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O governo indiano quer transformar Kala Ghoda, um dos bairros mais antigos de Mumbai, em “centro cultural” | Kuni Takahashi para The New York Times
O governo indiano quer transformar Kala Ghoda, um dos bairros mais antigos de Mumbai, em “centro cultural”| Foto: Kuni Takahashi para The New York Times

Foi uma proposta ousada: em uma tentativa de aquecer o turismo, o novo governo federal indiano criou um plano de transformar parte de um dos bairros mais antigos e charmosos de Mumbai em um "centro cultural". A inspiração: Times Square, em Nova York.

A renovação de Kala Ghoda, que significa "cavalo negro" em hindu, inclui um telão enorme e uma bandeira nacional de quase cinco metros hasteada sobre o labirinto de prédios centenários da área.

E os turistas vão poder tirar selfies com personagens de desenho animado.

"Teremos um parque de diversões, malabaristas. Vai ser uma sensação. E dará o que falar", afirma Valsa Nair Singh, da Corporação de Desenvolvimento e Turismo de Maharashtra, que trabalha com o Ministério do Turismo.

A proposta é perfeita em termos econômicos – afinal, o turismo figura como destaque nos planos de reaquecimento do governo; conseguir que os executivos em viagem a Mumbai passem uma noite a mais na cidade daria um impulso no setor de luxo, que anda mal das pernas. Só em 2013, mais de 4 milhões de turistas visitaram Mumbai e outros locais no estado de Maharashtra, o maior volume do país.

Já o pessoal local, porém, não está exatamente empolgado com a ideia, que talvez nem tenha base legal. Grupos de preservação e associações de moradores criticaram o projeto, principalmente em termos de poluição sonora e falta de espaço para estacionamento.

"Esse modelo de Times Square é inviável. É a primeira vez que o governo expressa qualquer interesse em nos ajudar a desenvolver Kala Ghoda; agradecemos a iniciativa, mas tivemos que dizer que não dá para realizar essa ideia num bairro histórico em que a Lei do Silêncio é reforçada", explica Maneck Davar, da Associação de Kala Ghoda, ONG que desenvolve projetos de preservação cultural.

No início dos anos 2000, a Suprema Corte aprovou uma lei que proíbe as construções em bairros históricos que perturbariam o silêncio ao redor de instituições judiciais, religiosas e educacionais como o Supremo Tribunal, a sinagoga Knesset Eliyahoo e Elphinstone College, todos da época colonial.

No entanto, Anand Kumar, ex-secretário adjunto do Ministério do Turismo, disse que faz sentido investir em áreas de patrimônio histórico porque criaria bolsões turísticos compactos onde já há hotéis e restaurantes instalados.

E afirma também que seu setor pretende transmitir uma ideia de ambição e que "todos sabem que Times Square é o centro do mundo".

Para Santosh Desai, jornalista que assina uma coluna sobre a cultura de consumo na Índia, a proposta é uma tentativa de reforçar a presença do país no mapa mundial.

"Todo mundo aqui tem muita vontade de poder dizer: ‘Olha a gente aqui!’, ou ‘Estamos à altura de vocês’", afirma. Maneck Davar aposta que o sentido de preservação será mais forte. "Se você descobre uma pintura na parede de uma caverna, não vai apagar e pintar outra coisa por cima", compara.

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