trás dessa violência.

O local tem sido um ponto nevrálgico desde o advento do sionismo moderno. Mais de 100 pessoas de cada lado morreram em tumultos em 1929 na disputa pelo acesso ao Muro das Lamentações. Em 1990, a polícia de fronteira israelense matou 22 palestinos que protestavam contra os planos de um grupo judeu de estabelecer a pedra fundamental de um terceiro templo. Mais tumultos, após a abertura de túneis sob o Muro das Lamentações em 1996, tiraram a vida de cerca de 60 palestinos e 15 soldados israelenses. Quatro anos depois, a visita de Ariel Sharon, então candidato a primeiro-ministro israelense, ajudou a iniciar a segunda intifada.

"As facções extremistas nas comunidades israelenses e palestinas perceberam que esse lugar sagrado é um bem simbólico, por assim dizer, que consolidaria o apoio à sua luta", disse o historiador Yitzhak Reiter.

A negação do Templo também tem uma longa história: depois que Israel se tornou um estado em 1948, autoridades islâmicas retiraram de seus guias todas as referências ao templo do rei Salomão, guias esses que já haviam dito que "não havia dúvidas" que essa era a localização do templo.

A área de 14 hectares, abrangendo mais de um sexto da Cidade Antiga, é local de culto muçulmano desde o século VII. Toda a área é considerada uma mesquita, contém muitas delas, cúpulas, escolas, casas e um museu. Milhares de palestinos a visitam toda a semana.

A história judaica do local é mais antiga — o primeiro templo foi construído pelo rei Salomão em 957 a.C. — mas poucos judeus visitaram o local, seguindo decretos religiosos que dizem que isso é um sacrilégio.

O Primeiro Ministro de Israel disse que não vai mudar o estado das coisas, mas que há legislação pendente no Parlamento que determinaria a liberdade de culto para todos no local.

No livro de Ron E. Hassner de 2009 "War on Sacred Grounds" (Guerra em Solos Sagrados, em tradução livre), um capítulo fala sobre a manipulação da área em 1967, que parece ser uma piada cruel hoje. Professor Hassner, da Universidade da Califórnia, em Berkeley, disse que rabinos líderes de Israel naquela época, guiados pelo governo, tomaram o que foi considerada "uma decisão essencialmente pragmática", dizendo que o lugar era "tão sagrado que não deveria ser visitado".

"Esses rabinos nunca disseram que o Monte do Templo não é nosso. Disseram que é nosso, que o Estado de Israel deveria controlá-lo, e que não podíamos visitá-lo. O argumento de segurança é também um argumento religioso, é sobre o princípio número 1 do Judaísmo, que é ‘não derramarás sangue’", disse Hassner.

Irit Pazner Garshowitz contribuiu com a reportagem

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