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Eleições estão ageEleições para Câmara e Senado estão agendadas para início de fevereirondadas para o início de fevereiro
Brasília. Imagem ilustrativa.| Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Há alguns dias li algo que pode perfeitamente ser adaptado ao Brasil. Trata-se do motivo pelo qual não se coloca os Dez Mandamentos nas sedes políticas da nação. Afinal, causaria tremendo rebuliço escrever nos prédios públicos: “não roubarás”, “não cometerás adultério” e, principalmente, “não darás falso testemunho”. Imagine estas normas em locais cheios de políticos, juízes e advogados!

Ironias à parte, este artigo se baseia no que escreveu Evan Andrews em 2014, e que é – infelizmente – atual para o Brasil. Andrews analisava os motivos para a derrocada de Roma, o maior império da Antiguidade, que abarcava toda a Europa, a Ásia, todo o Norte da África e o Oriente Médio sob jugo romano. Lembremo-nos de que o fim da hegemonia romana se deu quando o sistema imperial provou ser incapaz de manter a paz e a ordem internas, e Roma não podia mais manter aquelas instituições e políticas das quais dependiam a unidade, segurança e prosperidade das terras mediterrâneas.

Isto lembra, por acaso, o Brasil de 2021? A paz e a ordem internas vão se dilacerando com antagonismos incríveis entre governadores e governo central; a segurança interna é discutível, com medo presente entre todos os cidadãos, o desemprego e a quebra de empresas corroendo a prosperidade dos cidadãos.

Andrews menciona diversas razões, mas me aterei a poucas delas, muito importantes para serem ignoradas. A vastidão do Império Romano gerava dificuldades de comunicação, apesar de excelentes estradas e meios de contato. O Brasil tem imensidão geográfica (somos o quinto maior país do mundo) e não deveria haver problemas de comunicação – temos bom sistema telefônico, internet, comunicações terrestres e aéreas e, principalmente, uma só língua. E ainda assim temos uma dificuldade imensa de comunicação, função de diferenças ideológicas e de confrontos de personalidade.

A falta de entendimento entre a presidência e certos governadores, e entre estes e prefeitos, cria uma balbúrdia de comunicação e, consequentemente, de tomada de decisões, que acabam sendo postergadas ou tomadas mais em função de posição política do que em função das necessidades da população – o que leva ao desperdício de recursos financeiros, humanos e materiais.

Um outro fator comum entre a derrocada de Roma e os riscos atuais no Brasil é a crescente corrupção. Lideranças ineficientes e inconsistentes, somadas à corrupção endêmica, formam uma perigosa sopa. O Brasil tem importantes políticos presos ou aguardando prisão. Recentemente tivemos na cadeia, condenados ou indiciados ex-presidentes da nação, ex-presidentes da Câmara dos Deputados e ex-presidentes do Senado. A podridão nos altos escalões políticos faz com que um sem-número de senadores, deputados federais, governadores, prefeitos e membros do Judiciário sejam investigados em casos de fraudes, desvios, subornos e todo tipo de crime de corrupção. A ineficiência e a leniência do Judiciário, infelizmente, não coíbem estas ocorrências, pois o acusado pode ser julgado e recorrer a inúmeras instâncias em processos longos, cheios de recursos e “pedidos de vistas” que quase funcionam como garantia de impunidade, estimulando a continuidade deste perverso sistema.

Há mais um fator que não pode ser desprezado: o baixo nível educacional da população. Tomemos o exemplo da engenharia. Em 2010 o Brasil registrou 184 patentes de tecnologia. No mesmo ano, a Rússia registrou 5.698; o Japão, 7.334; os EUA registraram 11.905; e a China, 60.908. Infelizmente, em 2020 estes números nos colocaram ainda mais distantes dos países líderes. Esta defasagem se dá em muitas outras áreas, o que talvez explique a baixa produtividade nacional. Um trabalhador norte-americano produzia quatro vezes mais que um brasileiro em 2018. Em 2019 (último dado disponível), a produtividade do brasileiro caiu 1% enquanto nos EUA subiu 1,7%. E não estamos comparando com a Coreia do Sul ou a China...

A mudança das crenças e valores romanos foi outro fator importante para a queda daquele império. E em nossa sociedade, o que ocorre? Os valores familiares atacados diuturnamente na televisão e no cinema, as músicas de duplo sentido incentivando rompimento com valores tradicionais, a quebra do respeito aos pais, a “deusificação” da juventude e o abandono do conhecimento e experiência dos mais velhos vão criando uma ruptura pela qual já estamos pagando, mas pagaremos muito mais em poucos anos. Aliado a isso, vemos a difusão das drogas e a defesa da liberação das mesmas sem preocupação alguma com a capacidade dos sistemas de saúde para enfrentar as consequências inevitáveis de agravamento da saúde física e mental, bem como do incremento de absenteísmo laboral, rompimentos familiares e queda de renda entre os dependentes químicos.

Para terminar, há de se lembrar que Roma sofreu com o desengajamento da juventude sadia em seu exército. Jovens deixaram de ver a necessidade de lutar e defender seu país. No Brasil isto se verifica tanto na área política como educacional. A potência das nações já não se mede por sua força militar, mas por seu sistema educacional e sua liderança política. Infelizmente o Brasil há muito não atrai sua juventude para estas áreas cruciais.

Sim, ainda há tempo para mudanças. Mas elas precisam se iniciar o quanto antes. Talvez ainda hoje – para que não seja tarde.

Marcos L. Susskind é ativista comunitário, palestrante e guia de turismo em Israel.

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