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Fazuelli
O Fazuelli incorrigível que conheço é esse aí. E, pelo estilo das casas lá atrás, deve ser vizinho do Constantino.| Foto: Paulo Polzonoff Jr. com IA

Não sei quem foi o Fazuelli que o Constantino entrevistou. Mas certamente não foi o mesmo que eu. Terá sido o Fernando? O Diogo? O João? Ou será que foi o Mário – aquele que fez o L porque era otário e esperava uma melhora no déficit primário? Seja lá quem for, o fato é que fui tirar a limpo essa história de “arrependimento tímido” do Fazuelli e acabei aprendendo uma dura lição de lulopetismo irredutível e, portanto, imune a qualquer arrependimento.

A começar por aquela que muitos consideram o calcanhar de Aquiles de Lula para os próximos anos: a economia. Quer ver? “Ô, Fazuelli, meu consagrado! Faz favor. Vem cá e dá uma palavrinha pra gente. O que você está achando da economia brasileira neste primeiro ano do governo Lula 3?”, perguntei. E, juro, ele não levou nem um nanossegundo (cronometrado!) para responder: “Herança maldita!”.

Adianta mostrar os números? Não. Para o Fazuelli incorrigível, a fuga de capitais é um complô da extrema direita ultracapitalista fascista negacionista terraplanista para tirar Lula do poder. Sobre o PIB em queda, a culpa recai sobre Roberto Campos Neto, que insiste em não diminuir os juros. “Com o Mercadante no BNDES, o Pochmann no IBGE e a Petrobras cumprindo sua função social tudo vai melhorar”, diz o Fazuelli. Porque ele acredita.

Aliás, é impressionante como absolutamente tudo o que vemos como derrotas o Fazuelli vê como prova de que o voto em Lula foi o maior acerto de sua vida. E aqui aproveito para um aviso um tanto quanto tardio: você provavelmente passará muita raiva com esta crônica. Porque, com alguma sorte, perceberá que não há nenhuma convergência entre os valores do Fazuelli e os nossos. Somos como água e óleo – e isso é extremamente preocupante para o país.

Perdeu, mané!

Dá só uma olhada, por exemplo, no que acontece quando menciono as muitas e caras viagens internacionais do Lula. “O Brasil voltou! O respeito voltou! Lula está viajando o mundo para atrair investimentos”, diz o Fazuelli. E os gastos no cartão corporativo? Os lençóis de luxo? – insisto. “Lula e Janja merecem!”. E aquele voo da Anielli para assistir ao jogo do Flamengo? – tento. “Racista!”. E a liberação recorde de emendas? "Governabilidade!". A esta altura, muito me admira que o Fazuelli não tenha mencionado as tais das joias sauditas. Deve ter esquecido, coitado.

Não adianta. O Fazuelli tem a resposta para tudo na ponta da língua. Mas fazê-lo se arrepender, nem que seja um pouquinhoinho, é uma questão de honra. “E o apoio do Lula a Maduro e Putin? A aproximação com Irã e China? E a defesa que o Lula faz dos assassinos e estupradores do Hamas?”. A tudo Fazuelli ouve impávido. Até que, em câmera lenta, ele abre um sorriso cínico para me responder que “a democracia é relativa. Quando um não quer dois não brigam. A reação de Israel é mais grave do que o que o Hamas fez. (...) Mas você não está preparado para essa conversa”.

Não estou mesmo. E por isso tento mudar o rumo da prosa. E que tal se, para desespero da minha mulher, a gente falasse da relação pra lá de harmoniosa entre Lula e o STF? Fazuelli parece capaz de ouvir meus pensamentos, porque antes mesmo de eu abrir a boca ele diz que “a democracia só resiste no Brasil graças a heróis como Alexandre de Moraes, que prendeu os terroristas do 8/1. O Barroso derrotou o bolsonarismo. Gilmar Mendes derrotou o fascismo da Lava Jato. Fake news é crime. Ih-nelegível! Ih-nelegível!...”. Sei que já estou derrotado, mas, como num faroeste, encho os pulmões para, num último suspiro, falar de Flávio Dino. Só que Fazuelli é mais rápido e me dá um tiro de misericórdia: “Gordofobia!”.

E ficamos nessa por algum tempo. Para tudo Fazuelli tinha uma resposta que era ou um slogan ou um clichê ou uma sandice. Às vezes as três coisas ao mesmo tempo. Até que parei de prestar atenção ao que ele dizia e, por um instante, fiquei pensando na facilidade com que muita gente troca o certo pelo conveniente. No prazer que muita gente sente em mentir para si mesmo e em arranjar justificativas as mais estapafúrdias para suas escolhas político-ideológicas.

Perdido nessas reflexões, não vi que Fazuelli já se afastava. Sem conseguir perguntar se ele conhecia o Fazuelli tucano que o Constantino entrevistou, me apressei em gritar um agradecimento. Em troca, ouvi isso que, apesar de não ser verdade, é sem dúvida o melhor modo de terminar esta crônica: “Perdeu, mané! Não amola”.

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