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Na cidade de Rangum, em Mianmar, o sargento Khin Myint Maung ganha elogios – e caixinhas – pela forma com que dirige o trânsito | Tomas Munita para The New York Times
Na cidade de Rangum, em Mianmar, o sargento Khin Myint Maung ganha elogios – e caixinhas – pela forma com que dirige o trânsito| Foto: Tomas Munita para The New York Times

Durante doze horas, quase todos os dias, o sargento Khin Myint Maung está a postos em um dos cruzamentos mais caóticos dessa cidade permanentemente engarrafada, desatando os nós do trânsito com paciência e um bom humor inabalável.

Só isso talvez não fosse suficiente para ser considerado o Herói do Ano por um jornal local, ter levado o título de "oficial exemplar" da polícia de Yangon, nem o de "herói da vida real" de uma fundação alemã.

No entanto, o rapaz de 26 anos ganhou todos esses prêmios, ficando famoso graças simplesmente ao boca a boca. É quase impossível achar um taxista em Yangon que não elogie a habilidade do sargento em dirigir o tráfego até na pior das tempestades e no calor de rachar.

"Nós adoraaaamos ele. Não há ninguém igual", grita U Nay Win Hlaing, um motorista de táxi de 37 anos.

O surgimento dos congestionamentos monstros talvez seja o sinal mais evidente de que, depois de cinco décadas de um regime militar de clausura, Mianmar finalmente se abriu para o mundo: em apenas três anos, o número de carros registrados dobrou, chegando a 400 mil.

Os homens uniformizados ainda são, no geral, temidos e desprezados em Mianmar, mas o sargento Khin Myint Maung conquistou o coração de legiões de motoristas, que vivam mal-humorados, mas que hoje descem o vidro para lhe entregar garrafas de água gelada e guloseimas. Há quem lhe dê dinheiro, gesto que é considerado mostra de gratidão.

A popularidade do oficial não é um voto de confiança na polícia de trânsito, famosa por irritar os motoristas, nem é aprovação do novo governo, composto, na grande maioria, por remanescentes do regime militar; seus fãs explicam que, no reconhecimento, também está a crítica implícita ao resto da corporação e à burocracia.

"Nunca antes a gente pôde contar que um funcionário público fizesse seu trabalho direito; e aqui temos um verdadeiro exemplo de profissionalismo", diz o colunista U Pe Myint.

Há cinco anos, a maior parte dos carros era tão velha e dilapidada que o trânsito do centro parecia um ferro-velho ambulante; banheiras de 40 anos despejavam óleo no asfalto e, nos dias de chuva, os passageiros tinham que tapar os buracos do piso dos táxis com os pés para evitar que o carro fosse inundado.

Até que, três anos atrás, o governo suspendeu as restrições à importação de veículos e nasceu a cultura do carro. O próprio sargento hoje dirige, para trabalhar, um utilitário que parece largo demais para as ruas de Rangum.

Ele recebe um salário equivalente a US$150/mês, o que pode lhe render um carro semelhante no fim da carreira – se economizar cada centavo. O terceiro de cinco filhos de uma família de plantadores de arroz, ele não demonstra nenhum ressentimento aos ricaços que vê na rua – só uma dose de fatalismo budista.

"Os ricos são ricos porque fizeram muitas coisas boas nas vidas passadas. Cada um tem seu lugar", afirma.

Quando recebeu o prêmio do jornal, em 2012, teve que subir ao palco do salão enorme de um hotel. "Ele simplesmente disse ‘Obrigado’. E sorriu, é claro", conta Daw Nyein Nyein Naing, editor executivo do 7 Day News Journal, que lhe entregou a honraria.

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